Em um processo seletivo, um dos gestores da empresa gostou de determinado
candidato. Não graças às suas competências técnicas ou comportamentais, mas
devido a algum motivo que talvez ele próprio desconheça. Nada mais.
Imediatamente, tratou de convencer o pessoal do departamento de Recursos Humanos
a contratá-lo. Então alguém disse: "Mas outro candidato se saiu melhor nos
testes!". O gestor não quis saber, já havia tomado uma decisão.
A história ilustra um dos erros mais comuns na contratação, de acordo com a
gerente de Desenvolvimento Organizacional da Luandre, Flávia Garbo.
"É o mesmo tipo de erro que pode acontecer quando se contrata alguém por
indicação. Os testes do RH são importantes, porque servem de filtro. Antes de
preencher uma vaga, é importante detalhar o que a empresa espera no novo
funcionário, descobrir quais competências técnicas e comportamentais são
necessárias à função, e se o candidato possui valores e crenças alinhados à
cultura organizacional", afirma.
Mas, dificilmente, todos os cuidados são levados a sério. "O que determinados
gestores não enxergam, entretanto, é que eles próprios terão de lidar com os
problemas que esse funcionário trará futuramente", alerta Flávia.
O que explica a empatia?
Em processos seletivos, profissionais de RH tentam detectar falta de
conhecimento do português, de uma visão mais abrangente, falhas comportamentais
que podem trazer problemas à empresa, nível de conhecimento do inglês... Mas
nada disso traz resultados se imperar a vontade do gestor que passa por cima de
pré-requisitos da vaga.
O leitor pode estar se questionando: "Mas a empatia não é fundamental?". Flávia
admite que é importante. Não adianta contratar um profissional que não inspirou
confiança, por exemplo. Porém, é vital avaliar a origem da empatia. "Questões
psicológicas do contratante afetam todo o processo seletivo", explica.
De repente, um candidato é descartado simplesmente porque lembra alguém de quem
o gestor não gosta ou um ex-colega que lhe pareceu incompetente. Em outra
ocasião, pode ser que, sem querer, não contrate um profissional muito talentoso.
De forma inconsciente, e por insegurança, ele teme perder seu posto de líder. "O
gestor inseguro pode associar o candidato talentoso a um futuro rival".
São sutilezas, detalhes de projeção inconsciente, que mudam todo o curso da
contratação. A empatia pode explicar também por que profissionais gabaritados e
competentes se deparam com dificuldades na busca por um emprego. Alguns
simplesmente não têm carisma. E se alguém perguntar para o recrutador por que
não optou por este ou aquele candidato, ele poderá responder: "Sei lá, não
gostei".
Redes sociais induzem ao erro
Flávia diz que não se utiliza de redes sociais em processos seletivos, e nem
recomenda que se faça isso. O principal motivo é que determinadas redes têm
caráter muito pessoal, porque trazem fotos, imagens, comunidades, gostos e
preferências. Para ela, até mesmo o Twitter tem esse caráter. E essas
informações confundem o contratante.
Por exemplo, o recrutador vê na rede uma foto do candidato parecendo embriagado
em uma festa e, inconscientemente, associa a imagem à falta de responsabilidade.
Pode ser um erro de julgamento, porque não significa que a pessoa seja
irresponsável no trabalho, ou que lhe falte seriedade e maturidade. Outro
exemplo: o candidato pertence à comunidade "Adoro dormir". O recrutador já
imagina que ele é preguiçoso e que irá faltar ou chegar atrasado. Porém, o
profissional pode, na verdade, ser obediente a regras.
O fato é que, como já diz o ditado, "quem vê cara não vê coração". As redes
sociais, portanto, constituem verdadeira armadilha. Não só na vida profissional,
mas também na pessoal, as consequências de pré-julgar podem ser frustrantes.