"Aos que me podem ouvir eu digo: Não desespereis! A desgraça que tem caído
sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura dos
homens que temem o avanço humano."; "Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes a vida será de violência e tudo será perdido."; "O sol vai
rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos
entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da
cobiça, do ódio e da brutalidade". Trechos do texto "O Último Discurso", de
Charles Chaplin.
Que homem incrível este Sr. Chaplin. Presenteou-nos com uma obra, que escrita
por volta dos anos quarenta, permanece tão atual nos dias de hoje. Estamos
vivendo um momento de pavorosa crise econômico-financeira, sem esquecermos que
já vivemos há muito tempo uma profunda crise social. E isso pode ser facilmente
constatado, por exemplo, na enorme desigualdade social e crescimento alarmante
da violência. Sem falar em corrupções, notícias sobre pedofilia, desagregação
familiar, entre outras.
Isso é fato ou alguém ainda tem alguma dúvida? Até pouco tempo tínhamos a
ilusória sensação de que era algo muito distante, que isso pertencia aos outros
e que talvez nem chegasse até nosso quintal. É como aquela velha estória de não
querermos perceber o que ocorre dentro de nossa casa ou com os nossos filhos,
porque isso ou aquilo acontece somente na casa do vizinho.
Hoje estamos sendo atropelados por uma tormenta que bate à nossa porta
insistentemente, e, por mais que não queiramos abri-la, não podemos continuar a
ignorar esta realidade.
Precisamos entender que boa parte do que vivemos atualmente é
responsabilidade nossa. É bom lembrar que o que colhemos é fruto do que
semeamos. É o HOMEM o grande responsável pelo avanço tecnológico, que, diga-se
de passagem, nos traz muitos benefícios. A contrapartida disso é que também traz
alguns resultados negativos. Todo esse "desenvolvimento" tem levado cada vez
mais as pessoas para um individualismo exagerado; que o que impera é vencer a
qualquer preço, não se importando com o que aconteça com o outro ou com os
reflexos à sua volta.
O que podemos e temos o dever é de reagirmos a tudo isso, com fé e
perseverança, de maneira a contribuir com a parte que nos cabe. Mas com tantas
dificuldades e esse caos generalizado que vivemos, isso é possível?
Arrisco afirmar que sim, mesmo correndo o risco de ser chamada de sonhadora,
fora da realidade, "poliana" e outros rótulos mais, que facilmente nos vem à
mente. Acredito que um primeiro passo seja rever nossos valores e atitudes
diante todo esse cenário. E para que isso seja possível, é necessário,
inclusive, nos deixar afetar por todos esses acontecimentos.
Fazermos uma revisão séria e sincera de nossos papéis na sociedade, e a
partir daí praticar no cotidiano pequenas-grandes ações para formação de seres
humanos mais sensíveis, menos individualistas, e consequentemente a construção
de uma sociedade melhor e mais justa. Será que precisamos realmente adquirir,
comprar tudo o que a mídia nos empurra e faz acreditar que necessitamos?
Vivemos um momento propício para revermos certos valores, vasculharmos nossos
"eus" mais íntimos e nos fortalecermos nessa caminhada. E este caminho é
possível de ser trilhado, devendo ser alinhavado e costurado sem esquecermos
sentimentos como a amizade e a ternura, até porque, com o afeto nasce também a
compaixão - do latim compassione -, que é o desejo de ajudar a aliviar
ou diminuir o sofrimento do outro.
Estamos passando por um período que precisamos sim economizar, cortar
supérfluos, mas não precisamos economizar no AMOR; amor a Deus,
independentemente de credo ou religião, e amor ao próximo. Diante de tantas
dificuldades, essa é uma escolha que podemos fazer e sem necessariamente
possuirmos uma gorda conta bancária.
Ufa! Ainda bem que temos essa possibilidade. Ou não temos? Eu, até que me
provem o contrário, acredito que podemos ser autores e atores da construção de
um mundo melhor e mais justo.