O self service matou o garçom assim como "a televisão matou a
janela". É verdade! A afirmação sobre a televisão foi proferida pelo gênio
Nelson Rodrigues e se tornou inesquecível em minha mente na montagem da Oficina
dos Menestréis nos anos 90.
Fico imaginando como eram os tempos antes da invenção das telinhas - da TV e
do computador. Imagino as pessoas interagindo nas portas de suas casas,
dividindo espaços, receitas, "causos", experiências, conquistas, entre outras.
Eu mesmo vivenciei épocas em que a falta de energia elétrica era quase
semanal, onde morava, em São Paulo. E o "apagão" era festejado muito mais
intensamente do que se comemora atualmente um gol da seleção brasileira; um
golaço do Daniel Alves ou do Josué. Ao menor sinal da falta de luz, saíamos às
ruas, vibrantes, cheios de energia, inventando brincadeiras ou simplesmente
gritando.
Tudo isso era realizado junto de nossos pais, que também aproveitavam para
curtir o ainda céu estrelado da época. Quando cansávamos das brincadeiras,
simplesmente sentávamos na rua, ouvindo alguma história e fazendo a imaginação
fluir. Eram momentos mágicos onde a reflexão corria solta. O retorno da energia
elétrica traduzia-se em tristeza, volta da rotina, do mundo óbvio e previsível.
Em uma recente reflexão, após vários momentos de maus atendimentos em minha
vida, posso afirmar com veemência: O self service matou o garçom. O
mundo corre muito mais rápido que antigamente e, raramente, nos damos o
privilégio de sentarmos para um almoço consultivo. Confesso que não suporto
levantar-me para compartilhar as mesmas colheres, garfos e pegadores que
dezenas, às vezes centenas, de pessoas utilizam para servirem seus pratos.
Almoço consultivo é aquele em que um especialista em temperos, formas de
preparo, com requintado paladar e educação, planta-se ao lado do cliente para
sugerir, induzir e, porque não dizer, fantasiar na imaginação do cliente o prato
que o mesmo irá saborear. Esse profissional, quando extremamente capacitado e
competente, no passado era disputado pelos restaurantes nas grandes capitais e
em centros turísticos. Ele era o verdadeiro garçom.
A vida moderna, os restaurantes rapidinhos e outros fatores transformaram
tais profissionais, em sua grande maioria, em simples carregadores de bandejas
de bebidas e cestas de pães. Alguns nem a conta trazem mais. Atrelados a isso e,
com elevada dose de característica pertinente a seres humanos, boa parte dos
garçons acomodou-se e acabou perdendo valor. Deixou de ser consultivo,
informativo, para ser somente operacional e superficial, principalmente nas
últimas gerações de profissionais.
Faço aqui uma observação relevante: como está a carreira que você está
atuando? Como está o posicionamento da mesma no mercado? Será que ela já teve
glamour e importância, e hoje está renegada a uma posição secundária?
Mais importante que isso: como está sua atitude em sua própria carreira? Você
se destaca por algum motivo ou está na manada de iguais? Lembre-se: o mundo lhe
induz a pensar quadrado e se você projetar seu pensamento além dos limites trará
diferenciação e um bom problema para seu líder - "o que fazer com alguém tão
bom?". Ouse!