Passaram-se horas, e a tarefa planejada continua pendente. A caixa de entrada
do correio eletrônico permanece repleta de mensagens. Das atividades previstas
para o dia, boa parte se mantém sem conclusão.
Essas não são cenas isoladas. Especialistas afirmam que elas fazem parte do
cotidiano de muitos profissionais.
"A carga de trabalho aumentou. Atualmente, as pessoas estão acumulando funções,
têm mais tarefas", sinaliza Mariá Giuliese, diretora-executiva da consultoria
Lens & Minarelli.
"[O gerenciamento ineficaz do tempo] é um problema geral. Hoje, há muitos
recursos, como e-mail e celular, que roubam a atenção do profissional", diz
Grace Pedreira, diretora da Grace & Co. Executive Search.
"Há um volume maior de informação, o que pode gerar dificuldade na priorização
de afazeres", destaca Adriana Fellipelli, diretora da consultoria Right
Management.
O problema em não saber organizar adequadamente o tempo, dizem consultores, não
é trabalhar até mais tarde uma vez ou outra, mas permitir que essa situação se
estenda.
Nesse caso, começa uma reação em cadeia. Por não dar conta do serviço, o
profissional tem de ficar mais tempo no emprego. Dessa forma, não consegue
estudar. No entanto, se não se mantém atualizado, a avaliação de desempenho
tende a ser pior. Para tentar compensar o "feedback" negativo, passa a ficar
mais tempo no trabalho.
Os efeitos negativos não estão restritos a esse colaborador. Mariá Giuliese
exemplifica tomando executivos como base: "Na ânsia de obter resultados e
pressionado pelos superiores, o profissional passa a trabalhar mais e a ter
dificuldade de priorizar. E, se não conclui os processos, pode comprometer os
resultados de toda a equipe".
Mudança coletiva
Ficar mais tempo no trabalho era uma rotina para o gestor de planejamento da
firma de telemarketing Atento, Sergius Fortuna, 28. O horário de entrada no
trabalho era sempre o mesmo, às 9h. No entanto, não havia o de saída. "Chegava a
ficar até as 22h no escritório."
No começo do ano, decidiu que já havia passado da hora de mudar seu dia-a-dia.
"Parecíamos bombeiros, apagando incêndios o dia inteiro", afirma.
Os conceitos aprendidos foram úteis não só para seu aprimoramento pessoal.
Foi convocado para montar uma equipe em uma unidade da empresa e adaptou as
orientações à realidade dos novos profissionais. "Calculei o tempo de execução
de tarefas e otimizei recursos."
Hoje, ele raramente sai após as 18h e contabiliza os resultados: "Minha
produtividade aumentou, comecei a fazer cursos de arte e de inglês e passo mais
tempo com a minha família".