Certo dia, enquanto brincava com um vaso valioso, um garotinho colocou a mão
dentro dele e não conseguiu tirá-la. Seu pai tentou ajudá-lo, mas não obteve
êxito. Eles já estavam pensando em quebrar o vaso, quando o pai disse: “Vamos,
meu filho, faça mais uma tentativa. Abra a mão, estique os dedos da maneira como
estou fazendo e puxe-a com força”.
Para sua surpresa, o garotinho disse: ”Não posso, papai. Se eu esticar os
dedos, minha moeda vai cair dentro do vaso”.
Essa história que envolve o apego de uma criança ao seu objeto de desejo é
perfeitamente adaptada aos adultos. Quem de nós não é apegado às pequenas coisas
do mundo a ponto de não aceitar a libertação? Apegamo-nos a casas, a cidades,
aos carros, aos móveis, ao dinheiro, ao emprego, à carreira, à rotina, à
família, aos amigos, a roupas, ao sapato, aos livros, entre outras coisas.
Acreditamos que isso está correto. Sentimos uma obrigação instintiva ao
apego. Pensamos que o que conquistamos é nosso de fato e de direito. Aí, tomamos
conta. Apoderamo-nos; defendemos com todas as forças.
Nas organizações encontramos profissionais inteligentes e altamente
capacitados, porém transformam facilmente competência em mesquinharia. Explico:
Sabe aquele colega que se apodera da sua própria idéia, impedindo que o grupo a
utilize e a transforme em solução? Lembra aquele departamento que insiste em
inflar o ego alegando que determinado projeto tem dono? Sabe aquele colaborador
que se apegou tanto à função que exerce que chega a adoecer com a possibilidade
de um remanejo entre setores? E aquela organização que julga sua vida útil
eterna, apegada a um jeito de funcionar e a uma estrutura arcaica?
Lembra aquele colega que está tão apegado ao seu mau humor que se recusa a
ouvir sugestões de melhoria? E o grupo de colaboradores apegado a um determinado
ritmo e, incapaz de abrir mão do conforto para buscar um novo estilo? Sabe
aquele planejamento estratégico elaborado e aprovado, mas que no decorrer do
tempo necessitaria de ajustes, mas que por apego à criação jamais acontecerá? Ao
considerar que todos nós somos apegados a alguma coisa ou situação, dentro ou
fora de uma organização, pergunto: quanto o meu nível de apego pode ser
considerado mesquinho?
Se for classificado como mesquinho, está na hora de uma atitude. A mesquinhez
altera o nosso grau de domínio. O domínio doentio não é exatamente a saída para
as organizações aprimorarem suas relações com o cliente interno nem o externo. O
colaborador que possui uma forte tendência ao apego interfere na fluidez das
informações e na elaboração e execução das estratégias.
Afinal, por conta do nosso domínio carnal e instintivo, fechamos portas e
janelas, estradas e trilhas. Ninguém entra e ninguém sai. Acredito na
importância de oferecer cursos e treinamentos aos colaboradores, para que todos
possam ter acesso a informações de ordem comportamental, além de disponibilizar
recursos no sentido de identificar e melhorar o nível de apego.
Reparem que estou usando o termo “nível de apego”, pois acredito que mudamos
significativamente o grau e a intensidade, mas dificilmente nos livramos dessa
antiga tendência. Um exemplo de nível saudável de apego é quando alguém exerce
um alto cargo na empresa e não se sente apegado. Os apegados normalmente são
capazes de qualquer loucura para manter, o que consideram, como sendo seu.
Quando conquistamos o desapego, evitamos a escravidão. Afinal, torna-se
insuportável mantermos em nossa vida aquilo que nos exige demais.
A energia vital que circula no universo recua quando nos apegamos. Fechar-se,
apegando-se é um ato de covardia. Soltar a pequena moeda que está dentro do
coração é um ato de rendição. Render-se, para que a vida possa exercer a sua
força.
Ao contrário do que muitos pensam, a vida tem a sua força e sua missão. Uma
das grandes tarefas da vida é nos encaminhar. Para isso, ela precisa que
estejamos o mais livre possível dos apegos comuns aos seres humanos.
O conflito aprisiona e impede o ciclo natural das águas. É como a represa:
nela, as águas são impedidas de seguir seu curso, pois alguém se apoderou da sua
liberdade. Muitas vezes a vida está esperando que nos desapeguemos de
determinado emprego, por exemplo, para nos acenar com uma nova oportunidade. No
entanto, quem de nós dá espaço a essa força invisível?
A maioria agarra-se ao que já tem. Infelizmente por conta desse apego
exagerado, muito pouco, poderá aproximar-se. Quando o espaço preenchido está
ocupado, não há lugar para o novo. Acumulamos objetos inúteis pensando que um
dia poderemos precisar. Guardamos raivas e ressentimentos como se fossem
troféus. A atitude de guardar potencializa a solidão e aumenta consideravelmente
as chances de um fracasso. Você atrai ou repele? Como está seu nível de apego?
Pense nisso.