No mundo do trabalho, comprometimento é palavra de ordem. Entre as
características mais desejadas pelas empresas está a atitude. Espera-se do dito
funcionário ideal que ele tome as rédeas dos projetos, viva intensamente o que
faz – sem ser passivo diante das situações.
Porém, muitos profissionais se sentem acuados com tanta pressão. E acreditam que
ficar quieto, sem ser notado, é a melhor alternativa para manter o emprego. Para
o psiquiatra Leonard Verea, treinador de equipes, palestrante e consultor de
empresas, o importante é saber distinguir entre uma atitude passiva e uma
atitude complementar: o relacionamento entre pessoas se sustenta somente na base
da complementaridade e jamais em função da competitividade. A competitividade
gera mal-entendidos, hostilidades e desserviços, explica.
A professora Marlene Theodoro, autora do livro A Era do Eu S.A., diz que
precisou entrevistar inúmeros profissionais, das mais diversas áreas e que
tiveram a chance de passar por momentos em que a decisão de se manter neutros ou
de atuar de maneira mais participativa poderia representar a continuidade ou não
da sua presença na empresa em que atuavam. Para ela, ficou evidente que ficar
alheio aos fatos que ocorrem na organização ou tomar a decisão de participar
ativamente, assumindo riscos e responsabilidade, dependerá da circunstância e
das necessidades em que o profissional estiver envolvido.
O consultor Tom Coelho concorda, acrescentando que tudo depende do perfil da
empresa. Se estivermos diante de uma companhia de caráter moderno, administrada
com base em preceitos como dinamismo, inovação, conectividade, ou seja, uma
empresa com propósitos voltados à satisfação de seus clientes, à busca da
qualidade total, com foco no resultado sustentado, porém com práticas éticas e
de responsabilidade social, certamente o profissional proativo, com capacidade
de assumir responsabilidades e responder por seus atos será priorizado, comenta
Coelho. Mas o consultor complementa: todavia, numa companhia de perfil
conservador, na qual as decisões não são compartilhadas e todo o gerenciamento
emana da cúpula, pode ser preferível um profissional acomodado, meramente
operacional, responsável apenas por suas atribuições mais imediatas, incapaz de
contestar o status quo.
O Dr. Verea complementa: nós precisamos tanto de protagonistas como de
figurantes, portanto ter alguns funcionários mais passivos pode ser uma situação
necessária para a empresa. Nem todos podem ser líderes.
Ciúmes
Uma das desvantagens em assumir responsabilidades e, conseqüentemente, tornar-se
líder, é o ciúme. Os pares, em diversos momentos, não lidam bem com o destaque
de seus colegas. O ciúme é sinal de insegurança dentro do ambiente empresarial,
eventualmente de incompetência, afirma o Dr. Verea.
De acordo com a professora Marlene, o ciúme é a emoção mais comum em nossa vida
e tem sua origem na admiração. A inveja surge principalmente entre os mais
próximos e considerados mais iguais. Assim, uma pessoa se sente humilhada,
diminuída, menosprezada, agredida, apenas pela comparação que faz de si mesma
com o outro, sem que ele tenha tido qualquer atitude para provocar esse
sentimento, diz Marlene.
Nos ambientes de alta competitividade, como no mercado de trabalho atual, a
inveja desponta mesmo e aí todos saem perdendo: o invejoso, porque na comparação
sabe que alguém consegue se projetar com mais competência; e o invejado, que
naturalmente sentirá na pele ironias finas, estocadas sutis e até manobras nem
sempre muito escrupulosas, enfatiza a professora.
Limites
Qual seria então, o limite entre a passividade e a atitude? O limite é o do
equilíbrio. E o equilíbrio está no caminho do meio. Deve-se ter iniciativa, mas
sem ser invasivo na mesma proporção que eventualmente a passividade é bem-vinda,
posto que há situações nas quais devemos apenas ouvir e aprender. Toda atitude
extremada é contraproducente, afirma Tom Coelho.
O Dr. Verea tem a mesma opinião. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre
atitudes e passividades; é preciso ser ágil e competente para contribuir com o
crescimento da empresa; é preciso que se assumam atitudes para que todos
entendam e respeitem as opiniões dos outros, estimulando a confiabilidade e a
credibilidade, argumenta.
Para a professora Marlene Theodoro, o limite está nas condições de vida e nas
aspirações que norteiam a carreira do profissional. Por exemplo, se a sua vida
particular exigir a preservação do seu emprego, porque ele contraiu dívidas, tem
uma família que depende muito do seu trabalho, sua necessidade de sobrevivência
pode produzir um medo que o pressiona a se resguardar e se manter à parte dos
movimentos políticos da vida corporativa. Por outro lado, se a situação
financeira estiver estabilizada, o que não é muito comum, a família não depender
tanto dos seus rendimentos financeiros, e ele estiver dentro de uma atividade
que permite rápida reintegração, seus princípios e aspirações pessoais poderão
ser considerados a partir de uma atuação mais participativa e até arriscada,
explica.
O mundo contemporâneo exige de nós um esforço que vai além da nossa atuação no
plano político, social, sexual; exige também que tenhamos visibilidade, sucesso;
cobra-nos um poder de nos recriarmos, de ultrapassarmos nossos limites, de
sermos únicos e genuínos, comenta a professora e autora de A Era do Eu S/A: esse
percurso não é fácil, é geralmente tortuoso e muitas vezes contraditório
alcançando o indivíduo em suas várias tentativas de manter o tênue equilíbrio
entre as freqüentes transformações econômicas e sociais, e de preservar, mesmo
que minimamente, a sua individualidade, finaliza.