“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso.”
(Delfim Netto)
Presentes e ceias de Natal e Ano Novo, seguidos pelo Carnaval. Por mais
controlado que você seja, é muito provável que tenha cometido excessos em seus
gastos.
Se você é assalariado, é fácil fechar as contas e saber o quanto comprometeu de
sua poupança ou renda futura. Por outro lado, se você é empresário, consultor,
profissional liberal, enfim, se exerce qualquer atividade com remuneração
variável, talvez esteja diante de um problema ainda maior, pois a Economia
esteve pouco aquecida nestes dois primeiros meses do ano.
Administrar finanças pessoais não difere muito de gerenciar o caixa de uma
empresa ou mesmo de um país. Mudam apenas a proporção e a complexidade. Você
precisa analisar dois conjuntos de contas: as receitas e as despesas.
O lado das receitas é normalmente meio engessado. Se você é assalariado, pode
buscar uma elevação de sua renda fazendo horas extras, evidentemente desde que
com a anuência da empresa. Uma alternativa consiste em realizar pequenos jobs,
ou seja, trabalhos autônomos para terceiros, a fim de reforçar o caixa.
Já o profissional com remuneração variável, ao mesmo tempo em que não dispõe da
segurança proporcionada por um salário no final do mês, tem à sua disposição a
possibilidade de, fazendo uso de sua habilidade e criatividade, gerar novos
negócios, buscar novos clientes, aumentar suas vendas.
Mas é no campo das despesas que este jogo acontece. E o segredo é relacionar
todas os gastos possíveis dividindo-os em categorias conforme ilustrado a
seguir:
- Grupo da Habitação: prestação da casa ou aluguel, IPTU, seguro
residencial, condomínio, água, energia elétrica, gás encanado ou de cozinha,
telefone fixo, manutenção da casa;
- Grupo da Saúde: assistência médica e odontológica, farmácia, academia
de esportes;
- Grupo da Alimentação: gastos com alimentação básica em geral, despesas
em supermercado (inclusive produtos de limpeza e higiene pessoal);
- Grupo da Educação: escola e material didático dos filhos, cursos,
seminários, congressos, livros técnicos ou não;
- Grupo do Transporte: prestação do carro, IPVA, seguro obrigatório,
seguro do veículo, combustível, multas, transporte coletivo, estacionamento
pago, manutenção do carro;
- Grupo da Cultura e Lazer: cinema, teatro, restaurantes, bares,
assinatura de revistas, TV a cabo, provedor de acesso à Internet;
- Grupo das Despesas Financeiras: tarifas bancárias, juros de cheque
especial e empréstimos, juros embutidos em financiamentos;
- Grupos dos Diversos: telefone celular, vestuário e acessórios, empregada
doméstica, previdência privada.
É muito provável que eu tenha me esquecido de contemplar algumas contas na
listagem acima. Mas os itens relacionados já são suficientes para demonstrar
como nos enganamos na administração de nossas despesas pessoais. Isso acontece
porque estamos habituados a considerar apenas aqueles gastos mais próximos e
palpáveis, negligenciando aqueles que têm que ser provisionados, ou seja, que
devem ser previstos porque eventualmente ocorrerão. Isso acontece, por exemplo,
com medicamentos, multas de trânsito e manutenção.
De todas as contas apresentadas, uma muito perniciosa merece atenção: juros e
tarifas bancárias. Isso porque você pode não perceber, mas desde o fim da
inflação inercial (aquela de 30% ao mês que chegou ao extremo de 3% ao dia nos
idos dos anos 80) os bancos passaram a cobrar por todo e qualquer serviço
prestado. Não é à toa que hoje as tarifas bancárias são suficientes para pagar,
com folga, toda a folha de salários da maioria dos bancos que atuam no Brasil.
Uma pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade (Anefac), realizada no ano de 2002 com 3.477 consumidores na
cidade de São Paulo, demonstrou que 29,83% da renda das famílias é destinada ao
pagamento de encargos financeiros. Este índice sobe para 35,43% no caso do
trabalhador de baixa renda (um a cinco salários mínimos).
Assim, diante deste quadro, algumas sugestões mostram-se pertinentes.
Primeiro, monte sua própria planilha de despesas de acordo com sua realidade.
Você poderá, por exemplo, chegar à conclusão de que não é o momento para
adquirir um carro ou trocar o modelo atual.
Segundo, analise quais gastos podem ser eliminados, substituídos ou reduzidos.
Sempre com os olhos voltados para sua receita, você pode concluir que certos
serviços precisam ser eliminados de sua cesta, evidentemente reduzindo seu
padrão de vida atual. Isso pode simbolizar o cancelamento da assinatura da TV a
cabo, uma visita a menos por mês a um restaurante ou o uso mais regrado do
telefone celular.
Terceiro, evite comprar por impulso ou através de financiamento com juros. Opte
por comprar à vista, quando for possível. Um exercício interessante é aguardar
uma semana para adquirir algum novo bem. Após este prazo, pergunte-se com
franqueza se ainda precisa daquele objeto.
Finalmente, ataque de frente e sem piedade suas despesas financeiras. Saia do
crédito rotativo do cartão de crédito. Cancele-o e busque um juizado de pequenas
causas para efetuar o pagamento do saldo devedor sem a incidência atroz de juros
que se aproximam de 15% ao mês. Faça o mesmo com seu cheque especial, negociando
seu parcelamento com taxa máxima de 3% ao mês.
Em suma, tome as rédeas de sua vida financeira e tenha na disciplina sua maior
aliada.