Ricardo Abellan Rosa é um publicitário paulista que tem 29 anos e sete
empresas no currículo. Em nenhuma ele parou mais de um ano, com exceção da
primeira agência, a JW Thompson, em que entrou como estagiário e ficou 18 meses.
De lá, passou por três outras agências - AlmapBBDO, Multisolution e A1 - e
também por uma empresa de soluções em marketing, a TV1. Numa delas chegou a
ficar menos de um mês, porque a conta que iria atender não foi efetivada.
Nas outras, não conseguia resistir à tentação de mudar. Era seduzido por um
salário mais alto, pelo nome da nova empresa ou pela perspectiva de ter mais
espaço para trabalhar. Há dois anos, cansado de zanzar de um lado para outro,
Ricardo decidiu abrir seu próprio negócio: uma agência de publicidade para
internet. Mas rapidamente concluiu que não teria o retorno financeiro esperado e
aceitou um convite para gerenciar o time de marketing da Equipo, empresa que
importa instrumentos musicais. No mês passado, completa um ano de casa e
acredita que finalmente está construindo uma relação duradoura com uma empresa.
'Minha trajetória profissional era horrorosa', confessa. 'Aprendi que dinheiro
não é tudo e que os problemas sempre vão existir, em qualquer organização. É
preciso aprender a contorná-los, e não evitá-los.'
Como Ricardo, tem muito profissional inquieto por aí. Diante de uma nova
oportunidade, muita gente não pensa duas vezes antes de largar o antigo emprego.
E termina arriscando toda a carreira ao dizer sim sem avaliar o peso que essas
trocas podem ter no currículo e no futuro profissional. 'Quem não consegue se
estabilizar demonstra falta de maturidade para enfrentar dificuldades', diz
Marcelo Braga, da Fesa Global Recruiters, consultoria especializada em
recrutamento de executivos, em São Paulo. 'Essas pessoas parecem não ter vontade
de vencer.'
Essa é a imagem que o profissional conhecido como 'pula-pula' passa para o
mercado. Ao se deparar com um currículo que mostra passagens curtas em diversas
empresas, muitos consultores descartam de cara o candidato. Até porque as
empresas estão cada vez mais exigentes quando o assunto é comprometimento e não
vêem com bons olhos quem não parece disposto a vestir a camisa da organização.
Os que conseguem passar pela primeira peneira precisam ter argumentos muito bons
para explicar tantos saltos. Ricardo passou por isso. 'Em agência de publicidade
é até permitido trocar bastante de emprego, mas em outras organizações isso foi
um empecilho', diz ele, que tentou algumas vezes migrar para grandes empresas,
em outras áreas. 'Sempre me questionavam por que eu tinha mudado tanto de
emprego. Aí, percebi que não sabia dizer nem qual era minha especialidade, pois
não tive tempo de focar em alguma coisa.'
Fechando o ciclo
Esse é o principal problema de quem não consegue esquentar a cadeira: falta de
experiência. Além de passar a imagem de imaturo, ansioso ou difícil de lidar,
esse profissional não consegue falar de conquistas, projetos ou grandes feitos.
'O executivo demora geralmente um ano e meio para entregar resultados', diz
Karin Parodi, da Career Center, empresa de aconselhamento de carreira, em São
Paulo. 'Em menos de um ano, ele não consegue nem ter histórias para contar nas
entrevistas. Isto é péssimo.'
Segundo os especialistas, não há um tempo ideal para ficar numa empresa. Tudo
depende do crescimento profissional, do nível de desafio e da satisfação
pessoal. Para Sérgio Averbach, diretor regional da Korn/Ferry para a América do
Sul, um período bem-visto pelo mercado varia entre três e cinco anos. Já o
headhunter Günter Keseberg, sócio da consultoria Kienbaum, diz que você pode
ficar de três a dez anos na mesma organização. 'Em menos de três anos, não dá
para mostrar serviço. Em mais de dez, o profissional começa a se acomodar. A não
ser que esteja numa empresa que dê muito estímulo e o faça crescer. Aí, ele pode
se aposentar lá sem se preocupar.'
Para quem passou por muitas empresas num curto espaço de tempo e já está com
vontade de mudar de novo, o conselho dos consultores é um só: fique onde está!
'Às vezes, é melhor comprometer o curto prazo e trabalhar um pouco insatisfeito
do que prejudicar ainda mais a carreira no longo prazo', diz Marcelo Braga, da
Fesa. Neste caso, é fundamental fazer uma auto-avaliação da carreira e buscar
respostas para suas aspirações profissionais. O resultado geralmente compensa.
'Pela primeira vez, estou conseguindo ver o todo do negócio e o resultado do meu
trabalho. Isto é fantástico', diz Ricardo.
Pare e pense
Se você é um profissional 'pula-pula', veja os conselhos dos consultores:
- Avalie sua carreira e responda: 'Onde quero estar em cinco anos? Quais
as minhas necessidades?'
- Explore novas áreas na empresa. Converse com seu chefe ou com o
executivo de RH e vá atrás de oportunidades diferentes.
- Se você estiver fora do mercado e tiver uma reserva financeira, faça uma
especialização. Pode ser melhor do que entrar numa nova empresa só para
preencher o tempo.
- Se estiver procurando emprego, deixe claro no seu currículo algumas
realizações anteriores. Isso pode melhorar sua imagem. E esteja preparado
para explicar todas as passagens que fez.