Em empresas, transparência tem esse nome porque a boa relação é como um vidro
plano: permite enxergar de ambos os lados. A direção sabe o que se passa na
cabeça dos funcionários e os funcionários sabem quais são os planos da direção.
Transparência é uma questão de ética e de compromisso com a verdade. Quando eu
tinha meus 20 e poucos anos, trabalhava em uma empresa e estava mais ou menos
feliz nela. Mais ou menos, porque a felicidade absoluta não existe no mercado de
trabalho. Mas eu estava mais feliz que infeliz. Um dia, me ligou um headhunter.
E e perguntou se eu estaria interessado em participar de um processo de seleção
em outra empresa. Como todo headhunter, ele não precisou de mais que cinco
minutos para me convencer de que aquela era a grande chance de minha carreira.
Além disso, ele me disse, seria apenas um primeiro contato, um bate-papo sem
maiores compromissos.
Como não tinha nada a perder, fui. Fiquei impressionado com a empresa, com o
gerente, com o cafezinho e com o ambiente tranqüilo. E concordei em continuar no
processo. Aí, no caminho de volta, me bateu aquela dor na consciência. Estaria
eu traindo a confiança de minha empresa atual? Deveria chegar e, imediatamente,
relatar o que tinha acontecido? Sem dúvida. Afinal, o que é certo é certo. Mas,
e se fizesse isso e a empresa reagisse mal? E, talvez, até me despedisse? Aí,
eu, que tinha um emprego na mão e um voando, correria o risco de ficar de mãos
abanando.
Assim, dividido entre ser correto e o risco de ser correto, cheguei. E fiquei
sabendo que 15 colegas haviam sido dispensados naquela manhã. Uma simples medida
de redução de custos, que não tinha nada a ver com o desempenho dos demitidos.
Perguntei a meu chefe se não teria sido possível alertar os funcionários de que
os cortes estavam para acontecer. E meu chefe me perguntou se eu estava louco.
Essas coisas, ele disse, tinham de ser feitas sem contemplação, e o mais
rapidamente possível, para evitar complicações. Mesmo assim, contei para ele
sobre a entrevista, e informei que pretendia continuar no processo. A partir
daí, vivi os piores 30 dias de minha vida profissional. A empresa decidiu pela
contratação de meu substituto, o que significava que, se não conseguisse o novo
emprego, seria dispensado. Mas tudo era um jogo de cena para que eu desistisse.
Só quando pedi a conta é que fiquei sabendo da verdade.
Aí, respirei aliviado. Eu tinha sido transparente, embora a empresa tivesse sido
opaca. E foi a última vez que fiz isso. E não recomendo que alguém o faça.
Transparência continua sendo algo louvável, mas só funciona se for uma avenida
de mão dupla. Transparência unilateral é ingenuidade. No plano espiritual, é
dando que se recebe. No plano corporativo, o exemplo vem do alto. É recebendo
que se retribui.