É difícil encontrar alguém que esteja totalmente satisfeito com o próprio
salário. Seis em cada dez executivos neste momento acham que sua remuneração
está apenas na média do mercado. Mas qual o melhor jeito de pedir aumento para o
chefe sem parecer apenas uma reclamação?
Como qualquer outra negociação, discutir salário requer alguns cuidados e
artimanhas. É preciso primeiro conhecer o temperamento do seu chefe. Analisar o
quanto sutil ou direto você precisa ser. Um jeito novo e eficiente é deixar
muito claro quais os benefícios que um aumento vai proporcionar para a empresa.
Esqueça o passado. Os resultados já alcançados não são bons argumentos nessa
hora porque pode parecer que você não tem mais desafios profissionais pela
frente. Essa pegada não funciona mais, embora ainda tenha gente partindo disso
para arrancar um extra.
Projetar sua importância futura foi a estratégia usada pelo administrador
mineiro Fernando Lúcio da Silva Júnior, de 28 anos. Até o ano passado, ele
morava em Uberlândia, Minas Gerais, e trabalhava como consultor de franquias na
área de varejo da Oi, operadora de celular. Com a criação de uma nova área,
meio-de-campo entre os setores da técnica e de vendas, Fernando se ofereceu para
intermediar o relacionamento entre os dois departamentos e tornar a linguagem
mais clara entre eles. Negociou a nova posição e o aumento de salário mostrando
ao chefe como sua formação e bagagem profissional o ajudariam nesse desafio. A
estratégia deu certo. Com a promoção, ele foi morar no Rio de Janeiro e seu
salário aumentou 30% — dez pontos percentuais a mais do que as empresas têm
oferecido no país segundo pesquisa da Quorum Brasil sobre remuneração, realizada
em março. 'O segredo para conseguir um aumento de salário é mostrar para o chefe
que você é a solução dos problemas dele', explica Saulo Lerner, diretor da
unidade de executivos da consultoria de recursos humanos da Right Management, de
São Paulo. Para isso, você deve conhecer os objetivos da empresa, saber seus
pontos fortes e como apresentá-los da melhor maneira. Parece simples, mas não é.
O psicólogo mineiro Edson Andrade Durão, de 40 anos, sabe bem disso. Há um ano e
meio assumiu o cargo de gerente de negócios de recursos humanos na RM Sistemas,
empresa de softwares de Belo Horizonte, Minas Gerais, para adaptar um produto da
empresa ao público de RH, junto à área de desenvolvimento. Com o final do
projeto foi convidado para trabalhar na área comercial e assumir
responsabilidades ainda maiores e achou que era hora de negociar um aumento de
salário. Apresentou ao chefe uma proposta que estabelecia metas em duas etapas.
A primeira começou em abril e vai até julho deste ano e, quando o período chegar
ao fim, ele terá um aumento de 25% no salário. Para a segunda etapa, que vai de
agosto a dezembro, o reajuste será de 30%. O argumento de Edson foi forte.
Montou planos para crescer a venda de um produto em 300% em dois anos e torná-lo
um dos mais importantes da empresa. 'Mostrei que estava disposto a encarar
desafios. Se não tivesse estabelecido metas, certamente as bases da negociação
não teriam sido as mesmas', diz Edson Durão.