Carro ultimamente tem sido (apenas) sinônimo de diferenciação social. Para a
maioria das pessoas ele é um eficiente sinal de status, um instrumento de
conforto. Não há absolutamente nada de errado nisso, desde que sejam respeitadas
as realidades de cada um. Eu sou eu, você é você e o Ronaldinho é o Ronaldinho.
Não interessa se a concessionária oferece pagamentos em “enésimas
prestações”. Você precisa ter condições de manter esse sonho ou corre o risco de
vê-lo transformar-se em um pesadelo. Algumas perguntas elaboradas pela
especialista Elaine Toledo demonstram como é fácil exercitar sua capacidade de
raciocínio ao decidir pela compra de um novo automóvel. Experimente
respondê-las:
1. Por que eu preciso de um carro?
2. Quanto dinheiro tenho disponível para comprar um carro?
3. Qual a reserva mensal que tenho disponível para as parcelas
de um financiamento?
4. Que tipo de carro quero comprar?
5. A compra será à vista ou financiada?
6. Se a compra for financiada, qual o valor final do automóvel?
7. Tenho consciência das despesas que passarei a ter após a
aquisição de um carro?
Onde focar?
As perguntas de 1 a 5 são bastante pessoais e justamente por isso, são as mais
importantes. Sugiro que passe mais tempo se preocupando com essas primeiras
questões e por consequência o valor final do carro (6) e as despesas de
manutenção (7) serão mais interessantes para o seu bolso. Carro não é algo que
todo mundo pode ter e comprá-lo com inteligência não significa apenas saber se
as parcelas do financiamento caberão ou não no seu bolso. Comprar um carro é
ótimo. Melhor que isso é poder aproveitá-lo por completo.
Uma visão de negócio
Fulano comprou um carro e paga uma parcela mensal de R$ 500,00 de seu
financiamento. Além disso, ele gasta outros R$ 500,00 mensais com despesas
gerais e de combustível. O carro foi comprado para que ele pudesse levar seus
produtos até uma nova clientela e com este movimento poder aumentar sua receita
em R$ 1500,00. Deixando de lado a entrada e o prazo do financiamento, vemos que
o retorno com a compra do carro será suficiente para cobrir seus juros despesas.
Ainda que o carro se desvalorize, ele trouxe resultado ao negócio do Fulano.
O valor residual poderá servir de entrada para um novo veículo, maior quem sabe.
Isso, caro leitor, chama-se inteligência financeira. Peço aos chatos de plantão
que me poupem. Não entrem em detalhes e perguntas sobre quanto custou isso,
aquilo, quanto tempo ele terá para pagar, riscos e incertezas do negócio etc.
Tenho certeza de que todos entenderam o recado. Obrigado.
Mas a vida não é assim
Sabendo que para um cidadão comum carro não é investimento, você precisa prestar
ainda mais atenção às premissas do negócio e aos resultados dele provenientes.
Por que é que as pessoas entram em tantos detalhes quando é para comprar um
carro para a empresa e compra seu carro particular com tanto descaso? Carro não
é só o dinheiro gasto para colocá-lo na garagem. Com o carro, aparecem algumas
“coisinhas” extras:
- Licenciamento: todo ano você terá que pagar IPVA, taxa
de licenciamento e seguro obrigatório. São as boas vindas do Brasil aos
proprietários de carros.
- Seguro: claro que você não quer que seu carro seja
roubado, não é mesmo? Algumas pessoas arriscam e podem ficar sem o carro.
Pior, o carro pode sumir, mas o carnê não. Já pensou?
- Manutenção periódica: as revisões normalmente não são
baratas, mesmo naquele seu amigo da rua de trás. Tudo custa dinheiro. Um
barulhinho aqui, uma peça que desgasta ali, um pneu careca, o óleo que
acabou. Quem vai dar um jeito isso?
- Estacionamento: a rua nem sempre tem lugar. As vezes
ela é perigosa. Enquanto trabalha, você precisa deixar seu carro estacionado
com segurança. Quem sabe não falta uma garagem em sua casa e o carro acaba
por ter que “dormir” acompanhado. Esses serviços não são gratuitos.
Comprar é o mais fácil. E depois?
A concessionária e o crédito são a parte fácil. O resto é quem são elas (acho
que ouvi isso em alguma novela). Todos estes novos gastos terão que (agora sim)
“caber” no seu orçamento mensal. Suas despesas de telefone, água, luz e
supermercado vão continuar acontecendo. Não se iluda com a impressão de que o
carro pode ser muito interessante em relação ao aperto do ônibus ou do metrô.
Faça muito bem as contas, ou poderá trocar o aperto e a dor nas ancas do
transporte público pela dor no bolso. Se não é hora de ter um carro,
contenha-se.
Eu, Navarro, destruidor de sonhos e desejos, recomendo que você: esqueça o
vizinho que tem o carro que você tanto quer, deixe pra lá o tesão momentâneo
pelo novo modelo que acaba de ser lançado e combata o imediatismo doente dos
dias de hoje. Prefira aprender com o vizinho (”é ruim hein”?). Poupe, crie uma
reserva financeira confortável e negocie sempre à vista. Carro novo ou carro
usado, isso não vem ao caso agora.
Preste atenção. Se comprar um carro de R$ 30.000,00 para uma
pessoa que ganha R$ 500,00 é algo muito difícil, o mesmo vale para quem quer
comprar um carro de R$ 300.000,00 e ganha R$ 5.000,00. A comparação pode parecer
idiota, mas reflete o tamanho do passo que algumas pessoas insistem em dar. Sim,
existem prestações possíveis para ambos os casos, mas onde fica a inteligência
emocional e financeira?
Como os milhões de especialistas não cansam de dizer: o importante
não é quanto você ganha, mas quanto você gasta. Esses dias ouvi até a
Gisele Bündchen falando isso. Se ela acredita nisso, imagina
eu. Além disso e com todo o respeito, uma moto ou uma bicicleta podem muito bem
resolver o seu problema. Nem por isso o raciocínio será diferente. Compre a moto
ou a bike usando o mesmo pensamento disposto neste artigo. Pense bem.