Achei o exemplo muito interessante para levantar algumas questões
relacionadas às pequenas quantias que são comumente deixadas de lado pela grande
maioria da população: que diferença os pequenos valores podem fazer ao longo do
tempo? Será que só o aspecto financeiro deve ser levado em consideração quando
novos hábitos são discutidos e praticados? Que reflexos esta consciência
financeira pode trazer em sua vida cotidiana? Respostas na ponta da língua?
Creio que não.
A diferença sentida no bolso
Que economizar dinheiro sempre representa benefícios financeiros, todo mundo
sabe. No entanto, o principal problema nem sempre é estar atento aos aspectos
intrínsecos da negociação, ao montante em si, mas no real uso do desconto
alcançado ou da quantia economizada com suas decisões. Em outras palavras, é
comum notar pessoas usando dinheiro economizado “do lado de lá” para o consumo
imediato, de algo de que não necessita, “do lado de cá”. Alguns sabiamente dirão
que isso é perfeitamente aceitável. Até concordo, mas será que economizar é só
isso? Deveria ser?
Se você gosta da matemática da coisa, aproveito para citar o exemplo do
cigarro para ilustrar o poder do tempo quando são discutidas pequenas quantias
de dinheiro. Vamos supor que um maço de cigarro custe R$ 1,50 e que você fume um
maço por dia. Por mês, você gasta cerca de R$ 45,00 para sustentar o vício.
Vamos ao futuro? Para manter as coisas simples, imaginemos que decidiu (e
conseguiu) parar de fumar e que a caderneta de poupança tenha um rendimento
nominal de 0,6% ao mês (cerca de 7% ao ano). Em 5 anos, investindo os R$ 45,00
mensalmente na poupança, você teria R$ 3.238,41. Em 10 anos, teria R$ 7.875,14.
Em 20 anos seriam R$ 24.019,31. Nada mal, não acha? Quer brincar mais com os
valores?
Sei que, financeiramente falando, os R$ 45,00 mensais podem não representar
problemas no seu orçamento. Além disso, temos que considerar a inflação para
encontrar e citar a rentabilidade real. Não importa, a mensagem aqui pretende
ser outra: o grande segredo está em procurar, dentro e ao lado de nossos hábitos
financeiros, oportunidades de multiplicação para alcançar um objetivo maior.
Claro que a motivação para isso só surge quando realmente há um objetivo sendo
vislumbrado. Você tem objetivo(s) de médio e longo prazo?
O poder deve ir além da negociação
Sob a ótica da inteligência financeira, saber negociar é apenas parte do
processo. Claro, parte importantíssima. Mas há mais no hábito de poupar que
simplesmente a transferência de valores de um bem para o outro. Quando deixamos
de gastar mais por algo e imediatamente passamos a pensar na próxima compra,
estamos apenas reiterando o enorme poder emocional do dinheiro, renegando, ainda
que inconscientemente, sua capacidade de multiplicação. Não trata-se de ser
sovina, mas de lembrar que as pequenas economias influenciam seu comportamento
em muito mais do que você acredita.
Você pode não acreditar ou aceitar, mas suas reações diante dos pequenos
valores definem grande parte de suas atitudes diante da necessidade de
planejamento financeiro de médio e longo prazos. Consequentemente, suas decisões
sobre investimentos futuros e orçamento doméstico podem estar sendo tomadas com
base em universos temporais curtos, equivocados e sem atenção às diferenças de
rentabilidade encontradas em diferentes produtos bancários e opções de
investimento.
Quem cria o hábito de negociar bem e, ao mesmo tempo, preocupa-se com a
multiplicação das somas economizadas tem em mãos o verdadeiro poder de
transformação das suas finanças. A afirmação anterior soa filosófica demais até
para mim, mas resume bem a mensagem deste artigo. Quando você investe aquilo que
foi capaz de economizar, trata de realmente transformar o desejo de realizar
bons negócios em benefícios reais, em dinheiro para melhores negócios no futuro.
Muito além dos centavos…
Como já discutimos, os reflexos positivos vão além do extrato bancário e da
economia em si. Os aspectos humanos, sociais e emocionais do dinheiro são os
verdadeiros responsáveis por nossas conquistas financeiras, não canso de dizer.
O quanto podemos economizar é apenas um dado, não uma atitude e serve apenas
como insumo para sua decisão. Economizar é ótimo, mas melhor é saber lidar com
as variáveis envolvidas para transformar essa economia em algo que realmente
agregue valor à sua vida.
Como costumo fazer, fugi um pouco da questão matemática, numérica e racional.
Todas as minhas palavras representam apenas minha sincera opinião e uma resposta
ao questionamento de um leitor. Se você enxergou no artigo muitas possibilidades
e oportunidades, ótimo! Assim fico contente com minha própria opinião sobre
economizar, sabendo que a economia nas palavras não significou apenas uma rápida
leitura. Profundidade com economia, é disso que você precisa na sua vida
financeira.