Vencer o desafio de fazer uma empresa despertar motivada não é um problema
cuja solução deva sair de uma só cabeça. Trata-se de um desafio coletivo para a
superação do qual é absolutamente indispensável à participação dos funcionários.
Não se cria motivação por Decreto.
Quando o despertador toca avisando-nos que é hora de ir para o trabalho, as
pessoas acordam de uma das duas maneiras: bem ou mal dispostas. Ou seja: ou a
gente pula da cama, animado, e vai pro banho cantarolando - ou o percurso entre
a cama e o banheiro parece interminável - longo, penoso e difícil de ser
concluído, e que a gente faz arrastando os chinelos e trombando nas portas e
paredes, entre resmungos.
Há várias razões que podem ser responsabilizadas por um ou outro tipo de
despertar, mas, a menos que existam problemas de saúde, a causa está quase
sempre ligada a uma palavrinha-chave: motivação ou, conforme o caso, falta dela.
Neste segundo caso, a indisposição é um indício de que algo não vai bem no
trabalho, algo lá está perturbando a pessoa, ameaçando inclusive sua qualidade
vida. Depois que consegue entrar no banheiro, o sujeito demora um tempão antes
de entrar debaixo do chuveiro, olhando-se longamente no espelho, com um mau
humor daqueles, tentando decidir se vai em frente ou se manda o emprego pro alto
e volta pra cama. Na maioria das pessoas costuma prevalecer - com boa ou má
vontade - o bom senso, que obviamente NÃO RECOMENDA voltar para os mornos
lençóis.
No entanto, quando a pessoa está motivada pelo trabalho, durante o banho já fica
mentalmente enumerando e planejando as estimulantes tarefas previstas para o
dia. Os preparativos que antecedem sua ida ao trabalho são cumpridos com uma
real euforia e uma positiva ansiedade de começar logo mais uma jornada de
desafios.
Já há algum tempo descobri que esse mesmo processo de "despertar" ocorre também
com as empresas, como se elas próprias fossem um organismo vivo, um indivíduo -
e não, como é fato, um conjunto deles. E mais: descobri que a observação do
"despertar" de uma empresa nos permite avaliar se o seu "organismo" (leia-se:
conjunto de pessoas) está OK ou se sofre de alguma baita indisposição. Duas
situações que podem ser traduzidas como "motivado" ou "desmotivado".
Ao longo dos anos na minha atividade de consultor, e sempre por questões de
prazos e urgências dos clientes, já por algumas vezes precisei "varar a noite"
trabalhando e assim amanhecer dentro de uma empresa, em algum dos seus
departamentos. Muitas outras vezes, pelas mesmas razões, costumava chegar antes
dos funcionários da área. Foram essas vivências que me levaram à descoberta
citada.
Tenha você mesmo essa experiência, amigo leitor: procure chegar cerca de meia
hora antes do horário normal de início de expediente - e aguarde a vinda dos
colegas.
Primeira possibilidade: a equipe está motivada.
Neste caso, a chegada de cada um é alegremente barulhenta, calorosa e triunfal.
Beijinhos pra lá e pra cá, abraços ruidosos, comentários do jogo ou do chopinho
de ontem, gargalhadas devido a mais recente piada recebida por e-mail e por aí
afora, enquanto vão abrindo gavetas, ligando computadores - enfim, preparando o
material de trabalho para a jornada do dia. A cada colega que chega a cena se
repete e, em minutos, toda essa energia cria e faz pairar no ar uma alegria e
disposição contagiantes que permanecerão até o final do expediente. E o mais
importante: percebe-se na equipe uma vontade espontânea de estar ali, de ser
útil, de cumprir as tarefas.
Claro que com a chegada do chefe, esse clima pode melhorar ainda mais - ou pode
cessar bruscamente, instalando-se um silencio que dá até pra se ouvir o monótono
som do aparelho de ar condicionado. Mas, o que quer que aconteça depois, o
despertar foi ótimo, foi estimulante, foi saudável.
Segunda possibilidade: a equipe NÃO está motivada.
Os funcionários entram como zumbis. Lentamente, quase arrastando os pés, calados
ou resmungando um ininteligível e desanimado "oi" (quando não indiferentes) aos
que já estão ali, expressões sonolentas, má vontade estampada no rosto. Ao
contrário da situação anterior, as gavetas não são logo abertas, os computadores
não são logo ligados. A prioridade não é preparar o material para o início da
jornada: é ir trocar queixas e lamentações lá no cantinho do café ou no "fumódromo".
Diagnóstico: a área está "doente".
E se a cena se repete nos demais departamentos, o quadro pode ser ainda mais
alarmante: TODA a empresa pode estar "doente", certamente contaminada pelo vírus
da desmotivação. E neste caso, há poucas probabilidades de que o quadro se
altere com a chegada do chefe. Até porque ele próprio pode ser o disseminador do
vírus.
Quem ganha com esse "despertar", cujas principais conseqüências serão o
comprometimento da produtividade e da qualidade?. Há algo pior para uma empresa?
Para o funcionário há o desencanto, a frustração, a falta de perspectiva. Ao
invés de estimulante e desafiador, o trabalho passa a ser um peso diário cada
vez mais difícil de ser carregado. E sua saúde física e psicológica começa
gradativamente a se ressentir desse desgaste cotidiano. Cadê a qualidade de
vida?
O objetivo deste artigo não é relacionar todas as causas que levam uma equipe à
desmotivação numa empresa. Como sabemos, existem muitas possíveis causas - mas
todas certamente solucionáveis ou pelo menos administráveis. Este artigo
pretende ser um grito de alerta, lembrando ao pessoal de Recursos Humanos ou aos
principais dirigentes que uma adequada pesquisa de clima junto aos funcionários
costuma ser um bom começo para se promover um despertar mais saudável da
empresa, forte condição para um dia produtivo.
Este não é um problema cuja solução deva sair de uma só cabeça. É fato elementar
de que o que é motivacional para o presidente, diretor ou gerente,
necessariamente não o é para seus colaboradores Trata-se de um desafio coletivo
para a superação do qual é absolutamente indispensável à participação dos
funcionários. Não se cria motivação por Decreto.
Vencer o desafio de revitalizar uma empresa "doente" e fazê-la despertar com
disposição e alegria, é tão envolvente e estimulante que, se todos os
funcionários participarem - independente da hierarquia - mais da metade do
problema estará solucionado.