Rapaz, pior do que engolir sapo deve ser mascar barata! Mas então por que nas
empresas não se fala em “mascar barata”? Ou quem sabe “lamber gambá” em vez de
“lamber sabão”? Eu não sei, o fato é que no trabalho o que se ouve e se fala é
em “engolir sapo”.
Quem não já “engoliu sapo” na vida, durante a trajetória profissional?
Certamente devem existir gargantas e estômagos virgens nessa área, creio. Em
compensação, devem existir os engolidores diários e contumazes do batráquio – já
tão condicionados que não abrem mão da sua dose diária... Haja estômago!
Há uma premissa organizacional que garante que suas chances de ter um emprego
estável são proporcionais à sua capacidade de exercer com magnanimidade e
estoicismo (ou seja, sem reclamar) a tal arte. O pior é que a coisa vem a seco,
sem nem ao menos uma farofinha ou um molho de tomate – o que, aliás, não sei se
melhoraria em algo a tal refeição.
Dizem os entendidos em sapologia que a origem da associação do sapo com algo
nada palatável vem das Sagradas Escrituras – quem diria, hein? Contaram-me que
em um determinado capítulo do livro do Êxodo, um rebelde faraó recebeu como
castigo de Deus uma série de pragas, uma das quais se constituía de uma invasão
de milhares de rãs – ou de sapos. Se não são a mesma coisa, são com certeza da
mesma família. Segundo a narrativa, o Faraó encontraria o bicho saltitante em
todos os lugares possíveis e imagináveis do seu palácio – inclusive quarto de
dormir, cozinha e banheiro. Dá pra imaginar?
Portanto, desde tempos imemoriais, fez-se do sapo um bicho nojento. E a
Psicologia reforça: diz uma teoria que “todos nascemos príncipes e somos depois
transformados em sapos” – e assim se explica a divisão entre os bons e os maus.
Que coisa... E olhem que, ironicamente, não me lembro de ter visto um só filme
de terror em que o personagem central fosse um sapo gigante. Quase toda a fauna
e a flora já foi astro ou estrela de um filme de John Carpenter, Joe Dante, Zé
do Caixão e outros diretores do gênero. O sapo, não. Parece que só aparece nas
empresas, mesmo. No trabalho, “engolir sapo” é não ter o direito, o espaço, a
liberdade ou a coragem de responder à altura um insulto, uma humilhação, uma
acusação, uma ironia.
Claro que essa impotência tem uma razão de ser óbvia: o “sapo” vem sempre do
superior imediato. Ou seja: ninguém “engole sapo” enviado por um colega do mesmo
peso hierárquico – e muito menos de peso menor. Donde se pode facilmente
concluir que os “sapos” têm uma preferência toda especial em fazer do seu
habitat natural as organizações que adotam um modelo de gestão autoritário e
insensível. Que não permite o diálogo, a réplica, o esclarecimento, muito menos
a argumentação.
Inclusive, na prática dessa “arte”, as coisas hoje estão cada vez mais fáceis
(ou seria melhor dizer “difíceis”?) porque, graças ao avanço tecnológico
sobretudo da informática, atualmente já se pode mandar (ou receber) “sapos” por
e-mail! Chique, não?
Mas, convenhamos: na verdade, não há nada de errado em “engolir sapos”, desde
que algumas condições sejam observadas.
Por exemplo: quando seu emprego depende da sua capacidade digestiva. Aí tem que
comer, amigo. E, em alguns casos, até pedir bis! Porque se trata de um caso de
sobrevivência profissional.
Quer ver outro exemplo? Quando você aprendeu a desenvolver anticorpos emocionais
contra “sapos”. Em outras palavras: quando há um canal de comunicação livre e
desimpedido entre seu ouvido direito e o esquerdo – ou vice-versa. Traduzindo:
quando você deixa o “sapo” entrar por um ouvido e sair pelo outro, sem descer
para o estômago – e muito menos para o coração.
Mas nem tudo está perdido: garanto-lhe que se você treinar direitinho, você vai
aprender a rir dos lançadores de “sapos”. Principalmente porque eles não têm a
aparência de quem está se divertindo. Pelo contrário, quase sempre parecem
“enfezados”, gritam, xingam, acusam, esmurram a mesa e soltam perdigotos. Cá pra
nós: sei de uma empresa em que os funcionários criaram – claro que em segredo
guardado a sete chaves – o “Troféu Frog”, para “premiar” semestralmente (também
em segredo) o mais habitual e notório arremessador de “sapos” contra a equipe.
Não é engraçado?
Agora, falando sério: nenhuma empresa que se preza, nenhum dirigente que
respeita e valoriza seus colaboradores, nenhum gestor que está acompanhando as
tendências das novas relações humanas permite a criação e o arremesso de sapos
em sua organização ou em seu departamento. As chamadas equipes de alta
performance caracterizam-se justamente pela liberdade de expressão, pela
transparência, pelo diálogo claro e objetivo, sem insinuações e muito menos
agressões verbais. Ao invés de “lançamento de sapos”, as equipes integradas
utilizam instrumentos mais saudáveis e profissionais, como as discussões
técnicas, defesa e explicação lúcida dos pontos de vista contrários, das
divergências e das opiniões diferentes.
Proponho que façamos uma campanha em defesa do sapo, para que eles sejam
deixados em paz nas empresas. Ninguém precisa ser ecologista para saber que eles
tem lá sua utilidade – mas claro que fora das empresas, no seu “habitat”
natural.
Um conselho útil para ninguém precisar mais “engolir sapos” e ir correndo chorar
no banheiro: inverta a premissa psicológica que citei acima e tente transformar
os “sapos” enviados em sua direção em “príncipes”. É uma alquimia simples: basta
misturar bem alguns ingredientes facilmente encontrados em qualquer bom coração
de qualquer esquina da vida: uma pitada de compreensão, outra de tolerância,
mais uma de compaixão, um tiquinho de paciência e afeto e bom humor à vontade –
ou como se diz em culinária: a gosto.
Para encerrar, quero apenas registrar uma curiosidade que há tempos vem me
intrigando: de onde será que os “arremessadores de sapos” diários conseguem
tanto estoque?