Filhos - Aproveite a turbulência para educar os seus filhos
Um comportamento muito comum entre pais de classe média e famílias abonadas
financeiramente é o de querer "poupar" os filhos das dificuldades, contratempos
e mudanças de hábitos que uma crise pode exigir. Procuram "protegê-los" sob a
crença de que "eles estão muito jovens para enfrentar as dificuldades da vida",
ou ainda a "de que eles não precisam passar pelas dificuldades que eu passei."
Lamentavelmente a experiência já demonstrou que crianças ou jovens, poupados, e
mesmo desinformados, desses confrontos com a realidade acabam sendo pessoas
muito despreparadas para a vida. Não apenas na sua relação com o dinheiro, mas
em muitos outros aspectos importantes da existência como um todo.
Vale sempre lembrar que o Ser não está desvinculado daquilo que desejo Ter, e
menos ainda do que pretendo Parecer. Esse conjunto de prioridades, escolhas e
valores terminam construindo um estilo de vida.
Nesse sentido, os momentos de crise podem servir de material educativo para as
gerações mais jovens. Compete aos pais, primeiro, fazer este trabalho, que
deverá ser complementado pela escola.
A euforia do mercado financeiro gerou novos - ou supostos - ricos, que não
apenas ficaram deslumbrados com sua capacidade de consumo como também
transmitiram aos filhos essa falta de compromisso e responsabilidade com o valor
e importância de atingir metas e resultados com conquistas permanentes. O
desfrute e a tranqüilidade do poder consumir não devem estar dissociados da
capacidade de lutar pela conquista dessa possibilidade.
Entre as várias condutas possíveis para as quais os pais podem educar - e acima
de tudo compartilhar - com os filhos, a maioria delas está vinculada a uma vida
mais frugal. Ou seja, valorizando os pequenos prazeres, experiências e objetos
da vida.
Um exemplo simples, que faz todo o sentido em uma economia instável como a que
vivemos é recuperar o hábito da poupança: resgatar o velho cofrinho para guardar
o dinheiro e voltar a usar o sistema da mesada. Além de criar o hábito de poupar
cria-se também uma noção de valor relativo para as crianças que, na maioria das
vezes, apenas recebem, ao invés de adquirir com seus próprios recursos. Desta
forma aprendem a transacionar desde pequenos.
Segundo a americana Kristine E. Miele, uma planejadora de finanças pessoais, que
ministra cursos e para crianças, sob o título "Lições para a vida", "o momento
que vivemos justifica resgatar os velhos e sempre válidos conceitos da
hierarquia das necessidades psicológicas básicas de Abraham Maslow, que
priorizam comida, roupas, moradia e transportes." Ela conclui que "desta maneira
fazemos com que os mais jovens possam perder, de forma gradual, o vício dos
gastos desnecessários."
O movimento para um consumo mais consciente, educando os filhos para uma nova
realidade econômica, já ocorre de maneira muito intensa nos EUA. Especialmente
porque é lá que está o maior volume de pessoas endividadas ponto que declararem
falência pessoal. Segundo o Institute for American Values, "a proposta é
construir uma cultura receptiva à poupança, de modo que não seja visto como algo
estranho, mas como uma atitude a ser estimulada."
Usar de forma mais racional o carro; fazer pequenos deslocamentos a pé; ampliar
as opções de entretenimento no bairro e em casa; criar novos momentos de diálogo
na família; pesquisar, de forma participativa com os familiares, alternativas de
turismo de menor custo e conseguir isso por consenso; revisar e compartilhar
gastos; discutir o orçamento doméstico; estimular a poupança; olhar o cardápio
do restaurante da coluna da direita para a esquerda; conferir as despesas quando
lhe são apresentadas; não ter vergonha de poupar; controlar o uso dos meios de
comunicação mais caros; etc.
Não estamos falando aqui apenas da forma como usamos o dinheiro, mas do
significado que ele possa representar, ou ter em nossas vidas.
É evidente que todas essas idéias simples parecem fazer mais sentido em função
do momento que vivemos. Ou seja, realizar esforços no sentido de recuperar uma
conduta de maior frugalidade na relação com o dinheiro e suas possibilidades.
Mas, acima de tudo, utilize todas essas experiências para envolver e educar os
filhos para a nova realidade que emergiu.
Esta crise não é a última e nem será permanente. Mas os filhos devem ser
preparados para encará-las durante todas suas etapas de vida.
Referência:
Valor Econômico
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