No início de 1996, assisti a uma palestra de Gene Kranz em Orlando, Flórida.
Kranz foi o Diretor de Vôo da NASA na Apolo 13. Era ele quem estava no comando
da missão quando o astronauta Jim Lovell, imortalizado pelo ator Tom Hanks,
pronunciou a célebre frase: “Houston, we have a problem!”.
Nesta época, eu trabalhava para uma multinacional americana que tinha por
tradição enviar aqueles que haviam batido suas metas para uma viagem ao
Exterior, onde se misturava um pouco de lazer com trabalho. O programa de
incentivo, que tinha como denominação oficial “Hundred Percent Club”, era
costumeiramente chamado por todos apenas de “Clube”.
Na seção principal do Clube, onde se reuniam todos os profissionais da
América Latina, acontecia um ritual que se repetia todos os anos. Primeiro,
saudava-se e ovacionava-se a todos os presentes por terem batido suas metas. Em
seguida, apresentavam-se os números para o próximo ano, ou seja, as novas metas
que, em geral, eram uns 30% a 40% superiores ao ano que havia se findado. Por
último, sempre havia um palestrante convidado para motivar a platéia, frente aos
novos desafios recém anunciados.
Naquele ano, quando Gene Kranz foi o convidado do Clube, todos ouvimos, com
maior ou menor atenção, o relato detalhado de como os tripulantes da Apolo 13
foram trazidos de volta à Terra pela equipe de controle de vôo da NASA.
Lembro-me com clareza de uma das principais frases ditas por Kranz à sua equipe,
algo como: “Nós nunca perdemos um Americano no espaço e estejamos todos
certos que não perderemos um em meu turno! Falhar não é uma opção!”. Bem,
era essa última frase que dava título à palestra de Kranz: “Failure is not a
option!”.
Nesta palestra motivacional, a pergunta que se formou na minha mente foi a
seguinte: “O que eu devo fazer para não falhar?”. E aí está o grande problema
deste tipo de ação, elas não ensinam o “como fazer”, ou seja, o passo-a-passo
que deve ser seguido para obtermos melhores resultados.
Na verdade, a grande maioria das ações motivacionais tenta subverter a lei da
causa e conseqüência, contrariando a tudo o que Newton nos deixou em suas leis
sobre a Física. Motivar seus vendedores os fará ter melhores resultados, certo?
Errado! Vendedores ficam desmotivados por não alcançarem os resultados
esperados. Vendedores ficam desmotivados por não venderem efetivamente. Ou seja,
embora resultados baixos desmotivem os profissionais de vendas, motivação pura e
simples não fará com que eles obtenham melhores resultados.
Existe uma razão bem simples para isso: obter melhores resultados depende de
uma compreensão que vai muito além da motivação. Está sujeita a uma ação efetiva
e mais adequada sobre o “como” vender, ou seja, o que fazer para efetivar uma
venda. Embora um esforço motivacional possa gerar algum impacto inicial, já é
sabido que tudo isso será anulado em um curto espaço de tempo, quando o vendedor
continuar a cometer os mesmos erros de sempre, pela forma com a qual ele sempre
atuou.
Isso porque, com uma ação meramente motivacional, ele não aprenderá a fazer
nada diferente daquilo que sempre fez. Ou pior, essa ação pode até acentuar
ainda mais as ineficiências, pois os erros estarão sendo cometidos com mais
intensidade e, às vezes, em pior grau. Por exemplo, um vendedor despreparado,
mas muito motivado, fará mais visitas ruins e desperdiçará mais recursos de sua
empresa em encontros infrutíferos.
Pense da seguinte maneira: você faria uma cirurgia cardíaca com um leigo
motivado? Guardadas as devidas proporções e com as necessárias desculpas à
excelente reputação de Gene Kranz, se os engenheiros da sua equipe não
estivessem bem capacitados para equacionarem os problemas que surgiram naquela
missão, nem com toda a motivação ou sorte do mundo a nave de número 13, lançada
às 13 horas e 13 minutos e com previsão de entrar na órbita da Lua no dia 13 de
abril, teria retornado à Terra?
Na prática, o que acontece é que motivação é importante, mas preparação é
fundamental. E os processos com as quais as pessoas vendem, muitas vezes são
esquecidos. Para piorar ainda mais a situação, no Brasil, a palavra “processo”
muitas vezes acaba soando quase como um sacrilégio, por se confundir com
burocracia.
Chegou a hora de banir esse pensamento e as áreas de Recursos Humanos têm
papel fundamental nessa mudança. Isso porque está comprovado que o jogo de
cintura, o jeitinho brasileiro e a motivação funcionam bem até o segundo
capítulo. Quando a coisa aperta mesmo, se não houver processos claros e
definidos, o vendedor, assim como qualquer outro profissional, pode não ter as
corretas ferramentas para desenvolver seu trabalho com a eficiência necessária.
Pense nisso na próxima vez que a área comercial lhe pedir apoio para aumentar os
resultados dos seus vendedores!