Acho que esta é uma das lições mais simples e básicas para os líderes:
descobrir para onde a energia das pessoas quer fluir e trabalhar com isso. Às
vezes há uma parte dentro de nós tentando corrigir as pessoas que estão erradas,
em vez de construir algo que está tentando acontecer. Parece-me perda de tempo.
De um tempo que não temos, porque somos pressionados para obter resultados
rápidos.
Não sei se você já passou por isso em sua vida. Durante aulas ou palestras, há
alguns anos, eu tinha um hábito estranho quando estava diante de um grupo de
pessoas. Dentre 25 atentas sempre havia uma de braços cruzados e cabeça baixa. E
em quem eu concentrava toda minha atenção? Na pessoa que estava desatenta. Tive
que aprender a ter consciência do problema, ou seja, deixar a pessoa ficar lá e
trabalhar com aquelas que estavam realmente interessadas. É uma das lições mais
simples e básicas de todo tipo de liderança em qualquer ambiente: para onde a
energia está tentando fluir e como trabalhar com ela.
O falecido maestro Georg Solti em cinco anos de trabalho duro, chacoalhou a
Orquestra Sinfônica de Chicago e tirou-a de sua confortável mediocridade para
atingir padrões internacionais. O que ele fez? “Analisei os 128 membros da
orquestra, achei os 20 que mais se destacavam e buscavam a excelência e
trabalhei com estes últimos. Claro, tive de demitir um segundo oboé, mas para a
maioria dos outros, de repente, os padrões, a visão havia mudado”.
Uma grande equipe é formada por pessoas interessadas, dispostas, auto-motivadas
e que querem fazer algo acontecer. Penso que os líderes perdem muito tempo
tentando corrigir o desempenho dos funcionários quando estes já demonstraram,
até mesmo por mais de uma vez, a sua incapacidade de mudar, o desinteresse e a
falta de prazer pelo que faz.
Não temos tempo para concentrar-se em pessoas que não queiram aprender,
desenvolver-se, superar desafios e que consideram o trabalho um fardo. A seleção
natural e contínua faz parte do trabalho do líder, sob o risco dele tornar-se
uma vítima da mediocridade.
Esta reflexão nos leva a pensar sobre a criatividade e o prazer no trabalho.
Estamos tão ocupados resolvendo os problemas do dia-a-dia, que esquecemos de
pensar sobre o significado do trabalho em nossas vidas. Tendemos a pensar que em
uma organização tradicional as pessoas estão produzindo resultados, porque a
diretoria quer resultados. Compare-a à essência de uma organização voluntária:
as pessoas produzem resultados, porque elas querem-nos. Se os colaboradores
gostam realmente de seu trabalho, eles vão inovar, correr riscos, confiar uns
nos outros, porque todos estão realmente dedicados ao que estão fazendo.
É necessário deixar a energia fluir na direção do crescimento e do
desenvolvimento para que a organização entre num círculo virtuoso de
prosperidade e captura de oportunidades e não de dificuldades. As empresas têm
uma gravidade, um peso que puxa constantemente em direção à solução de problemas
e, conseqüentemente, à mediocridade. É preciso lutar contra a força negativa 24
horas por dia.
Naquelas organizações que realmente apresenta bom desempenho, os funcionários
têm prazer no que fazem e usam ao máximo a sua criatividade. Não estou dizendo
que é preciso gostar de tudo que se faz, o que é algo bem diferente. Todo mundo
tem de conviver com uma série de coisas rotineiras.
Os grandes esportistas precisam exercitar horas a fio todos os dias, e ninguém
poderá dizer que eles amam fazer isso. Os atletas têm de fazê-lo. Não é
divertido, mas eles gostam. O mesmo vale para pessoas nos negócios e que
apreciam seu trabalho. A rotina delas é: “isso tem de ser feito e eu gosto de
fazê-lo, porque gosto de meu trabalho”. Quando o trabalho é divertido, a energia
flui naturalmente.