Sempre há uma discussão sobre as questões de proteção de informação no âmbito
dos processos de inteligência. A empresa deve proteger sua informação e orientar
seus funcionários a não descuidar dela para não desvendar dados confidenciais,
privados e estratégicos para a empresa?
Conforme discutido no seminário de Alain Juillet - Alto Responsável pela
Inteligência Econômica do governo francês, de 80 a 90% das informações
estratégicas úteis para uma organização estão disponíveis livremente.
É, portanto, bobagem fazer espionagem. "Por que correr risco fazendo práticas
ilegais quando há tanta informação disponível?" Concordo. Por outro lado, todos,
e em particular Sr. Juillet, afirmam que a empresa deve proteger sua informação
para que não se torne pública a informação estratégica.
Mas me pergunto. É possível proteger a informação? Além disto, é necessário ou
útil fazê-lo? Talvez possa ser exagero, mas há empresas falando sobre a questão
e dizendo que a empresa deve ser aberta. Que não adianta e não precisa tentar,
por exemplo, esconder os esforços de lançamento de um novo produto. Primeiro
porque a informação acaba circulando cedo ou tarde. Segundo porque na verdade o
que realmente mantém a empresa não é o produto que ela lançou hoje ou vai lançar
amanhã, mas sua capacidade em gerar continuamente inovação. A empresa tem que
ter constantemente novos produtos e serviços.
Existem informações mais sensíveis, mais críticas. Mas é preciso pensar em até
onde deve ir a paranóia da proteção da informação. Há casos como códigos de
acesso, por exemplo a contas correntes, devem-se preservar. Ainda neste caso,
não é informação que estamos protegendo, mas sim os recursos financeiros aos
quais os códigos dão acesso. Protegemos o recurso, não a informação. Estou
apenas sofismando? Não. Acho que as empresas têm que levar em consideração que,
em um mundo cada vez mais aberto, com infinitas interfaces, parcerias,
concorrentes - que são em outros momentos parceiros -, o nome do jogo não é
proteção de informação, mas cooperação e compartilhamento de informação e
constante capacidade de inovação.
Há empresas que justamente vão na linha da abertura da informação, do
conhecimento. Open source, sofware livre, open innovation, cooperação. Abrem
suas idéias, promovem a discussão aberta, compartilham suas idéias à busca de
obter um produto superior a partir da construção de um conhecimento coletivo.
Vou mais além. Proteção a direitos do autor, luta contra a pirataria. Uma luta
talvez inglória. No sentido oposto, alguns autores distribuem gratuitamente seus
livros. Copiem-no. Paguem para vir me ouvir falar em meus seminários, em minhas
apresentações. A banda Calipso, classificada como TecnoBrega, que não ousei
ainda ouvir, antes de fazer seus shows em uma cidade, inunda os camelôs com seus
discos para serem distribuídos, vendidos baratinho. Encara a venda como elemento
promocional para seus shows.
É digno querer defender seus direitos de autor, combater a pirataria, querer
cobrar quanto achar que vale o fruto de sua criação. Digno sim. Pirataria é
crime! Mas é a melhor estratégia? Minha opinião é que ao entrarmos em uma era
onde o nome do jogo é difusão de informação e conhecimento e não proteção, ganha
quem o usa bem e não quem o cria ou o detém.
Fernando C. de Almeida é Professor do curso de Monitoramento Estratégico e
Inteligência Competitiva da FIA - Fundação Instituto de Administração e
Professor do curso de pós Administração da Informação e Inteligência da Empresa,
na FEA/USP. O acadêmico é pesquisador na área de inteligência e monitoramento
estratégico antecipativo e Doutor em Ciências de Gestão pela Université Pierre
Mendes France de Grenoble, na França.