Ações / Bolsa de Valores - Divã do investidor: o que define curto, médio e longo prazo no mercado de ações?
Na busca por maior proximidade com o cotidiano e os questionamentos do
investidor, a InfoMoney lançou um canal no Fórum aberto à experiência de
investimento de cada um. A primeira matéria relacionada ao "Divã do Investidor"
tenta esclarecer o ponto divergente entre os membros do fórum na semana passada:
o que define curto, médio e longo prazo em ações.
O impasse deixa clara a complexidade da questão. Os prazos de investimento são
intervalos de tempo um tanto pontuais quanto conceituais. Grosso modo, não há
regra estabelecida para a questão. Além de depender do perfil de cada
investidor, são tratados de diferentes maneiras por cada escola do mercado.
Na teoria contábil, vira longo prazo tudo que não entra no balanço daquele
exercício. A partir daí, uma virada de ano assume caráter de divisor de águas.
Caminhar pelas outras teorias traz à tona o impasse entre os leitores. Na visão
corporativa, um plano de investimento de longo prazo chega a relacionar período
entre 6 a 10 anos, como exemplo atual a exploração do pré-sal pela Petrobras,
com início previsto para 2017.
Mas como disse o 'Buy and Holder' do fórum: "em 1 ano a bolsa pode não ser
racional. Como muitos dizem, ela só passa a ser racional no longo prazo". Esta
frase traz à tona outra questão. Apesar dos disclosures dos relatórios de
analistas estimarem um intervalo de tempo, em média de 3 meses para curto e mais
de 1 ano para longo prazo, a definição de periodicidade no investimento em ações
pede uma visão mais contextual e menos prática.
Longe do consenso
Em relação ao tempo em si, depende do perfil de cada investidor. Os traders que
assumem uma postura mais arrojada podem classificar curtíssimo prazo como um
gráfico de cinco minutos e longo prazo algo não muito distante de um mês. Para
os mais conservadores, um olhar de longo prazo chega a beirar os planos de
aposentadoria.
Alimentando ainda o debate entre as diferentes teorias, a econômica considera o
curto prazo como período em que apenas um dos fatores produtivos pode variar. O
longo prazo já compreende a possibilidade de mexer em mais de um fator. Esta
análise traz à tona a visão de que no curto prazo, uma ação é afetada por
fatores exógenos. Já no longo prazo, os fundamentos e fatores endógenos do papel
prevalecem.
- Diferentes pontos de vista - |
"Longo prazo não tem período definido, mas a análise fundamentalista
considera períodos superiores a 1 ano. No curto prazo a análise fica
difícil, aí os grafistas levam vantagem", O Analista - Paulo
Esteves, da Gradual Corretora.
"Em ações, não existe categorização bem definida. Mesmo no longo prazo,
a ação está sujeira às variações [exógenas] de mercado", O Professor
de Finanças - Eduardo Coutinho, do Ibmec de Minas Gerais.
"Curto prazo é intraday, o mais difícil de fazer negócios, pois
estamos expostos aos ruídos do mercado. Médio prazo é o que vai
acontecer até o final do ano. Longo prazo são os ciclos
econômicos - exemplo de 2003 a 2008, os cinco anos de alta do Ibovespa",
O Operador - Carlos Fraga, gerente de homebroker da TOV
Corretora.
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O professor de Finanças do Ibmec de Minas Gerais, Eduardo Coutinho, argumenta
que uma ação está sujeita às variações de mercado mesmo no longo prazo. Nos
comentários dos analistas, no entanto, esta premissa mais conceitual dos prazos
é sim levada em conta. Paulo Esteves, da Gradual Corretora, ressalta que longo
prazo é mais fundamento e menos fluxo de notícias e negócios, exatamente o
oposto de curto prazo.
Menos prática e mais contexto
Daí parte uma alternativa muitas vezes esquecida pelo investidor. Ler 'longo
prazo' em um relatório pede paciência para a precificação dos fundamentos da
empresa, enquanto uma recomendação a intervalo de tempo mais curto remete ao
cenário que afeta tal ativo naquele momento.
John Maynard Keynes, um dos mais influentes economistas do século XX e um dos
fundadores da macroeconomia, certa vez afirmou que "no longo prazo todos
morreremos". Com o debate entre prática e conceito envolvendo diferentes perfis
e as mais variadas opiniões, a frase de Keynes parece a única verdade absoluta,
que satisfaz a todos os pontos de vista.
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