Retorno ainda é competitivo na comparação com os fundos de renda
fixa.
Para economistas, período prolongado de juros altos pode alterar quadro.
Marcelo Cabral Do G1, em São Paulo
Reportagem que prestamos ao jornal G1
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Em tempos de turbulência na economia mundial e de perda de mais de
18% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em 2008, a poupança é considerada
a forma de aplicação mais segura para os investidores, especialmente para quem
não tem experiência no mercado financeiro e não deseja expor parte
do patrimônio a uma economia incerta.
“Para o pequeno e médio investidor, o melhor pedido é a poupança”, diz
Alexandre Lignos, da IGF Consultoria. “Protege da inflação, não dá susto
em quem não conhece direito o mercado e é cômoda para quem vai precisar do
dinheiro a curto prazo”, completa ele. “No momento atual, a poupança é mais
simples e fácil. Não cobra taxa de administração nem Imposto de Renda”, concorda
o economista Roberto Luis Troster.
RENDA FIXA
Confira como funcionam algumas das principais aplicações
Investimento
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Características
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Poupança |
É o fundo de
investimentos mais popular do país. As regras são estipuladas pelo
Banco Central e o investidor pessoa física não paga Imposto de
Renda. O retorno é feito pelo valor da Taxa Referencial (TR –
indicador calculado pelo governo a partir da média de juros e outros
indicadores financeiro), acrescida de 0,5% ao mês. |
Fundos pós-fixados |
São formados por uma
cesta de títulos cujo retorno é atrelado a um determinado indicador
financeiro, que pode ser a taxa de juros Selic, o índice Ibovespa da
Bolsa de Valores de São Paulo ou algum indicador de inflação, entre
outros. Tendem a proporcionar mais retorno em períodos de elevação
nos juros. Os mais conhecidos são os chamados fundos DI. |
Fundos pré-fixados |
Os papéis que compõem
essa aplicação já especificam no momento da compra o quanto irão
pagar de lucro ao final do período de investimento. Entre os mais
conhecidos estão alguns títulos diretos do governo federal, como as
Letras do Tesouro Nacional (LTN). A tendência desse tipo de
investimento é aumentar seu retorno em épocas em que as taxas de
juros apontam para baixo. |
Retorno
Segundo os economistas, são os impostos e as taxas cobradas pelos bancos que
fazem a diferença na hora de entender o porquê da poupança conseguir manter um
rendimento competitivo frente, por exemplo, aos fundos de renda fixa, que também
costumam ser apontados como outra opção atraente em tempos de agitação do
mercado de ações.
Especialista responde perguntas sobre finanças pessoas no vídeo ao
lado
É só fazer a conta: quem aplicou na poupança no dia 1º de setembro do ano
passado teve uma rentabilidade de 7,2%, segundo dados da Associação Brasileira
das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Já os fundos de renda
fixa deram um retorno médio de 12% no período, de acordo com Associação Nacional
dos Bancos de Investimento (Anbid).
Porém, o retorno da poupança vai todo para o investidor, enquanto no caso da
renda fixa é preciso pagar uma série de tributos. O imposto de renda sozinho já
significa uma mordida de 20% sobre o lucro médio, diminuindo o retorno para
9,6%.
Sobre esse percentual ainda incide a chamada taxa de administração, que é
cobrada pelo administrador do investimento – normalmente um banco – pela
manutenção da aplicação. Dependendo do administrador, essas taxas podem chegar
até a 4% ao ano sobre o rendimento.
Em alguns casos, também pode ser cobrado outro tributo conhecido como taxa de
performance, que é aplicada caso algum fundo ultrapasse sua previsão de
rentabilidade.
Zero a zero
Após a aplicação de todas essas taxas, ambos investimentos têm um retorno
muito próximo. “A poupança é uma maneira de ter menos trabalho, com lucro
parecido. Muitos investidores acham que, na conjuntura atual, a renda fixa causa
muita bagunça para ficar no ‘zero a zero’", diz Marcos Crivelaro, professor da
Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap).
É por isso que os analistas defendem que a renda fixa só se torna atrativa
para volumes maiores, de pelo menos US$ 20 mil. “Aí sim seu retorno ganha volume
e ele passa a valer os esforços burocráticos”, diz Alexandre Assaf Neto,
professor da Fundação Instituto de Pesquisas Atuariais, Econômicas e Financeiras
(Fipecafi).
Aumento dos juros
Segundo os economistas consultados pelo G1, o que pode mudar
esse quadro é a permanência de um cenário de juros altos por mais tempo. Nesse
caso, os fundos do tipo pós-fixados – aqueles que remuneram de acordo com algum
indicador, como a própria taxa de juros Selic, por exemplo – tendem a se tornar
os mais atrativos. Afinal, quando a tendência dos juros é de alta, a
rentabilidade também aumenta junto.
O mais conhecido desse tipo de fundo pós-fixados são os chamados DI, formados
por uma cesta de títulos cuja rentabilidade é ancorada na taxa de juros – e que
por isso são classificados como fundos referenciados. “Para quem quer se
aventurar um pouco mais além da poupança, os DI são os mais atrativos no
momento”, informa Troster.
A recomendação para o investidor antes de fazer uma aplicação do tipo
é checar a taxa de administração cobrada, que tem apresentado grande variação
grande entre os diversos bancos. “Normalmente uma taxa superior a 2% anuais é
considerada cara”, avisa Crivelaro. “Vale a pena ficar de olho nas taxas, porque
a rentabilidade quase sempre depende dessa variável”, alerta André Oda,
professor da Universidade de São Paulo (USP).
Mudança de panorama
No entanto, uma eventual queda da taxa de juros pode mudar essa situação.
Nesse caso, os fundos pós-fixados perdem competitividade e a melhor opção passa
para os investimentos do tipo pré-fixados, nos quais a taxa de retono é
conhecida já na hora do investimento.
“É por isso que é importante sempre acompanhar o panorama econômico. Se a
conjuntura se altera, dá tempo para mudar os investimentos de lugar”, explica
Assaf Neto.
A maioria dos analistas não vê hoje a possibilidade de mudanças bruscas no
panorama econômico. “Acho que o cenário atual deve se manter pelo menos até o
final do ano. É difícil imaginar hoje espaço para uma queda na taxa de juros.
Temos inflação no limite da meta estipulada, dificuldades econômicas sérias nos
EUA e problemas monumentais com gastos públicos no Brasil”, projeta o professor
da Fipecafi.