Finanças pessoais - Investimentos devem preservar poder de compra
Diante do quadro de aceleração da inflação e de alta da taxa básica de juros
(Selic), a estratégia do investidor no curto prazo deve ser buscar proteção para
o poder de compra de seu dinheiro. Consultores de finanças pessoais são unânimes
em afirmar que, para o momento, são indicadas as aplicações que pagam a inflação
mais juros ou que acompanham a evolução dos juros no mercado, e não as
prefixadas, cuja remuneração é acertada no momento do investimento e pode ficar
defasada até o resgate.
"As aplicações prefixadas são as de maior risco na renda fixa agora porque não
se sabe até quanto a inflação e os juros podem subir", diz Fábio Colombo,
consultor de investimentos.
Os consultores afirmam também que a estratégia de vincular a remuneração à
inflação ou à Selic vale apenas para o dinheiro novo. "Para as expectativas de
elevação de inflação e juros atuais, não vale a pena movimentar o dinheiro que
já está aplicado de forma diferente por causa do alto custo com Imposto de Renda
na migração", diz o consultor Marcos Crivellaro.
Nas movimentações em fundos em menos de 30 dias de feita a aplicação há também
desconto de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). "Com a possibilidade de
alta da inflação e de juros, todos as aplicações vinculadas a índices de preços
e a juros se tornam mais atraentes no curto prazo", diz o professor da Trevisan
Escola de Negócios Alcides Leite.
É nesse quadro que fundos de renda fixa e títulos públicos federais, cuja
remuneração seja definida por índice de preço mais juros, são os mais indicados.
Na expectativa de que uma alta da inflação seja acompanhada de uma alta dos
juros, os consultores indicam também títulos públicos pós-fixados vinculados à
Selic ou fundos e CDBs corrigidos pelo DI.
"Como não se sabe se a inflação vai subir mais rápido que os juros ou se os
juros vão correr na frente da inflação, o ideal é um fundo de renda fixa que
misture títulos corrigidos pela inflação com títulos vinculados à Selic",
orienta Colombo.
No mercado, poucos fundos de investimento têm estratégia de adotar a inflação
como objetivo de rentabilidade. Na Caixa Econômica Federal, o fundo FIC Capital
Renda Fixa Longo Prazo aplica preferencialmente em ativo indexado a índices de
preços.
"O objetivo do fundo é dar rendimento próximo da inflação", diz Marcelo de
Jesus, gestor nacional de Renda Fixa da Caixa. "Desde o início do ano, com a
perspectiva de avanço da inflação, estamos aumentando a participação de títulos
corrigidos pelo IPCA na carteira e de janeiro a abril o rendimento foi de
inflação (IPCA) mais 2%."
TESOURO DIRETO
O investidor tem também a opção de comprar títulos do governo diretamente, por
meio do site do Tesouro (www.tesourodireto.gov.br). Podem ser corrigidos pela
inflação (IPCA) mais juros, denominados Notas do Tesouro Nacional série B
(NTN-B), como Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), corrigidas pela Selic.
Os CDBs indexados ao DI e fundos DI também oferecem proteção para a alta dos
juros, mas, se os juros subirem em ritmo mais lento que a inflação, o desempenho
desses papéis ante o avanço dos preços será prejudicado. "CDBs exigem cuidado
adicional porque, em geral, apenas valores de R$ 50 mil a R$ 60 mil recebem taxa
vantajosa", explica Crivellaro.
Embora as aplicações prefixadas sejam arriscadas para o curto prazo, Leite
avalia que elas sejam interessantes agora com a perspectiva de longo prazo
porque a tendência é os juros voltarem a cair em 2009. "A compra de Letras do
Tesouro Nacional (LTNs) prefixadas, neste momento em que a taxa está elevada,
pode travar um rendimento interessante para o futuro, quando as taxas já estarão
mais baixas", explica. "Para o curto prazo, melhor optar por LFTs, vinculadas à
variação diária da taxa de juro, ou NTN-B, corrigidas pela inflação."
No Tesouro Direto, "a NTN-B é boa alternativa, está pagando de 7% a 8% ao ano,
conforme o vencimento, mais a correção pelo IPCA", concorda Colombo. Na compra
de papéis diretamente no site do Tesouro, Colombo orienta o investidor a
comparar a taxa das corretoras por meio das quais as operações podem ser feitas.
"A taxa de custódia cobrada é fixa, de 0,40%, mas a das corretoras é livre e há
grandes diferenças, especialmente para valores menores."
Segundo informações do site do Tesouro, a aplicação mínima em títulos é de cerca
de R$ 200. A aplicação pode ser feita diretamente no site, por meio de uma das
corretoras ali cadastradas (há link para uma lista delas), onde há também um
passo a passo da aplicação.
CADERNETA
O grande trunfo da caderneta é ser isenta de Imposto de Renda, mas, diz Leite, a
vantagem é válida quando os juros no mercado são de 11% ou menos. A aplicação
tem juro garantido de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial mensal, calculada com
base numa cesta de CDBs.
Na comparação com fundos de investimento de renda fixa ou DI, a caderneta pode
levar vantagem mesmo no cenário de juro maior, dependendo da taxa de
administração do fundo, diz Colombo. "Para investimento até seis meses, prefira
a caderneta se o fundo cobrar mais de 2,5% de taxa ao ano; acima de 2 anos,
prefira a caderneta, se o fundo cobrar taxa anual acima de 3% a 3,5% ao ano."
BOLSA
Aplicações em bolsa de valores também não são descartadas neste momento.
Crivellaro indica a compra de ações como diversificação. "A rentabilidade em
bolsa em médio e longo prazo supera a inflação. Para curto prazo o risco de
perda aumenta", observa. Ele indica a compra de cotas de fundos de ações
indexados ao índice da Bolsa paulista (Ibovespa). "Não é bom neste momento
apostar em ações de setores específicos ou de uma ou duas empresas."
FRASES
Fábio Colombo
Consultor
"As aplicações prefixadas são as de maior risco na renda fixa agora, porque não
se sabe até quanto a inflação e os juros podem subir"
Marcos Crivellaro
Consultor
"Não vale a pena movimentar o dinheiro que já está aplicado, por causa do alto
custo com Imposto de Renda na migração"
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