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Ações / Bolsa de Valores - Interatividade é tudo 

Data: 30/09/2008

 
 
Para transformar o investimento em práticas sustentáveis em valor aos acionistas, empresas precisam melhorar sua comunicação

 Por Léa de Luca

Marco Antonio Fujihara, coordenador da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) e diretor da Totum Sustentabilitas, é engenheiro agrônomo formado pela Universidade de São Paulo, com doutorado na escola de governo da Harvard University. Nos últimos 25 anos, acumulou experiências atuando no setor florestal internacional, como funcionário do Banco Mundial, e no IBAMA. Antes de abrir, com um grupo de sócios, suas duas empresas – o Instituto Totum e a Sustain Capital – Fujihara era diretor de sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers no Brasil.

Conhecido e reconhecido pelas suas idéias criativas e pelo grande conhecimento técnico do assunto, Fujihara é especialista em mercado de crédito de carbono, razão pela qual foi escolhido pelo BNDES para gerir o primeiro fundo brasileiro dedicado a investir apenas em empresas geradoras desses créditos. A gestora de recursos Sustain Capital acaba de receber autorização para lançar o fundo, que pretende captar R$ 500 milhões.

O Instituto Totum trabalha basicamente com sustentabilidade, é focado em geração de valor a longo prazo, e monta sistemas de certificação em auto-regulação, como o selo Abic para a indústria de café – segundo o consultor, essa é uma tendência cada vez mais explorada pelas áreas de consultoria no Brasil. “Abrimos há um ano e meio com 12 pessoas e hoje temos mais de 70.” Entre seus clientes estão as maiores empresas do País, como Bradesco e Vale, por exemplo. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo especialista à Razão Contábil:

Razão Contábil – Como as empresas brasileiras estão comunicando a adoção de práticas sustentáveis nos seus negócios?


Marco Antonio Fujihara –
O web site é uma grande ferramenta que poderia ser mais bem utilizada para comunicar, mas na maioria dos casos os sites dedicados à sustentabilidade nas empresas não têm interatividade suficiente. Por exemplo, outro dia precisava saber quantas milhas eu tinha acumuladas numa companhia aérea, e pelo telefone não consegui nada, fiquei muito tempo esperando; quando entrei no web site da empresa foi muito mais fácil, vi uma atendente on-line, só tive de esperar um pouco, mas já sabia que era o terceiro da fila – e funcionou. Os web sites das companhias abertas são pensados apenas para os acionistas, se fossem voltados a todos os públicos seriam mais eficientes, divertidos, interativos. Minha impressão é a de que os sites são ainda muito mais mercadológicos do que comunicativos; sinto que falta maior interatividade.

RC – Qual é a importância da interatividade?


MAF –
Qualquer um se sente mais próximo de uma empresa que oferece mais interatividade, que disponibiliza chats na sua página na internet, por exemplo. Mas isso é pouco usado, como é pouco usado também um recurso geográfico hoje muito acessível que poderia ser muito útil – uma mineradora de grande porte, por exemplo, poderia usar o programa Google Earth, em tempo real, mostrando o que está acontecendo nas áreas de mineração...

RC – Quem adota boas práticas de sustentabilidade e governança pode ser prejudicado por não comunicar direito essas ações, não ter essas informações disponíveis nos sites?


MAF –
Na verdade as empresas que têm boas práticas já sabem se comunicar com seus públicos, o problema é que elas colocam tudo em pacotes. A disponibilidade de informações é muito grande, mas elas estão divididas em pacotes, estanques, não têm interatividade nem organicidade. Muitas vezes quem acessa informações em um site de uma empresa grande, quando tem alguma dúvida não tem como esclarecer. Isso já aconteceu comigo. As empresas poderiam usar melhor as ferramentas, os recursos disponíveis, a internet serve para facilitar a comunicação em tempo real, a interatividade permite saber, prever as coisas antes de elas acontecerem; e sustentabilidade não é só uma questão de boas práticas gerenciais...

RC – No que mais consiste a sustentabilidade?


MAF –
Quem investe em sustentabilidade busca reputação, não apenas imagem, imagem um bom marqueteiro faz, reputação leva tempo para construir. Ferramentas de interatividade ajudam nessa construção, na medida em que ajudam a descobrir se a empresa está falando uma bobagem, se tem compromisso de fato com aquilo ou não. Interatividade gera compromisso. É o que acontece quando as pessoas conversam, fica mais fácil perceber conversando do que lendo se alguém está falando a verdade ou não. São os compromissos com a comunidade, com os públicos, e sua comprovação, o que mostram sustentabilidade. E cada vez mais, o uso da tecnologia e dessas ferramentas permite uma comunicação com rapidez, democrática, interativa, a custos baixos...

RC – Onde mais é preciso avançar?


MAF –
Faltam métricas, sistemas para medir sustentabilidade. O ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial, da Bovespa) e o Dow Jones Sustainability (da Bolsa de Nova York), por exemplo, são tentativas de medir, mas ainda baseadas apenas em questionários. A primeira peneira deve ser mesmo um questionário, mas seria preciso evoluir, identificar evidências. Temos também de “desideologizar” o processo...

RC – Desideologizar?


MAF –
Uma empresa que produz tabaco, por exemplo, ou uma fábrica de armamentos, podem ser sustentáveis, se tiverem boas práticas de tratamento de resíduos. Não estou discutindo a finalidade da organização, estou discutindo as práticas. É preciso também que as empresas se preocupem em criar canais de comunicação com seus públicos, até questões político-ideológicas têm de ser tratadas por meio de canais de comunicação mais abertos, interativos. É um caminho difícil, principalmente para empresas geograficamente dispersas, mas é preciso tentar, as empresas têm de conseguir fazer isso. Um exemplo de questão ideológica influindo na percepção da sustentabilidade de uma empresa é a Petrobras. Suas ações são as mais negociadas na Bovespa, mas ela quase ficou fora do ISE. E olha que a empresa está sempre bem-colocada em rankings globais de sustentabilidade...

RC – Em relação a empresas estrangeiras, em que estágio estão as empresas brasileiras?


MAF –
Já evoluímos um bocado, mas falta muito ainda. A maioria dos relatórios, por exemplo, são peças de marketing, instrumentos de prestação de contas, a serviço das áreas de comunicação das empresas... Os marqueteiros, que pegaram a bandeira da sustentabilidade e saíram correndo com ela 20 anos atrás, têm grande mérito na difusão do conceito, mas é preciso conteúdo, consistência...

RC – E como é possível diferenciar o que é puro marketing do que é verdadeiro?


MAF –
Hoje já existem indicadores, como o GRI (Global Reporting Initiatives), que é aceito globalmente, que mede a performance de uso de água, de outros recursos... é um jeito de fazer relatórios com consistência...

RC – No Brasil nem todas as empresas produzem relatórios com base no GRI...


MAF –
Existe um padrão local, do Ethos, mas é preciso usar parâmetros globais. Não adianta fazer coisas muito tupiniquins, precisamos tropicalizar indicadores sim, mas temos de ter um sistema de vasos comunicantes, que seja global, e que possa ser reconhecido globalmente. Afinal a característica fundamental da sustentabilidade é a comparabilidade. Nesse sentido o trabalho sobre web sites que vocês estão divulgando nessa edição é muito importante, permite às empresas se situarem num ranking, se compararem às outras...

RC – A convergência de parâmetros é uma tendência global, já chegou aos balanços financeiros, discute-se agora até a convergência tributária...

MAF –
Comparabilidade é o que dá valor. Valor hoje é percepção. Antigamente, o valor de um bem era dado pela sua utilidade: uma simples xícara no deserto vale muito mais do que aqui, porque é útil para carregar água. Hoje, valor está ligado à propensão que o público consumidor (ou o investidor) tem de pagar por ela, ou seja, quem manda é a demanda. E as ações, pedacinhos das empresas que são negociadas na Bolsa, valem o que as pessoas estão dispostas a pagar por elas. Os investidores estão mais dispostos a pagar mais por uma empresa que tem menos reputação, ou por uma que tem mais reputação? Por isso é que se diz que sustentabilidade gera valor, e gerar valor significa perenizar o negócio. No fundo, sustentabilidade está ligada à percepção do valor que as pessoas têm daquela empresa. Sustentabilidade é perenidade...

RC – A maioria das empresas que nos últimos anos investiu mais em sustentabilidade está viva e bem até hoje? Por exemplo, o banco holandês ABN, conhecido como pioneiro na adoção de boas práticas, principalmente socioambientais, acabou comprado, desapareceu...


MAF –
Mas é uma exceção. Veja que cada vez mais os gestores de fundos de pensão, com a obrigação de pagar aposentadorias no futuro, preferem não arriscar em opções de investimento voláteis, escolhem empresas que têm rentabilidade estável a longo prazo. Sustentabilidade tem de ser vista sempre a longo prazo...

RC – Uma empresa fabricante de cigarro, por exemplo, produto que está sob forte bombardeio, pode se sustentar no tempo?


MAF –
As empresas vão se adaptando, mudando os produtos, de acordo com as novas percepções mercadológicas. No caso dos cigarros, inventaram o filtro branco, baixos teores, sabores... Se a empresa adotar práticas sustentáveis vai saber como se adaptar, inventar substitutos, e vai sobreviver...

RC – Tem como medir essa sustentabilidade pela valorização das ações?


MAF –
Aqui temos o ISE, que é um bom começo – precisa ser aprimorado, algumas coisas precisam ser mexidas, mas já é um grande começo.

RC – E já existem investidores que só colocam seu dinheiro em empresas que fazem parte do ISE?


MAF –
Claro, principalmente os investidores de longo prazo, como os institucionais (seguradoras, fundos de pensão), que são os maiores investidores do mundo. E esta é uma tendência crescente. Por exemplo, sou sócio de uma empresa que acaba de lançar um FIP (Fundo de Investimento em Participações), o Brasil Sustentabilidade, com prazo de aplicação de dez anos...

RC – Qual é o foco do fundo?


MAF –
Estamos ainda escolhendo as empresas, que além de sustentáveis precisam ser geradoras de créditos de carbono, de acordo com as regras estabelecidas pelo protocolo de Kyoto. São vários pré-requisitos, as empresas precisam responder a um extenso questionário. O administrador é o Bradesco, que também é custo diante; e o gestor somos nós (Sustain Capital Management).

RC – E tem espaço para esse tipo de fundo hoje?


MAF –
Há dois anos não teria, mas hoje, veja bem, o investidor-âncora é o BNDES. Este é o único fundo de private equity que existe hoje no mercado com esse perfil (investir só em empresas geradoras de créditos de carbono). E a participação do Bradesco é importante para mostrar que o fundo não é uma aventura, é sustentável, visa à perenidade. Queríamos um banco de varejo, tradicional, sólido, brasileiro, para dar o aval a essa iniciativa totalmente inovadora; não copiamos o modelo de ninguém: o regulamento é rígido, único, e deu muito trabalho discuti-lo com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas finalmente conseguimos registrá-lo, no começo de junho. Não estamos querendo nada volátil, para ganhar um milhão hoje e perder um milhão amanhã... queremos um investimento a longo prazo.

RC – Afinal, qual é sua definição para empresa sustentável?


MAF –
É simples. No fundo, é sinônimo de perenidade. Não é eternidade, não dá para medir em anos. Esse horizonte muda com o tempo, como o negócio da empresa pode mudar com o tempo. Mas a perspectiva ganha longevidade. Porque a empresa ganha reputação, passa a ser percebida como uma empresa digna, passa a ser mais valorizada.

RC – É possível ser sustentável e gerar lucro?

MAF –
Claro, é factível mesmo. Por exemplo, estamos agora dando consultoria para uma empresa que quer repensar seu processo de sustentabilidade interna, o que é difícil pela falta de réguas, de métricas... mas eles já estão mudando sua atitude perante os investidores. Acredito que quem vai mudar a postura das empresas são os investidores, o mercado de capitais exige e vai ajudar a mudar o cenário mais depressa, assim como o sistema financeiro exige dos clientes e também ajuda a acelerar o processo. E, além disso, é importante reforçar que sustentabilidade é muito ligada a como a empresa é percebida. Algumas empresas fazem muito e não sabem comunicar, e vice-versa... por isso a interatividade é tão importante.

RC – Para quem caminha na corda bamba entre o lucro e o prejuízo, por exemplo, usar papel reciclado, que é caro, e pagar todos os impostos – duas práticas sustentáveis – não pode comprometer a sobrevivência, a sustentabilidade da empresa?


MAF –
Primeiro, é preciso derrubar certos mitos, porque usar papel de eucalipto certificado, por exemplo, é mais sustentável no Brasil do que usar papel reciclado... enfim, tudo depende da gestão. Tem de ter um planejamento, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo.
 


 
Referência: acionista.com
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