Dívidas / Endividado ? - Matemática da dívida: dificuldade com números pode ser vilã do orçamento
Crédito, empréstimo, inflação e taxa de juros são palavras que fazem parte da
rotina dos brasileiros e estão presentes diariamente nos noticiários.
Por fazerem cada vez mais parte do nosso dia-a-dia, devem estar presentes,
também, em nosso planejamento financeiro. A alta dos preços, o crédito
facilitado e os juros, assim como estão na economia, devem constar em nosso
orçamento, para que não sejamos pegos de surpresa no final do mês.
A matemática do endividamento
De acordo com o professor de matemática do Colégio Módulo, Antonio Carlos Lessa,
é comum encontrarmos pessoas reclamando de sua situação financeira fragilizada,
procurando sempre um culpado para tal fato. "É verdade que maior parte da
população trabalha com orçamentos apertados, com salários abaixo do patamar
ideal, mas o comprometimento da renda do trabalhador poderia ser melhor
direcionado se alguns cuidados fossem tomados", disse o professor.
Para ele, as armadilhas financeiras às quais estamos sujeitos podem ser
visualizadas antes mesmo de sua ocorrência. "Mas, para que isso ocorra, é
necessário um conhecimento prévio dos sistemas financeiros que regem nossa
sociedade", explicou.
Segundo o professor, mesmo que não seja de forma aprofundada, é necessário
identificar fatores importantes dentro de uma operação financeira, como juros e
prazos, e suas diferentes formas de apresentação.
Na ponta do lápis
De acordo com planejadores financeiros, um empréstimo não deve comprometer 30%
do rendimento mensal da pessoa. No entanto, na hora de tomar um empréstimo, que
variáveis devem ser avaliadas?
O ideal seria considerar o valor do bem à vista e depois comparar com o valor
após o financiamento, considerando taxa de juros, encargos, prazos, parcela
mensal etc.
No entanto, segundo estudo do economista Domingos Rodrigues Pandeló Júnior,
professor do Ibmec São Paulo, com os prazos cada vez mais alongados na
contratação de um empréstimo, as pessoas, mesmo com os juros altos, não
consideram as taxas na hora da compra, ficando atentas apenas ao valor das
prestações, mais baixo por conta do maior tempo para o pagamento.
"Quando o assunto é a tomada de crédito, os indivíduos têm demonstrado uma
grande falta de racionalidade econômica", concluiu o economista.
Apesar de estudos concluírem que, na tomada de decisões econômicas, a emoção
fala mais alta que a razão, um conhecimento um pouco maior de operações
matemáticas poderia ajudar o consumidor a manter seu planejamento financeiro
mais alinhado.
Por exemplo: um carro custa R$ 30 mil à vista, mas você pode pagá-lo em 60
parcelas de R$ 667,33 ou em 40 parcelas de R$ 913,67. Assumindo que ambas as
opções cobram taxa de 1% ao mês, qual seria a mais viável?
É bastante comum, como já disse o professor Pandeló, o consumidor escolher a
primeira opção, olhando apenas para a parcela mensal e sem avaliar as demais
variáveis. No entanto, um cálculo rápido nos permite afirmar que, ao final do
pagamento, a segundo opção é a mais vantajosa, como mostra a tabela abaixo:
|
40 meses |
60 meses |
Valor do carro (R$) |
30 mil |
30 mil |
Taxa de juro (a.m.) |
1% |
1% |
Parcela mensal (R$) |
913,67 |
667,33 |
Valor final do carro (R$) |
44.665,91 |
54.500,90 |
Os cálculos consideram apenas as taxas de juros, sem levar em contra
outros encargos incidentes sobre operações de financiamento
Aprendizado
Segundo o professor Lessa, este tipo de conhecimento não deveria se restringir
ao cidadão economicamente ativo, portanto, para que não se tenha que corrigir
uma situação, é necessário previni-la. "E isso só é possível se investirmos na
preparação e conscientização do indivíduo desde as séries iniciais da vida
escolar", disse.
"Não basta saber fazer um cálculo. É necessário entender a que ele se propõe,
objetivando uma formação adequada do cidadão quando ele ainda é criança. Mudar a
realidade no processo de ensino-aprendizagem de nossos jovens é primordial para
a qualidade de vida que desejamos que eles venham a ter no futuro, como cidadãos
socialmente responsáveis e livres de dívidas", concluiu o professor.
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