Impostos / Tributos - Imposto sobre fortunas: arrecadação chegaria a 4% do PIB, prevê especialista
O envio da PEC (proposta de emenda à Constituição) que institui a reforma
tributária trouxe à tona uma discussão antiga: a criação de um imposto para
taxar grandes fortunas. O PT afirmou que apresentará um texto com esse intuito.
Na avaliação do economista Amir Khair, especialista em análise tributária, o IGF
(Imposto sobre Grandes Fortunas) a uma alíquota de 1% garantiria uma arrecadação
aos cofres públicos que equivaleria a 4% do PIB (Produto Interno Bruto). "Bem
mais do que a CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira],
por exemplo, que representou 1,4% no ano passado", contou.
Quatro vezes o PIB
Estudos do FMI (Fundo Monetário Internacional) estimam que as grandes riquezas
mundiais somam US$ 190 trilhões e, o PIB mundial, US$ 48 trilhões. Isso mostra
que o patrimônio dos ricos é quatro vezes superior aos ganhos produzidos por
todos os países no mundo.
"No Brasil, onde a distribuição de renda é bem pior, essa relação pode ser ainda
maior", continuou Khair.
Em reais
Em valores atuais, continuou, o IGF poderia atingir R$ 100 bilhões por ano.
Dessa forma, pela proposta de reforma tributária do Governo, que garante divisão
dos ganhos, R$ 51,6 bilhões pertenceriam aos estados e municípios e os outros R$
48,4 bilhões ficariam com a União.
"Esse dinheiro poderia ser usados para compensar a desoneração da contribuição
ao INSS Instituto Nacional de Seguridade Social das empresas. Cada ponto
de redução no INSS corresponde a R$ 4 bilhões. Assim, a desoneração atingiria de
12 pontos percentuais", calculou.
1999 e 2000
Os estudos feitos pelo especialista levam em consideração dados antigos,
referentes aos anos de 1999 e 2000. Conforme o levantamento, apenas 0,9% dos
declarantes possuíam renda mensal superior a R$ 10 mil e detinham 15% do
patrimônio.
O mesmo percentual de 15% do patrimônio pertencia aos que tinham renda mensal
entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil e representavam 24% do número de declarantes. Quem
tinha renda mensal acima de R$ 10 mil possuía, em média, um patrimônio de R$
1,450 milhão e quem ganhava até R$ 1 mil, de R$ 47 mil, ou seja, 31 vezes menos.
Àquela época, uma das vezes em que a proposta de reforma tributária foi levada a
público, a Receita Federal divulgou dados consolidados do Imposto de Renda nos
quais era detalhada a distribuição do patrimônio por faixa de renda.
"Isso ainda não foi feito neste ano, por isso que não é possível atualizar os
dados", justificou o economista.
Sem definição
Conforme estudos preliminares do PT, são duas alternativas para esse novo
tributo: uma delas é apresentar uma lei complementar para regulamentar o imposto
na própria reforma; outra é definir a cobrança no artigo 149 da Constituição,
como forma de garantir um compartilhamento com estados e municípios.
Ainda não se sabe o que será caracterizado como grande fortuna: a idéia é que o
tema seja debatido no próprio Congresso, durante tramitação da PEC.
A PEC
A PEC da reforma tributária foi enviada ao Congresso no fim de fevereiro.
A matéria começa a tramitação pela Câmara e depois segue para o Senado. Por ser
uma proposta de emenda à Constituição, precisa passar por dois turnos de votação
nas duas Casas, com aprovação mínima de três quintos dos parlamentares.
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