Uma das funções da ciência de administração (ou método, se preferirem) que
recebe uma enorme dose de desentendimento e até injustiça é o conceito de
planejamento. É o patinho feio dessa história, é criticado de forma até
deselegante: tempo perdido, teoria pura, coisa de consultor (ou professor),
modismo ou negócio para empresa grande.
Os mais condescendentes afirmam: não funciona. Também pudera. Pelo menos um
ex-Ministro do Planejamento, figura importante e respeitada, formador de
opiniões, costumava dizer que no Brasil planejamento não servia pra nada, pois
em nosso País longo prazo equivaleria, no máximo, há três meses. Mesmo hoje,
esse tipo de resistência costuma com freqüência surgir na fase inicial de
entrevistas durante meus trabalhos de planejamento estratégico nas organizações.
Em meu ponto de vista, contesto seriamente essa afirmação. Com escusas pela
auto-referência e citação de currículo, mas depois de 36 anos de consultoria em
planejamento financeiro e estratégico, em Recursos Humanos e Universidade
Corporativa, concluí que planejamento é, no mínimo, fundamental. Em todas as
pesquisas que realizei em empresas triunfadoras de grande, médio e, atenção,
pequeno porte surgiu que, de alguma forma, todas costumam usar (e abusar) do
conceito de planejamento. Visão estratégica, antecipação de futuro, desenho de
cenários alternativos, plano tático, mentalidade estratégica ou qualquer nome
que se use, o importante é destacar que o processo de se antecipar o futuro
aumenta em muito o nível de conhecimento (e até sabedoria) sobre o nosso
negócio.
Vou mais além, acredito tanto nessas técnicas que nos últimos 25 anos tenho
dedicado um dia por ano à avaliação da minha trajetória pessoal e profissional.
De maneira formal, retiro-me para um hotel de praia ou de serra e faço a mim
mesmo as perguntas básicas que desenhei para a metodologia de estratégia de
empresa. Confesso que os avanços mais importantes que conquistei nesse período
surgiram desses momentos de reflexão. É claro que ao longo de cada ano me
mantenho permanentemente ligado às mudanças e ao acompanhamento dessa
trajetória. Vale lembrar que pesquisas realizadas com ex-alunos de Harvard
demonstraram que os 3% habituados ainda na fase acadêmica a escrever e perseguir
suas metas alcançaram em 20 anos um patrimônio maior do que os 97% restantes que
não davam atenção alguma ao ato de planejar.
Em realidade, o exercício do planejamento opera em quatro dimensões. Em um
primeiro plano, o cognitivo. Ao procurar conhecer o futuro e suas alternativas
ocorre o aumento do conteúdo e da profundidade de suas decisões. Nesse plano,
planejar é melhorar o nível de conhecimento do futuro de forma a nos permitir
escolher hoje a ação mais adequada. No entanto, sua mágica não fica por aí. Em
um segundo plano, quando se tem uma clara noção da intenção estratégica
desejada, nosso conjunto de energias e capacitações aumenta e se direciona
naturalmente para o foco proposto. Um terceiro plano, que denominamos de
“sintonia”, surge a partir desse foco. Nele, as oportunidades e o conhecimentos
existentes no mundo são filtrados e canalizados para o nosso projeto. Ao final,
já no patamar da magia, podemos recorrer a uma afirmação do nosso brilhante
Paulo Coelho: “Se uma pessoa tem um sonho vigoroso e consistente, o universo
conspira a favor”.
Por isso, costumo recomendar aos céticos que pelo menos sonhem. Já será um
grande passo na construção de um eficaz processo de planejamento.
Para concluir, uma motivação adicional. Praticamente a maioria dos empresários
com grande sucesso em negócios de pequeno porte afirma que um dos fatos mais
importantes de sua caminhada é a capacidade de sonhar. E disso, eles não abrem
mão.