Procurar emprego (ou manter-se nele) pode se transformar num verdadeiro
inferno. Para os empregados há sempre um "abismo" de competências, nunca
preenchido por seus esforços. Para os desempregados, jargões incompreensíveis,
discursos sobre competências, perfis e exigências impossíveis de serem cumpridas
na busca de uma vaga com carteira assinada. Há um solo poroso sobre o qual nos
movemos.
Cada dia surge uma nova sigla ou estrangeirismo, mas nossos problemas persistem.
Precisamos lançar uma luz sobre os "mitos corporativos". Um exemplo: o mercado
não aceita bem quem passa da chamada barreira dos 40 anos. Ou seja, toda a sua
experiência pode não servir para nada. Com faculdade ou sem a chapa pode
esquentar. O Brasil é um dos poucos países no mundo que despreza a maturidade e
experiência.
Outro exemplo corriqueiro: até que ponto os formatos atuais de testes, podem
determinar com razoável acuracidade o "que é" um indivíduo? Como se comportará?
Servirá para a organização? Será bom para você ou não? Não temos aí qualquer
fundamento científico, porque, afinal ciência é apenas uma escolha entre
metodologias. Qual sua aposta?
Confiar em estatísticas para medir o sucesso profissional é como ler a sorte na
mão. Mas, hoje todos estão sendo assim avaliados: antes da contratação uma
enxurrada de metáforas e planilhas. Depois empresas se decepcionam quando não
conseguem fazê-lo “render” ou integrá-lo às suas rotinas. O mesmo vale para o
colaborador, que logo se frustra com a distância entre o real e o prometido. Mas
ele não importa tanto assim...
Os profissionais estão se tornando cada vez mais invisíveis pela miopia
corporativa e as práticas massivas de recursos humanos. Frente às metas e
exigências de retorno imediato e da volatilidade ética das forças do mercado,
ninguém está isento de culpa! Isto invalida a conquista e retenção de talentos,
desmotiva a equipe e transforma os candidatos em cidadãos de segunda classe. Sem
falar na postura antiética e, muitas vezes ilegal de modelos. Na verdade,
vivemos uma ditadura de indicadores.
As chamadas rotinas dos subsistemas de RH, tais como: técnicas de seleção,
programas de desenvolvimento, atribuições e avaliações podem ter momentos
hilários, apresentar desafios, mas escondem armadilhas fatais para quem não
conhece o lado negro da força. Precisamos estar atentos para este quadro de
indignidade, ele afeta todos nós. Afinal, um dia podem lhe chamar para mais uma
reunião improdutiva e você estará na rua.
Aí são dois extremos: se tentar voltar eles não vai querer mais você, velhinho!
Se virar consultor e não tiver realmente diferencial irá apenas engrossar o
cordão dos palpiteiros. Se eu fosse você, começaria a pensar em abrir uma
pizzaria agora mesmo.