Administrar finanças
pessoais pouco difere de gerenciar o
caixa de uma empresa ou mesmo de um
país. Mudam apenas a proporção e a
complexidade. Você precisa analisar dois
conjuntos de contas: as receitas e as
despesas.
Se você é assalariado, é
fácil fechar as contas e saber o quanto
comprometeu de sua poupança ou renda
futura. Por outro lado, se você é
empresário, consultor, profissional
liberal, enfim, se exerce qualquer
atividade com remuneração variável,
talvez esteja diante de um problema
ainda maior, devido à eventual
sazonalidade de seus ganhos.
O lado das receitas é
normalmente meio engessado. O
assalariado pode buscar uma elevação de
sua renda fazendo horas extras, desde
que com a anuência da empresa. Uma
alternativa consiste em realizar
pequenos jobs, ou seja, trabalhos
autônomos para terceiros, a fim de
reforçar o caixa.
Já o profissional com
remuneração variável, ao mesmo tempo em
que não dispõe da segurança
proporcionada por um salário no final do
mês, tem à sua disposição a
possibilidade de, fazendo uso de sua
habilidade e criatividade, gerar novos
negócios, buscar novos clientes,
aumentar suas vendas.
Mas é no campo das
despesas que este jogo acontece. E o
segredo é relacionar todas os gastos
possíveis dividindo-os em categorias
conforme ilustrado a seguir:
- Grupo da Habitação:
prestação da casa ou aluguel, IPTU,
seguro residencial, condomínio, água,
energia elétrica, gás encanado ou de
cozinha, telefone fixo, manutenção da
casa;
- Grupo da Saúde:
assistência médica e odontológica,
farmácia, academia de esportes;
- Grupo da Alimentação:
gastos com alimentação básica em geral,
despesas em supermercado (inclusive
produtos de limpeza e higiene pessoal);
- Grupo da Educação:
escola e material didático dos filhos,
cursos, seminários, congressos, livros;
- Grupo do Transporte:
prestação do carro, IPVA, seguro
obrigatório, seguro do veículo,
combustível, multas, transporte
coletivo, estacionamento pago,
manutenção do carro;
- Grupo da Cultura e
Lazer: cinema, teatro, restaurantes,
bares, assinatura de revistas, TV a
cabo, provedor de acesso à Internet;
- Grupo das Despesas
Financeiras: tarifas bancárias, juros de
cheque especial e empréstimos, juros
embutidos em financiamentos;
- Grupos dos Diversos:
telefone celular, vestuário e
acessórios, empregada doméstica,
previdência privada.
Ainda que algumas contas
não tenham sido contempladas na listagem
acima, os itens relacionados já são
suficientes para demonstrar como nos
enganamos na administração de nossas
despesas pessoais. Isso acontece porque
estamos habituados a considerar apenas
aqueles gastos mais próximos e
palpáveis, negligenciando os que têm que
ser provisionados, ou seja, previstos
porque eventualmente ocorrerão. Isso
acontece, por exemplo, com medicamentos,
multas de trânsito e manutenção.
De todas as contas
apresentadas, uma muito perniciosa
merece atenção: juros e tarifas
bancárias. Isso porque desde o fim da
inflação inercial (aquela de 30% ao mês
que chegou ao extremo de 3% ao dia nos
idos dos anos oitenta) os bancos
passaram a cobrar por todo e qualquer
serviço prestado. Não é à toa que hoje
as tarifas bancárias são suficientes
para pagar, com folga, toda a folha de
salários da maioria dos bancos que atuam
no Brasil.
Uma pesquisa da
Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade
(Anefac), realizada no ano de 2002 com
3.477 consumidores na cidade de São
Paulo, demonstrou que 29,83% da renda
das famílias destinava-se ao pagamento
de encargos financeiros. Este índice
subia para 35,43% no caso do trabalhador
de baixa renda (um a cinco salários
mínimos).
Assim, diante deste
quadro, algumas sugestões mostram-se
pertinentes.
1. Monte sua própria
planilha de despesas de acordo com sua
realidade. Você concluirá, por exemplo,
não ser este o momento para adquirir um
carro ou trocar o modelo atual.
2. Analise quais gastos
podem ser eliminados, substituídos ou
reduzidos. Sempre com os olhos voltados
para sua receita, você descobrirá que
certos serviços precisam ser eliminados
de sua cesta, talvez reduzindo seu
padrão de vida atual. Isso pode
simbolizar o cancelamento da assinatura
da TV a cabo, uma visita a menos por mês
a um restaurante ou o uso mais regrado
do telefone celular.
3. Evite comprar por
impulso ou através de financiamento com
juros. Opte por comprar à vista, quando
for possível. Um exercício interessante
é aguardar uma semana para adquirir
algum novo bem. Após este prazo,
pergunte-se com franqueza se ainda
precisa daquele objeto.
4. Ataque de frente e
sem piedade suas despesas financeiras.
Saia do crédito rotativo do cartão de
crédito. Cancele-o e busque um juizado
de pequenas causas para efetuar o
pagamento do saldo devedor sem a
incidência atroz de juros que chegam a
15% ao mês. Faça o mesmo com seu cheque
especial, negociando seu parcelamento
com taxas reduzidas.
Em suma, tome as rédeas
de sua vida financeira e tenha na
disciplina sua maior aliada.