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Defenda-se - Fraudes contábeis 

Data: 26/06/2007

 
 

Introdução


O ano de 2002 viu o fim da era de explosão de negócios que já começavam prósperos e com preços de ações alcançando as nuvens. Realmente era bom demais para ser verdade. As empresas que ninguém poderia deter não tiveram os rendimentos esperados.

Ao invés disso, elas estavam "esquentando os livros" para dar a impressão de lucros que não existiam. Uma empresa é culpada por fraude contábil quando propositalmente inclui informações incorretas em suas declarações financeiras - manipulando despesas e receitas para melhorar seus rendimentos por ação do capital (EPS).

Neste artigo, veremos os truques que algumas empresas usaram para "rechear" suas demonstrações financeiras bem como saber por que agiram assim. Também examinaremos a queda de gigantes como a Enron e a WorldCom para ver o que aconteceu e onde elas estão agora.

Por que falsificar os livros de contabilidade?
O gerenciamento dos ganhos (ou "falsificação dos livros de contabilidade") é simplesmente uma maneira de fazer as coisas terem uma aparência melhor do que elas realmente são para manter os acionistas felizes, atrair novos investidores, atender orçamentos, e o mais importante, ganhar bônus executivos. Bônus executivos são vinculados a níveis específicos de receita, tornado-os extremamente tentadores para que se faça quase de tudo para atingir - ou parecer atingir - a meta. Mas nem toda a falsificação de livros de contabilidade é motivada pela ganância. Fazendo as receitas parecerem maiores do que realmente são, uma empresa em apuros poderia se manter à tona com dinheiro de investidores até que possa gerar um lucro real.


Foto cedida por USAF Services

Eis um exemplo: imagine que você é um garoto com uma banca de limonada e quer construir um telhado sobre ela para que seus clientes não se incomodem com o calor do sol. Você não tem dinheiro, mas seu irmão tem e não vai emprestar a não ser que ele saiba que vai ganhar algo no negócio. Você tem certeza que cobrir a banca fará toda a diferença porque seus clientes vão gostar de beber seus sucos na sombra fresca. Então você decide criativamente aumentar os números de suas vendas atuais e oferece a seu irmão uma chance de investir em seu negócio. Ele dá o dinheiro para construir o telhado em troca de 25% de seus lucros. Por uma razão qualquer, a banca coberta não aumenta a venda de limonada como você imaginava. Agora seu irmão está furioso, porque o lucro que ele pensou que faria estava baseado em números de vendas falsos. A esse ritmo, ele levará quatro verões para recuperar o dinheiro investido, e mais ainda para realmente lucrar.

Agradecimentos
Agradecemos a Michael W. Williams por sua assistência neste artigo.

Investidores são atraídos por ações com preços crescentes de empresas públicas, o que faz das declarações financeiras das empresas documentos extremamente importantes. Analistas de Wall Street dependem de documentes e informações das próprias empresas para fazer recomendações. A empresa depende do dinheiro de investidores para financiar o seu crescimento. Os acionistas esperam que as ações subam quando as compram. Quando o preço cai, eles perdem dinheiro (veja Como funcionam as ações e o mercado de ações para mais informações sobre ações e ganhos por cotas).

Um pouco do histórico da contabilidade
Os documentos mais importantes que uma empresa agrupa são as declarações financeiras. Estas incluem um balanço patrimonial, uma demonstração dos fluxos de caixa e uma demonstração dos resultados. Estes documentos descrevem quantitativamente a saúde financeira de uma empresa e são usados por quase todas as entidades que lidam com as empresas, incluindo os executivos da empresa e os próprios gerentes.

As demonstrações financeiras a seguir são normalmente preparadas trimestral e anualmente:


Bolsa de valores de Nova Iorque
 
  • o balanço patrimonial fornece uma visão instantânea ou geral da situação financeira da empresa em um dado momento. Isso inclui ativos e passivos e informa qual é o patrimônio da empresa;
     
  • a declaração de fluxo de capital mostra o dinheiro que está entrando bem como o dinheiro necessário para sair por um período. Ela é muito útil para planejamento de grandes compras ou para ajudar na preparação de períodos lentos dos negócios. Em termos simples, o fluxo de capital é igual à receita menos desembolso de dinheiro;
     
  • o relatório de lucros e perdas (também chamado de balanço) lista receitas e despesas. Ele também lista os lucros ou perdas dos negócios por um período. É útil para planejamento e ajuda a controlar despesas operacionais.

Bancos revisam as declarações financeiras para decidir se emprestam dinheiro a uma empresa (e qual será a taxa de juros caso decidam pelo empréstimo). Os investidores revisam os documentos para decidir se têm confiança suficiente na empresa para investir seu suado dinheiro. Os gerentes das empresas usam esses documentos para analisar os negócios e determinar se estão indo bem. Por tudo isso, é importante que eles sejam precisos.

Para empresas públicas, estes documentos são auditados por firmas de contabilidade externas que certificam se os documentos estão compilados de acordo com princípios gerais aceitos de contabilidade, ou GAAP. No entanto, estas firmas estão ainda à mercê das informações fornecidas pela empresa. Elas também estão interessadas em manter seus maiores clientes felizes.

O ato Sarbanes-Oxley de 2002
 


Foto cedida por MorgueFile Services
Em 2002, o presidente Bush assinou o ato Sarbanes-Oxley  para "restabelecer a confiança do investidor na integridade das revelações e relatórios financeiros das empresas" . O ato foi trazido à discussão devido a um grande número de casos de fraudes financeiras em empresas (como os da Enron, WorldCom, Tyco, Adelphia, AOL, e outros) e pelo final dos anos de "estouro" do mercado de ações. O ato requer que todas as empresas públicas apresentem estimativas trimestrais e anuais de efetividade de seus controles de auditoria financeira interna à Comissão de Títulos e Câmbio.

Cada um dos auditores externos das empresas deve também fazer a auditoria e relatar os controles internos de gerência e quaisquer outras áreas que possam afetar os controles internos. O diretor executivo e o diretor financeiro da empresa devem certificar pessoalmente que os relatórios financeiros são verdadeiros e que nenhuma informação foi omitida. Muitas das provisões do ato se aplicam a todas as empresas, nos Estados Unidos e estrangeiras. No entanto, algumas provisões se aplicam apenas às empresas que têm títulos de participação listados em câmbio ou NASDAQ.

Os detalhes do ato Sarbanes-Oxley discursam sobre muitas das táticas que foram usadas para "falsificar os livros" durante anos. Nas próximas seções, verificaremos alguns dos métodos mais famosos de melhorar os pontos principais de uma empresa - apenas no papel.

Quem os mantém todos corretos?

A Comissão de Títulos e Câmbio (SEC): a Comissão de Títulos e Câmbio dos EUA (SEC) protege investidores mantendo a integridade dos mercados de títulos, com base na idéia de que todos os investidores deveriam ter acesso a certos fatos básicos sobre um investimento. A SEC requer que empresas públicas revelem informações financeiras significantes (e outros tipos de informações) ao público para que todos os investidores possam determinar se os títulos de uma empresa são ou não um bom investimento.

A SEC também fiscaliza a bolsa de valores, corretores de títulos, conselheiros de investimentos, companhias de investimentos e empresas centrais de utilidade pública. Cada ano o SEC registra de 400 a 500 ações de aplicação civil contra indivíduos e empresas que violam leis de títulos.

Comissão de Padrões de Contabilidade Financeira (FASB):
a Comissão de Padrões de Contabilidade Financeira estabelece padrões para relatórios e contas financeiras. Esses padrões ditam como os relatórios financeiros devem ser preparados.

Princípios Contábeis Geralmente Aceitos (GAAP):
o GAAP é o método aceito para a contabilidade. Ele funciona com a autoridade do FASB e estabelece um conjunto comum de processos para recolher declarações financeiras.

Contabilidade fora dos livros e métodos de manipulação


Foto cedida por MorgueFile
Com contabilidade fora dos livros, as empresas não precisariam incluir certos bens e responsabilidades em seus balanços - estariam "fora dos livros" e portanto não fariam parte das declarações financeiras (falaremos mais adiante sobre como o ato Sarbanes-Oxley mudou esta prática). Enquanto existem razões legítimas para contabilidade fora dos livros, geralmente este método é usado para que uma empresa pareça ter tido menos débitos do que realmente teve. Alguns tipos de contabilidade fora dos livros movem débitos para uma empresa criada para este fim, que foi o caso da Enron. Estas são chamadas entidades com finalidade específica (SPEs) e também são conhecidas como entidades de interesse variável (VIEs).

As entidades fora dos livros podem ser criadas por várias razões, como quando uma empresa precisa financiar uma iniciativa comercial, mas não quer se arriscar, ou quando há muitos débitos para se obter um empréstimo. Começando uma nova SPE, pode-se assegurar um empréstimo através de um nova entidade. Há situações em que faz sentido começar uma SPE. Se a sua empresa quer diversificar suas atividades em outra área fora de seu núcleo comercial, uma SPE manterá esse risco longe de afetar o balanço principal e a lucratividade da empresa. Antes de 2003, uma empresa podia possuir até 97% de uma SPE sem a necessidade de relatar a responsabilidade da SPE em seu balanço.

Arrendamentos pró-forma
Arrendamentos pró-forma geralmente usam SPEs para reter títulos para o proprietário de uma empresa e arrendar essa propriedade de volta para a empresa. Por causa da contabilidade fora dos livros, arrendamentos artificiais permitiram às empresas recolher os benefícios dos impostos de propriedade sem a necessidade de listá-las como responsabilidade em seus balanços.

Os arrendamentos pró-forma poderiam também ser assinalados por alguma outra entidade além da SPE. Os bancos, por exemplo, comprariam com freqüência propriedades para negócios e as arrendariam de volta por um arrendamento artificial. Arrendando a propriedade, a empresa  evita a responsabilidade no balanço mas ainda consegue deduzir juros e depreciação de seu imposto.

O final do jogo de esconde-esconde
Os novos requerimentos da Comissão de Padrões de Contabilidade Financeira agora requerem que as SPEs sejam listadas nos balanços das empresas. A seção 401(a) do ato Sarbanes-Oxley requer que relatórios financeiros anuais e trimestrais revelem todo o material das transações, disposições e obrigações fora dos livros de contabilidade. As regras também requerem que a maioria das empresas forneçam uma visão geral de obrigações contratuais conhecidas em um "formato tabular fácil de ler .

Estas novas regras terminaram com as SPEs e o arrendamento artificial - ainda que sejam práticas legítimas.

Manipulação de gastos


Foto cedida por MorgueFile
Acelerar as despesas de uma empresa pode não parecer a maneira de incrementar a aparência dos lucros, mas isto depende de quando estes lucros precisam ser incrementados. Há razões legítimas e ilegítimas para acelerar as despesas. Um exemplo legítimo seria fazer compra de equipamentos quando os lucros estão em alta ao invés de fazer a compra quando eles estiverem em baixa.

Agora, um exemplo de uma aceleração de lucros menos legítima: o bônus de um gerente é baseado na sua habilidade de atingir algumas metas. Uma vez que o nível de lucro alvo tenha sido excedido, esse gerente pode decidir gastar dinheiro agora o que foi orçamentado para ser gasto no ano seguinte, pois ter mais lucros neste ano não significa bônus mais altos para ele. Gastar este ano o dinheiro que foi orçamentado para o seguinte, no entanto, poderia ajudar a garantir que ele atingisse o nível do ano seguinte também.

Enquanto isto pode parecer como o mesmo que fazer compras quando os lucros estão em alta, isto depende das circunstâncias. Se optar por fazer estas compras mais cedo do que planejado não tiver efeitos adversos nos negócios, então talvez não haja problemas. Mas em muitas circunstâncias, pode haver efeitos adversos. Por exemplo, comprar equipamentos de informática 6 meses antes do esperado pode fazer uma grande diferença no equipamento comprado - capacidade, características e preço podem todos mudar drasticamente.

Atraso de despesas
Empresas que estão falsificando os livros de contabilidade são conhecidas por capitalizar gastos que são, na verdade, despesas diárias. Mais à frente, você verá que a WorldCom capitalizou despesas que deveriam estar operando na faixa de bilhões de dólares.

Quando empresas descarregam um grande contrato para oferecer um produto ou serviço por um período de tempo, elas devem difundir o rendimento sobre o custo do contrato de serviço. Algumas empresas são conhecidas por vender e ganhar no trimestre em que o contrato foi assinado.

Aqui temos alguns exemplos de registro prematuro de rendimento:


Foto cedida por MorgueFile
  • registrar vendas depois que os produtos foram encomendados mas antes que eles sejam enviados para o cliente;
  • registrar rendimentos de venda quando há possibilidade de o cliente devolver o produto;
  • exagerar rendimentos acelerando a porcentagem estimada de compleição para um projeto em andamento;
  • registrar rendimentos por produtos enviados que não foram encomendados pelo cliente ou pelo envio de produtos defeituosos e registrar rendimentos com preço total de produtos com desconto;
  • registrar rendimentos quando produtos desmontados são enviados da fábrica - um local de montagem deve ser designado e a montagem do produto deve ser feita antes que o produto realmente vá para o cliente.

Tentar melhorar os futuros ganhos "adiantando" futuros gastos e registrando-os no trimestre corrente é outro exemplo. Isto foi feito durante a aquisição de uma empresa. A empresa pagará integralmente (ou até pagará adiantado) despesas para aumentar os lucros por ação (EPS).

Despesas não incorporáveis
Enquanto esta categoria de despesas foi criada para situações que ocorreriam apenas para evitar o impacto em operações de despesas regulares, ela foi muito utilizada no mundo do "gerenciamento de lucros". Por meio de super orçamento de despesas "não incorporáveis", as empresas têm sido conhecidas por movimentar o dinheiro extra como lucro.

Baixa contábil de P&D em processo
Outra maneira que as empresas têm usado para aumentar seus ganhos por ações é por meio de baixas contábeis de P&D (pesquisa e desenvolvimento). Uma grande empresa compra uma pequena empresa que tem nova tecnologia em desenvolvimento. A tecnologia ainda não está pronta para comercialização, então a empresa grande cancela os custos relacionados. No futuro, a tecnologia está adiantada e pronta para o mercado, mas com uma despesa de P&D muito mais baixa.

Agora o GAAP requer que as empresas cancelem esta despesa. Este encargo reduzirá ganhos e pode ser revelado nas declarações financeiras.

Operação de despesas é o custo diário de uma empresa funcional. Despesas capitalizadas são despesas comerciais para acertos a longo prazo, como equipamentos. Elas não são despesas dedutíveis de impostos, mas podem ser usadas para depreciação ou amortização - em outras palavras, as despesas estão, de alguma forma, atrasadas por vários anos.

Manipulação de fundos de pensão
Muitas empresas definiram beneficios de fundos de pensão para seus funcionários. Estes são fundos que pagam uma quantia específica e definida na aposentadoria. As empresas devem manter dinheiro o suficiente em sua conta de aposentadoria para pagar os benefícios no caso de saírem dos negócios.


Foto cedida por MorgueFile

Faz sentido para uma empresa investir este dinheiro, pois assim ela cresce. Ao invés de investir em algo seguro como contratos, algumas empresas investem no mercado de ações. Regras contábeis permitem que qualquer dinheiro "extra" além do fundo seja declarado como lucro da empresa. As empresas podem "estimar" ao invés de colocar números reais. Elas usam suas estimativas para imaginar quanto dinheiro elas deveriam planejar colocar no fundo e quando elas podem considerar lucro.

O potencial para empresas aumentarem seus ganhos, subestimando as contribuições necessárias para financiar totalmente os fundos de aposentadoria, é alto. Ainda presumindo um ponto percentual ou menos, pode significar a diferença de centenas de milhares de reais no balanço de uma empresa. Muitos fundos de pensão de empresas não têm sido depositados integralmente porque as empresas presumiram que a bolsa de valores se comportaria como fez nos anos 90, o que não dá o mesmo retorno hoje.

Estes métodos de gerenciamento de ganhos são apenas a ponta do iceberg quando se trata de formas de manipular os lucros de uma empresa. Há um divisor sutil entre ganhos legítimos em gerenciamento de ganhos e "falsificação de livros contábeis". Vamos ver alguns casos reais e saber como eles aconteceram.

Estudo de caso: Enron

Histórico
A Enron foi formada em 1985 pela compra da Houston Natural Gas pela InterNorth, e já foi a sétima maior empresa americana. A empresa se ramificou em muitos campos de energia não relacionados ao petróleo com o passar dos anos, incluindo áreas como freqüência de internet, gerenciamento de risco e derivativo climático (um tipo de seguro climático para negócios sazonais). Ainda que seus negócios centrais continuassem a transmissão e distribuição de energia, seu crescimento fenomenal foi ocorrendo por meio de seus outros investimentos. A Fortune Magazine (em inglês) escolheu a Enron como "a empresa americana mais inovadora" por seis anos consecutivos, de 1996 a 2001. Então vieram as investigações em sua complexa rede de parceiros estrangeiros e práticas contábeis.

Como a fraude aconteceu
O caso da fraude Enron é extremamente complexo. Alguns dizem que o legado da Enron está baseado no fato de, em 1992, Jeff Skilling, então presidente das operações comerciais da Enron, ter convencido reguladores federais a permitirem que a Enron usasse um método contábil conhecido como "valor de mercado". Esta era uma técnica usada por empresas de corretagem e importação e exportação. Com uma contabilidade de valor de mercado, o preço ou valor de um seguro é registrado em base diária para calcular lucros e perdas. O uso deste método permitiu à Enron contar ganhos projetados, de contratos de energia a longo prazo, como renda corrente. Este era dinheiro que poderia não ser recolhido por muitos anos. Acredita-se que esta técnica foi usada para aumentar os números de rendimento manipulando projeções para rendimentos futuros.

O uso desta técnica (bem como outras práticas questionáveis da Enron) dificultou ver como a Enron realmente fazia dinheiro. Os números estavam nos livros contábeis e as ações continuaram altas, mas a Enron não estava pagando impostos altos. Robert Hermann, o conselheiro geral de impostos da empresa na época, foi avisado por Skilling que o método contábil permitia que a Enron fizesse dinheiro e crescesse sem trazer muito dinheiro passível de taxação para a empresa.

A Enron esteve comprando quaisquer novos empreendimentos que pareciam promissores. Suas aquisições estavam crescendo exponencialmente. A Enron também formou empresas (LJM, LJM2 e outras) para movimentar débitos para fora de seus balanços e transferir riscos para seus outros negócios. Estas SPEs eram também estabelecidas para manter o crédito da Enron alto, o que era muito importante em suas outras áreas de negócios. Como os executivos acreditavam que o valor das ações da Enron a longo prazo permaneceriam altos, eles procuraram por maneiras de usar as ações da empresa para limitar estes investimentos nestas outras entidades. Eles o fizeram por meio de um arranjo complexo de entidades com fins especiais chamadas Raptores. Os Raptores foram estabelecidos para cobrir suas perdas caso as ações no começo dos negócios caíssem.

Quando a indústria de comunicação à distância sofreu seu primeiro impacto negativo nos negócios, isso também afetou a Enron. Analistas financeiros começaram a tentar descobrir a fonte do dinheiro da Enron. Os Raptores poderiam entrar em colapso se as ações da Enron caíssem a um certo ponto, pois eles estavam apoiados apenas por elas. As regras contábeis requeriam um investidor independente para uma barreira funcionar, mas a Enron usou uma de suas SPEs.

Os acordos foram tão complexos que ninguém pode realmente determinar o que era legal e o que não era. Mas, uma hora, o castelo de cartas ruiu. Quando as ações da Enron começaram a declinar, os Raptores começaram a declinar também. Em 14 de agosto de 2001, o CEO da Enron, Jeff Skilling, demitiu-se por "assuntos de família". Isto chocou tanto a indústria quanto os empregados da Enron. O chefe-executivo da Enron, Ken Lay, assumiu como CEO.

Como tudo foi descoberto
Em 15 de agosto, Sherron Watkins, vice-presidente da Enron, escreveu uma carta anônima para Ken Lay que sugeria que Skilling havia saído devido a impropriedades contábeis e outras ações ilegais. A carta questionou os métodos contábeis da Enron, especificamente citando as transações dos Raptores.

Mais tarde no mesmo mês, Chung Wu, um corretor da UBS PaineWebber em Houston, enviou um e-mail para 73 clientes de investimentos dizendo que a Enron estava com problemas e advertindo-os a considerar venderem suas cotas.

Sherron Watkins então se encontrou com Ken Lay pessoalmente, adicionando mais detalhes a suas acusações. Ela notou que as SPEs foram controladas pelo CFO da Enron, Fastow, e que ele e outros funcionários da Enron fizeram dinheiro e deixaram apenas a Enron em risco pelo apoio dos Raptores (os acordos dos Raptores foram escritos para que a Enron tivesse que apoiá-las com suas ações). Quando as ações da Enron caíram a um certo ponto, as perdas dos Raptores começaram a aparecer nas declarações financeiras da Enron. Em 16 de outubro, a Enron anunciou um terceiro trimestre de perdas de US$ 618 milhões. Durante 2001, as ações da Enron caíram de US$ 86 para US$0,30. Em 22 de outubro, a SEC começou uma investigação nos procedimentos contábeis e parceiros da Enron. Em novembro, a Enron admitiu oficialmente ter exagerado os ganhos da empresa em US$ 57 milhões desde 1997. A Enron ("o E curvo") decretou falência em dezembro de 2001.

Onde eles estão agora?
O CFO da Enron, Andrew Fastow, estava por trás de uma rede complexa de parceiros e muitas outras práticas questionáveis. Ele foi acusado de 78 contas de fraude, conspiração e lavagem de dinheiro. Fastow aceitou um acordo de alegação de defesa em janeiro de 2004. Após se declarar culpado de duas acusações de conspiração, ele recebeu a sentença de 10 anos de prisão e uma multa de US$ 23,8 milhões em troca de testemunhar contra executivos da Enron.

Jeff Skilling e Ken Lay foram ambos indiciados em 2004 por suas participações da fraude. De acordo com seu site, "a Enron está liquidando suas operações restantes e distribuindo suas posses a seus credores".

Em 25 de maio de 2006, um júri da corte federal em Houston, Texas, declarou tanto Skilling quanto Lay culpados. Jeff Skilling foi condenado por 19 casos de conspiração, fraude, comércio ilegal e declarações falsas. Estas acusações levam a uma sentença máxima de 185 anos combinados. Ken Lay foi condenado por seis casos de conspiração e fraude. Ele enfrenta o máximo de 45 anos na prisão. Em julgamento separado, Lay foi também declarado culpado por quatro casos de fraude bancária. Cada caso leva a sentenças máximas de 30 anos. Lay faleceu em julho de 2006 e Killing começou a cumprir a pena em dezembro do mesmo ano.

Estudos de caso: WorldCom e Tyco

Pano de fundo da Worldcom
A WorldCom agarrou-se à indústria de telecomunicações no começo da loucura das aquisições dos anos 90. As pequenas margens que a indústria estava acostumada não eram o bastante para Bernie Ebbers, diretor executivo da empresa. De 1995 a 2000, a WorldCom comprou mais seis empresas de telecomunicações. Em 1997 ela comprou a MCI por US$ 37 bilhões. A WorldCom mudou para a indústria da internet e informações, abraçando 50% de todo o tráfego de internet dos Estados Unidos e 50% de todos os e-mails da rede mundial. Em 2001, a WorldCom era dona de 1/3 de todos os cabos de dados nos Estados Unidos. Além disso, era a segunda maior transportadora de longa distância em 1998 e 2002.

Como a fraude aconteceu
Então, o que aconteceu? Em 1999, as receitas cresciam lentamente e os preços das ações começaram a cair. Os custos da WorldCom como uma porcentagem de sua renda total aumentaram devido a uma diminuição dos lucros. Isto também significou que os lucros da WorldCom não atendiam as expectativas dos analistas de Wall Street. Em um esforço para aumentar os rendimentos, a WorldCom reduziu o montante de dinheiro que possuía em reserva (para cobrir as responsabilidades que a empresa tinha adquirido) em US$ 2,8 bilhões e moveu seu dinheiro em uma linha de rendimento em sua declaração financeira.

Isto não foi o bastante para aumentar os lucros que Ebbers queria. Em 2000, a WorldCom começou classificar as despesas operacionais como capitais de investimento de longo período. Esconder estas despesas foi a maneira como ela conseguiu mais US$ 3,8 bilhões. Estas posses novamente classificadas eram custos que a WorldCom pagou para alugar linhas de redes telefônicas de outras empresas para acessar suas redes. Eles também adicionaram uma entrada diária de US$ 500 milhões em despesas com computador, porém os documentos que mostravam isso nunca foram encontrados.

Estas mudanças transformaram as perdas da WorldCom em lucros de US$ 1,3 bilhões em 2001. Isto fez a WorldCom parecer mais valiosa.

Como tudo foi descoberto
Depois que pistas foram enviadas para a equipe de auditoria interna e irregularidades de contabilidade foram encontradas nos livros da MCI, a SEC solicitou que a WorldCom fornecesse mais informações. A SEC suspeitou porque, enquanto a WorldCom estava obtendo muitos lucros, a AT&T (outra gigante das telecomunicações) estava perdendo dinheiro. Uma auditoria interna descobriu os bilhões que a WorldCom tinha anunciado como gastos de capital assim como os US$ 500 milhões em despesas não documentadas. Havia também outros US$ 2 bilhões em entradas questionáveis. O comitê de auditoria da WorldCom foi questionado por documentos que sustentavam os gastos de capital, porém ela não tinha como produzir isto. O controlador admitiu à auditoria interna que eles não tinham os padrões de contabilidade correspondentes. A WorldCom então admitiu ter aumentado seus lucros em US$ 3,8 bilhões. Um pouco mais de um mês depois da auditoria interna ter começado, a WorldCom decretou falência.

Onde eles estão agora?
Quando decretou falência em 2004, a WorldCom mudou de nome para MCI. O antigo diretor executivo, Bernie Ebbers, e o antigo diretor financeiro, Scott Sullivan, foram acusados por fraude e violação de leis de finanças. Ebbers foi considerado culpado em março de 2005 e sentenciado a 25 anos de prisão, porém conseguiu ficar livre através de apelação. Sullivan alegou culpa e testemunhou contra Ebbers em troca de uma redução de 5 anos em sua sentença.

Pano de fundo da Tyco
A Tyco International tem operações em mais de 100 paises e figura como o maior fornecedor mundial de componentes elétricos e eletrônicos; o maior desenhista e produtor de sistemas de telecomunicações submarinos; o maior produtor de sistemas de proteção de incêndio e serviços de segurança eletrônicos; o maior produtor de válvulas especiais; e o investidor principal em produtos médicos, plásticos, e marcas de adesivos disponíveis. Desde 1986, a Tyco já realizou mais de 40 aquisições principais assim como muitas aquisições menores.

Como a fraude aconteceu
De acordo com o Centro de Informações de Fraude Tyco, uma investigação interna concluiu que existiam erros de contabilidade, porém não era um problema de fraude simétrica na Tyco. Então, o que aconteceu? O antigo diretor executivo da Tyco, Dennis Koslowski, e o antigo diretor financeiro, Mark Swartz, e o antigo Conselheiro Geral Counsel Mark Belnick foram acusados de darem a si mesmos lucros livres ou empréstimos com juros muito baixos (algumas vezes disfarçados de bônus) que nunca foram aprovados pelo quadro da Tyco ou reembolsados. Alguns destes "empréstimos" eram parte do programa de "Empréstimo Chave de Empregados" que a empresa oferecia. Eles foram acusados de venderem suas ações da empresa sem avisar os investidores, que é uma das regras da SEC. Koslowski, Swartz, e Belnick roubaram US$ 600 milhões da Tyco International através de seus bônus sem aprovação, empréstimos e extravagantes despesas da empresa. Boatos sobre uma cortina de banheiro de US$ 6 mil, uma cesta de lixo de US$ 2 mil e uma festa de aniversário de US$ 2 milhões para a esposa de Koslowski na Itália são apenas alguns exemplos do uso impróprio dos fundos da empresa. Pelo menos 40 executivos da Tyco tomaram empréstimos que depois foram "esquecidos" pelo programa de perdão de dívidas da Tyco, embora se diga que muitos não sabiam que o que estavam fazendo era errado. Suborno também foi pago para aqueles que a empresa temia que "traíssem" Kozlowski.

Basicamente, eles esconderam suas ações ilegais para se manter fora dos livros de contabilidade e longe dos olhos dos acionistas e membros do quadro.

Como tudo foi descoberto
Em 1999, o SEC começou uma investigação depois de uma análise reportando práticas de contabilidade questionáveis. Esta investigação durou de 1999 a 2000 e foi centrada em práticas contábeis para muitas aquisições da empresa, incluindo práticas conhecidas como "carregamento da primavera". No "carregamento da primavera", os lucros pré-adquiridos de uma aquisição da empresa não eram relatados, dando à consolidação da empresa a aparência de lucros aumentados mais tarde. A investigação terminou com o SEC decidindo não tomar ação.

Em janeiro de 2002, a precisão da contadoria e contabilidade da Tyco continuou sob questão depois de chamar a atenção a um pagamento de US$ 20 milhões feito ao diretor da Tyco, Frank Walsh Jr. Este pagamento foi mais tarde explicado como uma taxa de descobrimento para a aquisição da Tyco de CIT. Em junho de 2002, Kozlowski foi investigado por extorsão de impostos porque ele não pagou impostos de vendas em US$ 13 milhões em obras de arte que ele comprou em Nova Iorque com os fundos da empresa. Ao mesmo tempo, Kozlowski demitiu-se da Tyco "por razões pessoais" e foi substituído por John Fort. Em setembro de 2002, todos os três (Kozlowski, Swartz, e Belnick) foram embora e as acusações contra eles foram arquivadas por falta de informações em seus empréstimos milionários de acionistas.

O SEC mandou que Kozlowski, Swartz, e Belnick devolvessem os fundos que tomaram da Tyco em forma de empréstimos em sigilo e compensações.

Onde eles estão agora?
Kozlowski e Swartz foram condenados em 2005 por utilização de bônus da importância de US$ 120 milhões sem a aprovação dos diretores da Tyco, abusando de um programa de empréstimos a funcionários, e adulteração das condições financeiras da empresa para aumentar o preço das ações, enquanto vendiam US$ 575 milhões em ações. Eles receberam sentenças de 8 anos a 25 anos de prisão. Belnick pagou uma multa de  US$ 100 mil. Desde que substituiu os Membros do Conselho Administrativo e vários executivos, a Tyco International tem se mantido forte.

A diferença do caso da Tyco aos demais é que está mais relacionado à ambição que à fraude contábil. Para maiores informações sobre falsificação de livros de contabilidade e assuntos relacionados.



 
Referência: hsw.com.br (HowStuffWorks Brasil)
Autor: Lee Ann Obringer
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