Os títulos de capitalização fazem o maior sucesso entre os
investidores brasileiros. É o tipo de produto financeiro que não existe em
nenhum outro lugar do mundo. No entanto, no Brasil está no topo da preferência
dos investimentos.
Recentemente no programa Sem Censura, da jornalista Leda
Nagle, na TV Educativa, foi feita uma pesquisa com telespectadores para saber
onde eles aplicavam o dinheiro que conseguiam economizar. Título de
capitalização ganhou com larga vantagem sobre as outras opções.
O grande problema é que títulos de
capitalização não são investimentos.
Quem explica não tem rigorosamente nada contra o produto, pois seu
trabalho é cuidar da imagem da capitalização no mercado brasileiro: Rita
Batista, presidente da comissão de capitalização da Federação Nacional das
Empresas de Seguros Privados e Capitalização (Fenaseg). "Título de capitalização
não é investimento porque não paga juro, tem apenas a atualização pela TR", diz
a executiva.
É isso aí Rita, mas os gerentes que trabalham nas agências
bancárias oferecem sem cerimônia esses produtos à clientela que está em busca de
uma boa aplicação para suas economias. Ou seja, o brasileiro se esforça, para
fazer com que o orçamento doméstico seja menor do que o salário de forma a ter
sobras no fim do mês e é com essa quantia, aplicada regularmente em bons
investimentos, que ele espera construir seu patrimônio para comprar a casa
própria, pagar a faculdade dos filhos e viver bem na aposentadoria.
Ele leva esse dinheiro que sobrou ao banco ao qual tem
total confiança, não fosse assim não deixaria suas economias lá depositadas,
pede um auxílio ao seu gerente esperando falar com alguém que está ali para lhe
ajudar a construir um patrimônio e sai da agência com vários títulos de
capitalização que em nada vão ajudar na conquista de sua meta. No entanto,
resolveu um problema de meta do gerente. É cruel.
Mas Rita promete que isso vai mudar. Segundo ela, na
verdade, o processo de mudança já começou, pois as empresas de capitalização
estão empenhadas em treinar a força de venda para evitar que esses abusos sejam
cometidos. Rita explica que a Fenaseg encomendou uma pesquisa e constatou que há
muita confusão entre os clientes. "Não há uma percepção correta do que é
capitalização", diz ela.
A taxa de carregamento, que pode chegar a 30% sobre o valor
da aplicação, é vista por uma boa parte da clientela como uma taxa cobrada para
"carregar" o prêmio aos sorteados. "O nosso desafio é fazer produtos mais
claros", diz Rita. Os contratos, por exemplo, estão passando por uma revisão, de
forma que o texto que o cliente vai ler seja amigável e perfeitamente entendido.
"Queremos que o cliente fique satisfeito e seja fiel", diz ela.
O grande apelo do título de capitalização é o sorteio. E,
segundo especialistas, os bancos simplesmente não podem abrir mão desse produto
em sua prateleira porque o brasileiro gosta de participar desses sorteios. Pode
ser. Mas o fato é que mesmo quem não gosta de sorteio e esteja atrás de
investimento está levando para casa uma enxurrada de títulos. Muitas vezes não é
necessário sequer pedir pelo produto. Você recebe em casa, pelo correio, com uma
simpática carta que dá os parabéns pela excelente aquisição que você fez (?).
Mas a verdade é que você não fez a aquisição, nem sequer sabia desta compra.
Aliás, vale a pena dar uma boa analisada no seu extrato
bancário e também no do seu cartão de crédito. Você poderá se surpreender com a
quantidade de débitos automáticos que acabam lhe impondo sem que você sequer
seja consultado. Alguns débitos automáticos ajudam a não perder a data do
vencimento da conta. Outros simplesmente lhe criam uma sucessão de despesas que
em algumas vezes você não é nem mesmo consultado. Portanto, você não perde nada
se separar alguns minutos para conferir.
Rita defende firmemente o título de capitalização. Diz que
pode ser uma aplicação programada, por exemplo, para quem tem poucos recursos e
não conseguiria acessar uma aplicação financeira. "Há títulos de capitalização
com mensalidade de R$ 5", diz ela.
Ainda assim, o melhor seria investir em caderneta de
poupança. Pois há bancos que não tem aplicação mínima para poupança e, nesse
caso, você não tem na partida de pagar a taxa de carregamento e ainda recebe TR
mais 6% ao ano, enquanto os títulos de capitalização só lhe entregam a TR.
Analistas de investimento só enxergam um motivo para se
investir na capitalização: o jogo. Quem gosta de jogar pode fazer um bom negócio
se optar pelo título de capitalização. Isso porque você concorre a prêmios e ao
final de um determinado prazo recebe o dinheiro de volta com a atualização pela
TR.