Cartão de crédito - Vilão ou "mocinho"?
O cartão de crédito é, hoje, seguramente, a forma de pagamento mais utilizada
no comércio: quatro vezes mais que os cheques e, considerando as várias
modalidades existentes – de crédito, de débito, de lojas, etc. – perde apenas
para o dinheiro em espécie. Também o número de usuários de cartões vem crescendo
de forma significativa, nos últimos anos.
A preferência do brasileiro é pelo crédito pré-aprovado, funcionando tanto como
crédito para pagar contas, quanto para saque em espécie. É exatamente por isso
que as operadoras de cartão de crédito definem dois limites: o de saque –
geralmente menor – e o de crédito. Além dos juros incidentes sobre a quantia
emprestada – as mais altas do mercado –, há o custo também com a tarifa de
saque, o que faz dessa operação apenas uma opção de emergência.
Como se o carros fossem responsáveis pelos acidentes de trânsito, os cartões de
crédito também são lembrados e vistos, muitas vezes e de forma indevida, como
responsáveis pelas dificuldades financeiras de muitos inadimplentes. Desde que
utilizados de forma consciente, os cartões de crédito são um instrumento
importante na gestão das nossas finanças pessoais.
Mesmo não utilizando a opção do crédito rotativo do cartão, vale a pena possuir
ao menos um, por segurança e comodidade. O uso do cartão permite, por exemplo,
não precisar carregar uma quantia maior de dinheiro e até mesmo o talão de
cheques. E esse é um grande facilitador para quem viaja, que pode sacar dinheiro
em qualquer caixa eletrônico conveniado, funcionando como um cartão de débito. O
processo de pagamento também é rápido e simples, já que é solicitado comprovar
que o cartão é seu – algumas vezes – e assinar o recibo ou, no caso de cartões
com chip, digitar a senha. Daí a ter 5, 10 ou até 15 cartões de crédito no bolso
é viver perigosamente, sujeito a desequilíbrios financeiros, clonagens, além das
anuidades que podem variar de zero até R$ 250,00. Mesmo cartões “gratuitos”,
oferecidos com custo “zero” para os clientes, geralmente cobram alguma taxa
mensal – de R$ 1,99 a R$ 3,50 –, incluída na fatura.
O cartão de crédito também pode ajudar no gerenciamento de nosso orçamento
pessoal ou familiar. Comprando em qualquer dia do mês, só precisamos pagar no
dia do vencimento da fatura, fazendo coincidir essa data com o recebimento do
salário ou com outro dia de conveniência pessoal. Além disso, pela fatura do
cartão é fácil saber onde o dinheiro foi gasto.
O grande perigo do cartão de crédito, se faltar controle e moderação, é usá-lo
como forma de financiamento. Quer dizer, na hora de quitar a fatura, pagar
apenas uma parte do valor devido – entre 10% e 20%, conforme estipulado pela
operadora –, rolando o saldo para o mês seguinte. Ao pagar apenas o valor mínimo
da fatura, estamos aceitando que o restante poderá ser financiado com juros a
critério da operadora, que variam de 7% a 12% ao mês. Com as compras do mês
seguinte, é possível que comece o efeito “bola de neve”. Outros erros muito
comuns e que devem ser evitados: considerar o limite do cartão como renda;
gastar sem planos de pagar a dívida; pagar com atraso; ignorar o valor da
dívida; compartilhar dívidas (comprar para outra pessoa ou autorizar o uso do
cartão).
Enquanto “meio de pagamento”, o cartão de débito e, mesmo o de crédito, é ótimo,
desde que a fatura possa ser paga, integralmente, na data de vencimento. Já como
“forma de financiamento pessoal” é entrar em situação de alto risco. Se não vai
dar mesmo para pagar toda a fatura, melhor é fazer um empréstimo, até no próprio
banco, para quitar a conta. Ninguém cobra juros mais altos que o cartão e nenhum
investimento rende algo parecido para compensar as perdas. E antes de sair por
aí a picar em pedacinhos o coitado do cartão, como se fosse ele o culpado pelos
problemas financeiros pessoais ou familiares, é mais sensato e eficiente aceitar
que somos nós que fazemos dele um vilão ou um mocinho.
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