Pão-duro, mão-de-vaca, unha-de-fome, muquirana, sovina, avarento, Tio
Patinhas... Se você é do tipo que economiza cada centavo e sua a camisa para não
gastar dinheiro à toa, certamente já ouviu “elogios” desse tipo. E vai continuar
ouvindo, mas saiba que sua convicção de que quem ri por último ri melhor ganhou
comprovação (quase) científica. Uma pesquisa da consultoria financeira carioca
Finita mostra como um indivíduo pode se tornar milionário cortando gastos
desnecessários e contando com o efeito multiplicador das pequenas economias. O
estudo, baseado nas despesas de uma família hipotética, prova por a mais b que é
possível formar por conta própria uma poupança de R$ 3,9 milhões economizando-se
de R$ 25 a R$ 30 por mês ao longo de 40 anos. O que se propõe é um trabalho de
formiguinha.
Comprar 10 pãezinhos por dia (em vez de cinco) permite poupar 10 centavos
diários – que somarão R$ 117,6 mil em quatro décadas. Escolher o posto de
gasolina com melhores preços pode propiciar uma economia de 20 centavos por
litro de combustível, equivalente a R$ 34,76 por mês para quem consome 160
litros no período. Em 40 anos, sobrarão R$ 136 mil. “Essas dicas funcionam para
todos. Mas é preciso estudar, comparar preços e evitar financiamentos”, afirma o
consultor Elchanan Palatnik, da Finita, responsável pela pesquisa.
A idéia chave aqui é a de que pequenas economias diárias podem significar a
independência financeira no futuro – premissa com a qual quase todo guru de
finanças pessoais concorda. “O maior desperdício está nas compras por impulso”,
diz Eliana Bussinger, autora do livro As Leis do Dinheiro Para Mulheres. Uma
rápida olhada dentro de casa mostra onde o dinheiro foi mal gasto. Livros não
lidos empilhados na estante, CDs ainda na embalagem, roupas com a etiqueta
esquecidas no armário ou remédios já vencidos na farmacinha caseira falam por si
só. Para romper o círculo vicioso do desperdício, o consultor financeiro Gustavo
Cerbasi, autor de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (best seller com mais de
250 mil exemplares vendidos), recomenda um pequeno investimento – num
caderninho. Nele devem ser anotados TODOS os gastos diários, sem esquecer
“bobagens” como aquela balinha depois do café. “Não se assuste com o resultado
final. É comum descobrir que as pequenas despesas de cada dia somam um dinheirão
no fim do mês”, observa Cerbasi. Por isso mesmo, o simples ato de anotar evita,
naturalmente, o gasto exagerado.
O resto é disciplina e disposição para gastar as solas dos sapatos. Compras
de supermercado, por exemplo, não devem ser feitas apenas uma vez por mês. Uma
economia de até 15% pode estar sendo jogada fora enquanto se estocam alimentos
em casa. Semanalmente, as redes varejistas fazem promoções que devem ser
aproveitadas pelo bom poupador. Opões gratuitas de lazer, como parques públicos,
dias com entrada franca em museus ou quem sabe um tour pela Bolsa de Valores de
São Paulo, fazem maravilhas pelo orçamento. Uma família de quatro pessoas
acostumada a ir ao cinema todo domingo gasta cerca de 50 reais por semana só com
ingressos. Se souber intercalar um passeio sem custo entre uma seção e outra,
poupará 100 reais por mês. Essa quantia, investida em um fundo de renda fixa
poderá render R$ 208,8 mil em 30 anos. Feita com juro real de 0,8% ao mês, e sem
considerar a inflação, esta simulação mostra como os juros compostos são aliados
quando se economiza de grão em grão. O que não quer dizer que você deva se
tornar um escravo da calculadora. “Poupar não é levar uma vida mais complicada”,
adverte Cerbasi. “Sem saúde não se aproveita a riqueza futura.”