Investimentos / Fundos - Multimercado exige prazo longo e sangue frio
Gestores alertam ao investidor em fuga de DI e renda fixa que opção rentável
tem solavancos. Quem pretende comprar casa ou carro daqui a seis meses não deve
jogar suas economias num fundo multimercado, por mais que a rentabilidade deste
tipo de fundo seja muito mais atrativa que a dos DI e renda fixa.
São Paulo, 23 de Fevereiro de 2007 - Gestores alertam ao investidor em fuga
de DI e renda fixa que opção rentável tem solavancos. Quem pretende comprar casa
ou carro daqui a seis meses não deve jogar suas economias num fundo
multimercado, por mais que a rentabilidade deste tipo de fundo seja muito mais
atrativa que a dos DI e renda fixa. E mais. Mesmo que o investidor tenha um
horizonte de investimento maior, se sempre trabalhou com aplicações de pouco
risco, deve ir aderindo aos multimercados aos poucos para ir se adaptando aos
solavancos comuns dos investimentos de renda variável. A orientação, bastante
conservadora, vem dos próprios gestores dos fundos multimercados. "Este é um
investimento para maratonista, não para corredor de 100 metros", diz Felipe
Prata, sócio da Nest Investimentos.
Eles temem que a euforia em torno do multimercado - provocada pelo bom momento
do mercado de ações, de um lado, e pela redução na rentabilidade de DIs e rendas
fixas, de outro, em razão da queda da taxa de juros - traga para o segmento um
investidor que não tem o perfil para o produto. "Quando o cliente me procura,
lembro a ele que em 2002 um certo fundo multimercado teve em um determinado mês
queda de 2,4% e pergunto se ele tem fôlego para agüentar uma variação desta.
Depois informo que naquele ano o mesmo fundo fechou com alta de 45%."
Para Aquiles Mosca, estrategista da ABN Amro Asset Management, além de tentar
aliar esta perspectiva aos seus objetivos de investimentos, o investidor também
deve ficar atento à composição da carteira do fundo. "Existe desde os mais
agressivos, como os setoriais, aqueles que concentram a cesta em papéis de um
mesmo setor, até os mais passivos, que reproduzem a carteira teórica do
Ibovespa", orienta.
Há ainda os fundos com ou sem alavancagem - o fundo é considerado alavancado
sempre que existir possibilidade de perda superior ao seu patrimônio -, e com ou
sem a participação de ações em seu mix de ativos. "Estas variações podem
confundir ainda mais a cabeça do investidor, por isso, é preciso escolher um
gestor que tenha habilidade didática para dirimir todas as dúvidas e explicar
detalhadamente o produto", afirma Prata.
A preocupação é preparar suficientemente o cliente para que não haja uma
debandada ao primeiro momento de baixa, como ocorreu no primeiro semestre de
2004.
"Quem passou por alguma crise já está mais educado para enfrentar eventuais
solavancos", acredita Alexandre Horstmann, diretor de gestão da Meta Asset
Management. "De modo geral, o investidor hoje é muito mais informado sobre os
riscos que no passado e o gestor também está mais preparado. O nível de
percepção dele sobre as diferentes características de cada um, hoje, é muito
maior."
Varejo
No Bradesco, diz o diretor de investimentos Marcos Villanova, sete mil
funcionários já têm a certificação da Anbid (Associação Nacional de Bancos de
Investimento). Ele avalia que o mercado passou por uma grande mudança em maio de
2002, com a marcação a mercado - forma de atualização das posições de ativos e
passivos financeiros de fundos de investimento, que causou grande polêmica na
época, pois alterou o valor das cotas - e aprendeu a lição da transparência. "De
lá para cá, os investidores passaram a ter acesso a muito mais informações e tem
hoje condições de tomar decisões muito mais qualificadas", afirma.
Para Villanova, o investidor de renda fixa não vai ter outra opção de melhorar
sua rentabilidade a não ser caminhando para o multimercado e depois para o fundo
de ações. "Estou no mercado há 28 anos e nunca vi uma situação tão favorável
quanto esta. A economia está forte, os juros continuarão caindo e as bolsas
estão numa fase excelente", diz.
O banco, que tem uma ampla família de fundos para atender a clientes
segmentados, com produtos multimercados com aplicações a partir de R$ 1.000.
"O nosso cliente já está acostumado. Vendemos multimercados desde 2001 e neste
período ele já passou por muitos altos e baixos. Ele sabe que há momentos ruins
e momentos bons e que se ganha ao longo do tempo", afirma o diretor do Santander
Asset Management, Márcio Appel.
Em 2006, o banco captou R$ 2 bilhões em multimercado, sendo a maior parte em
produtos mais agressivos.
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