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Negócios / Empreendedorismo - Negócio Fechado 

Data: 18/06/2007

 
 

Toda empresa está à venda. Ou pelo menos deveria estar. Por mais que um empresário diga que não pensa em se desfazer dos próprios negócios, cada vez mais deveria passar a considerar essa alternativa. No capitalismo globalizado, mesmo empresas regionais de médio ou até pequeno porte são constantemente assediadas por companhias estrangeiras ou pelos grandes grupos nacionais. O mercado de fusões e aquisições voltou a ganhar força nos últimos anos, depois de um breve arrefecimento após o trauma dos atentados contra o World Trade Center, em setembro de 2001. Só no ano passado foram 473 negociações envolvendo empresas brasileiras. Comprar e vender empresas passou a ser, então, uma arte (ou ciência?) cada vez mais valorizada. Afinal, vender uma empresa envolve muito mais do que conhecimentos técnicos ou mercadológicos. Quais os aspectos mais críticos em um processo de fusão ou de aquisição? Quais as habilidades necessárias para levar a negociação a um bom termo? E qual o perfil de um bom negociador de empresas? Essas e outras questões fazem parte do dia-a-dia de quem quer vender (ou comprar) uma empresa. E, principalmente, dos negociadores que arquitetam essas operações, fazendo a ponte entre compradores e vendedores.

Um processo de aquisição ou fusão envolve uma série de etapas durante as quais o negócio pode desandar – inclusive por fatores que ultrapassam as fronteiras do próprio negócio. Plínio Chap-Chap, professor da São Paulo Business School, lembra que os problemas podem aparecer logo no começo, quando recém se está definindo o valor da empresa que será vendida. Ou então na fase da chamada due dilligence, já no final do processo. No meio do caminho, podem ser determinantes para o sucesso ou fracasso da negociação desde a definição do formato da venda e da estruturação financeira (como será o pagamento) até eventos inesperados como a quebra do sigilo antes de concluída a operação. Sem falar no ingrediente emocional que exerce forte influência sobre os vendedores, exigindo dos negociadores uma boa dose de psicologia – nem que seja de almanaque – para entender o comportamento humano e conciliar os vários interesses em jogo. Às vezes, apenas uma palavra mal colocada em uma reunião pode pôr o negócio a perder.

Muitas dessas operações morrem na praia justamente na fase final, quando, por mais confiantes que estejam comprador e vendedor, o negócio ainda não foi fechado. “É uma fase em que costuma haver muita divergência de pontos de vista. O comprador quase sempre quer achar alguma coisa para baixar o preço”, comenta Chap-Chap, um dos sócios da consultoria Fleisch Capital. A diligência final é a etapa em que não se permite esconder nenhum tipo de informação. “É a hora em que o comprador vai abrir as gavetas e levantar os tapetes.”

Paciência e flexibilidade – Até há pouco tempo, o mercado de fusões e aquisições estava restrito aos grandes conglomerados multinacionais, comprando empresas já consolidadas nacionalmente em países periféricos. Mas, de uns anos para cá, mesmo empresas de abrangência regional começam a ser alvo do apetite de grupos maiores. Um dos setores mais movimentados é o de varejo. Nessa toada, redes regionais como a Lojas Arno, no Rio Grande do Sul, e as catarinenses Base, Kilar e Madol passaram para o controle do Magazine Luiza, com atuação nacional. Isso para falar de alguns dos negócios mais recentes.

Geralmente, as grandes transações envolvendo empresas estrangeiras ou grupos brasileiros são assessoradas por bancos de investimento e consultorias internacionais. No Brasil, Merril Lynch, Credit Suisse, Itaú BBA, Pactual e Unibanco concentram uma parte significativa desse mercado. KPMG e PriceWaterhouseCoopers dominam as consultorias especializadas. Já os negócios do middle market são assessorados por empresas de consultoria de menor porte. O professor Paulo Valente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa que o mercado de aquisições de empresas médias é recente no Brasil, mas muito consolidado nos Estados Unidos. Com isso, começam a ganhar relevância as consultorias de menor porte como State Capital, Fleisch Capital e Estáter Gestão de Finanças, que operam justamente nesse nicho de mercado.

Para o sócio da Estáter, Pérsio de Souza, duas grandes virtudes necesárias numa negociação são a paciência e a flexibilidade – por parte de vendedores, compradores e negociadores. E recorre a Ernest Hemingway, no inesquecível O Velho e o Mar. Tal como o pescador Santiago na luta contra o grande marlin, também numa negociação é preciso não forçar demais para não romper a linha e, ao mesmo tempo, ter firmeza e persistência suficientes para trazer o peixe para o barco. Espera-se, claro, que o negociador tenha mais sorte do que Santiago; ele venceu, sim, a batalha contra o marlin, mas acabou levando muito pouco do peixe, que chegou à praia dilacerado pelos ataques de outros predadores.

Pérsio acredita que só com uma boa dose de paciência é possível levar até o fim negócios que podem se arrastar por um ano – ou mais que isso. O caso recente da venda do grupo Ipiranga para o consórcio Petrobras, Braskem e Ultra é um bom exemplo. Souza foi quem arquitetou a operação desde o seu início, com a preparação do tipo de negócio a ser encaminhado e o “amadurecimento” do grupo Ultra. Em seguida, veio a fase da conciliação dos interesses de todas as outras partes interessadas no negócio (principalmente a divisão dos ativos entre os compradores). E, finalmente, a hora de bater o martelo com os controladores do grupo Ipiranga. Ao todo, foram nove meses de negociação. Cauteloso ao falar do asunto, o executivo diz apenas que a fase mais demorada foi mesmo a de dividir o quinhão que caberia a cada um dos três compradores.

Diretor da State Capital, Luca Longobardi também reforça a importância da paciência nesse tipo de negociação. Mesmo que, em muitos casos, paciência signifique não meses, mas anos de dedicação a um cliente ou negócio. Longobardi participou diretamente da venda da Lojas Arno para o Magazine Luiza e de parte das operações da Cordoaria São Leopoldo para o grupo Lupatech. No caso da Cordoaria, Longobardi conta que a empresa estava à procura de investidores há cinco anos. “Analisamos diversas propostas e alternativas ao longo desse tempo”, conta. A venda para a Lupatech só foi finalizada em setembro do ano passado. O consultor garante que mais do que preço, o determinante na operação entre a Lupatech e a Cordoaria foi o casamento das filosofias de trabalho dos donos e a sinergia das atividades das empresas – ambas são fornecedoras de equipamentos para a Petrobras.



 
Referência: Amanhã
Autor: Amanhã
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