Preocupado com o futuro você começou, desde cedo, a
planejá-lo. Tanto já se sente confortável que, quando parar de trabalhar, terá
acumulado um patrimônio adequado para manter o seu padrão de vida.
Em seu planejamento, você assumiu que os seus investimentos irão render 6% acima
da inflação ao ano. Mas, como não sabe ao certo a alíquota sob o qual este
rendimento vai ser tributado, você planejou não resgatar mais do que 4% ao ano
do patrimônio que acumulou.
Seu planejamento parece perfeito, não fosse o fato que planejou viver até os 80
anos. Por mais que, aos 40 anos, isso pareça muito, é provável que você viva
mais do que isso, sobretudo se for mulher. Isso porque a expectativa média de
vida das mulheres brasileiras é, em média, seis anos e meio superior a dos
homens.
Quanto você vai viver?
Esta é uma pergunta difícil de responder, pois não está sob o seu controle, pelo
menos não inteiramente. Porém, uma análise dos seus familiares pode lhe dar uma
indicação da longevidade familiar, assim como o estilo de vida e cuidados com a
saúde que você mantém.
Se o seu pai era fumante, sedentário e faleceu aos 70 anos, é provável que você,
que corre diariamente e não fuma, tenha uma vida mais longa. Não só devido aos
hábitos mais saudáveis, mas também devido aos avanços da medicina. Atualmente, a
expectativa média de um brasileiro com idade entre 30 e 40 anos varia entre 72 e
79 anos. De forma que parece razoável assumir que você viverá até os 80 anos.
Porém, o que se constata é que a expectativa de vida, no mundo todo, vem
crescendo de forma assustadora. Tanto que, em muitos países, os próprios
governos ao planejarem o desembolso que terão com os aposentados já consideram
uma sobrevida de pelo menos 90 anos, ou seja, uma década a mais do que você
planejou.
Na ponta do lápis
Mas, o que esta década a mais faria para o seu planejamento? Vejamos o caso de
uma pessoa que se aposentou aos 60 anos com R$ 500 mil, e que planeja ter um
retorno de 6% ao ano acima da inflação nas suas aplicações. Considerando uma
alíquota de 15% de imposto de renda, já que é provável que se trate de
investimento de longo prazo, estamos falando de um retorno líquido de 5,1% ao
ano, ou 0,41% ao mês.
Caso a pessoa planeje utilizar integralmente o patrimônio acumulado durante os
20 anos, que planeja viver após a aposentadoria, seria possível ter um resgate
mensal de R$ 3.295. Caso planeje deixar uma herança de R$ 100 mil para os
filhos, o saque mensal cai para pouco mais de R$ 3 mil. Ou seja, a decisão de
deixar, ou não, uma herança, causou uma diferença de 7,4% na sua renda.
E se você vivesse mais dez anos, o que isso faria para a sua renda? Nesse caso
sua renda cairia 21% para R$ 2,6 mil (assumindo que não deixe herança), ou quase
três vezes mais do que a redução necessária para deixar uma herança para os seus
filhos. É provável que, com o passar do tempo, você percebesse o erro cometido.
Mas aí fica mais difícil ajustar o seu planejamento.
O ideal é que avalie esta possibilidade agora, que ainda está poupando para a
sua aposentadoria. Caso contrário, ao invés de deixar uma herança para os seus
filhos, você acabaria tendo que depender deles para garantir o seu padrão de
vida