Ao contrário do que aconteceu nos últimos quatro anos, quando o mercado
global registrou seus melhores indicadores de crescimento, o próximo presidente
do Brasil vai encontrar um quadro econômico global propenso para a
desaceleração, especialmente nos Estados Unidos. Estudo divulgado pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional) indica que a economia norte-americana deve sair
de uma expansão de 3,4% neste ano para cerca de 2,9% em 2007 - o impacto no PIB
global deve chegar a 0,2 ponto percentual.
Com o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) mantendo os juros estáveis em
5,25%, os indicadores macroeconômicos mostram que a trajetória é de estabilidade
ao menos até o começo de 2007, com grandes possibilidades de queda a partir do
segundo semestre. Entretanto, isso depende de como a economia dos EUA vai
responder ao aperto monetário, uma vez que os efeitos estão no início e a
autoridade monetária vai tomar medidas mais drásticas caso o desaquecimento
fique acima do esperado.
Um ponto de referência importante será o comportamento da inflação – e um
importante vetor nesse sentido é o preço do petróleo. Embora a média da cotação
do barril esteja em torno de US$ 60, a entrada do inverno no final do ano pode
causar algum repique nos preços, com efeitos nos índices de inflação.
A postura conservadora do Fed será mantida enquanto os índices não caírem de
forma expressiva. A intenção é garantir que os indicadores estejam mais baixos
daqui a um ano, pelo menos. No momento em que a pressão for menor, é grande a
possibilidade dos juros seguirem o mesmo caminho. Outros pontos também vão
merecer uma análise mais criteriosa dos investidores em 2007, entre os quais:
Mercado imobiliário: nos últimos anos, o segmento está
excessivamente aquecido, tanto em termos de preços quanto de quantidade. Os
ajustes nos juros parecem ter dado início ao processo de desinflação da temida
bolha imobiliária. A questão é saber o tamanho do impacto no consumo e no
crescimento em 2007, uma vez que grande parte do lucro obtido com as vendas dos
imóveis era destinado ao consumo;
Déficits gêmeos: hoje, as dívidas de conta corrente e fiscal
dos EUA equivalem a 10% do PIB daquele país. Em qualquer nação do mundo, tal
desequilíbrio teria gerado uma massiva desvalorização da moeda, alta de juros e
recessão econômica. Porém, a manutenção do ritmo de compra de títulos emitidos
pelo governo mantém o quadro equilibrado.
Além disso, o dinamismo do setor industrial permanece estável – uma análise dos
dados da indústria americana mostra que a produção dos bens não-duráveis está
acima da média histórica. O ritmo deve se manter principalmente se considerarmos
o setor de serviços, responsável por 60% da economia norte-americana.
Embora não se saiba ao certo o tamanho do impacto da desaceleração econômica
global no Brasil, o próximo presidente terá de se adequar às movimentações para
garantir a saúde da economia. Além de aumentar o rigor com os juros e
impulsionar a realização das reformas, medidas deverão ser tomadas para amenizar
o impacto do dólar desvalorizado junto a alguns setores exportadores, como soja,
carnes, calçados, têxtil e automobilístico.