Finanças pessoais - Aprenda a tomar decisões inteligentes para o seu dinheiro
Quase todas as resoluções de Ano Novo exigem algum tipo de
mudança de hábito. Se você, como boa parte dos brasileiros, definiu como meta
para 2006 uma melhor gestão das suas finanças pessoais, então, provavelmente,
isso irá exigir uma mudança na forma como você se relaciona com o dinheiro.
E, como em todo relacionamento, é preciso ouvir o que o outro tem a dizer.
Assim, imagine como seria a sua vida se o seu dinheiro falasse e lhe
aconselhasse sobre como melhor utilizá-lo. Para quem ainda não conseguiu
estabelecer esse tipo de relacionamento com o dinheiro, vale a pena imaginar os
seguintes diálogos que vocês poderiam ter sempre que saísse às compras.
Você precisa disso?
Todos os dias somos convencidos de que "precisamos" de alguma coisa. Muitas
vezes a necessidade até existe, mas na maioria dos casos, aquilo que acreditamos
precisar, na verdade, não passa de uma vontade.
Aproveite o Ano Novo para fazer uma faxina em sua casa, basta uma breve visita
ao seu armário, que logo perceberá que já foi vítima desse tipo de situação. Se
você conseguisse ouvir o seu dinheiro saberia que tudo o que ele quer é evitar
que você se arrependa desse tipo de decisão por impulso.
É possível que nessas horas ele pareça com a sua namorada (o), que precisa
entender qual o efetivo valor que você dá ao relacionamento. Pense sobre isso da
próxima vez que sair as compras: será que vale a pena abrir mão do dinheiro que
juntou em troca daquilo que pretende comprar?
Quanto irá lhe custar a sua decisão?
Mesmo que não consegue ouvir o seu dinheiro falar, muitas vezes acaba convencido
diante dos números. Assim, antes de tomar uma decisão de consumo faça a seguinte
conta: por quanto tempo terá que trabalhar para arcar com os custos da sua
decisão?
Reflita sobre a sua decisão de comprar um carro novo: quanto isso irá lhe custar
em termos de horas trabalhadas em um mês? Procure avaliar o preço daquilo que
quer comprar não em termos de R$, mas de quantas horas terá que trabalhar para
isso. Na tabela abaixo ilustramos como essa decisão pode afetar o orçamento de
uma pessoa que tem renda mensal de R$ 5 mil, e que trabalha 22 dias por mês,
recebendo por dia o equivalente a R$ 227.
No caso em questão a pessoa não sabe se vale mais a pena comprar à vista um
carro de R$ 25 mil, ou realizar o seu sonho de consumo e financiar um modelo
mais caro de R$ 60 mil, sendo que nesse caso daria de entrada os R$ 25 mil, e
financiaria os R$ 35 mil restantes. Em ambos os casos, o veículo será vendido em
36 meses, de forma que esse é o período usado para o cálculo do prazo de
financiamento.
|
Compra à vista |
Compra financiada |
Valor do carro |
R$ 25 mil |
R$ 60 mil |
Valor de revenda
em 36 meses |
R$ 17 mil |
R$ 48 mil |
Valor financiado |
- |
R$ 35 mil |
Seguro (3%) |
R$ 750/ ano |
R$ 1.800/ano |
IPVA (4%) |
R$ 1.000/ ano |
R$ 2.400/ano |
Combustível, estacionamento, etc |
R$ 570 |
R$ 570 |
Perda de valor |
R$ 223 |
R$ 333 |
Prestação |
- |
R$ 1.162 |
Total |
R$ 939 |
R$ 2.415 |
Dias a trabalhar |
4 |
10,6 |
É fácil ver que a opção pelo financiamento de um carro maior, pode ser
interessante do ponto de vista daquilo que você gostaria de ter, mas certamente
não é a melhor decisão para o seu dinheiro, já que um terço do seu mês já está
comprometido com o pagamento desta decisão.
Não existe um uso melhor para o dinheiro?
Para responder a essa pergunta voltaremos ao exemplo anterior. Mas, e se, ao
invés de financiar um carro maior, essa mesma pessoa fizesse um esforço e
poupasse a quantia que, iria gastar com a prestação.
Aqui é interessante lembrar que, se tivéssemos estabelecido como meta para essa
pessoa poupar 23% da sua renda, ela provavelmente teria dito que se trata de uma
meta impossível. Porém, quando o objetivo é garantir o financiamento de um carro
novo, de alguma forma, essa mesma pessoa acredita que conseguirá equilibrar o
seu orçamento de forma a manter o pagamento das prestações.
Se ao invés de efetuar 36 prestações de R$ 1.162 para quitar um carro, que nesse
período irá perder R$ 12 mil em valor, essa pessoa optasse por aplicar o
dinheiro, na caderneta de poupança a uma taxa mensal de 0,7%, ao final dos 36
meses teria acumulado R$ 47 mil! Certamente isso responde à pergunta se haveria
um uso melhor para o dinheiro que foi gasto com juros do financiamento de um
carro maior.
E, quando a necessidade existe?
É sempre bom lembrar que o objetivo aqui não é, em absoluto, evitar que você
aproveite a vida, e vire um pão duro.
Afinal, é para isso que trabalha tanto. Mas, sim que reflita sobre o quanto as
suas decisões de consumo afetam a qualidade de vida que tem.
Assim sendo, haverá situações em que efetivamente você precisa de um determinado
bem, nessas horas, é importante que você reflita sobre o seguinte: De que tipo
de produto você efetivamente precisa? De quanto pode dispor para realizar essa
compra? Como pretende efetuar o pagamento, e como isso irá afetar a sua situação
financeira. Quais serão as conseqüências caso você se depare com uma emergência?
Mesmo que haja necessidade, se a compra de um determinado bem comprometer demais
a sua situação financeira, você deve se questionar se não é possível esperar um
momento melhor, por exemplo, uma liquidação para realizar a sua compra,
sobretudo, se você ainda não conta com uma reserva de emergência.
Não se esqueça que o seu objetivo não é acumular dinheiro, mas sim realizar um
sonho. Se o seu dinheiro pudesse falar, ele certamente lhe lembraria que gastos
desnecessários dificultam a realização dos seus sonhos , e que, quando os juros
estão altos, como acontece no Brasil, tudo aquilo que você poupa hoje se bem
investido lhe garante um a maior poder aquisitivo amanhã.
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