A primeira vez que o coordenador de comunicação Lucas Tavares teve de demitir
um funcionário com o qual mantinha amizade não foi uma situação das mais fáceis.
"Foi um clima super chato, além de uma decisão que poderia estragar a nossa
amizade", afirma. A decisão, explica o profissional, teve de ser tomada em
decorrência das inúmeras tensões internas que este funcionário havia criado.
A princípio, por pelo menos duas vezes, Tavares resolveu bancar a permanência
deste amigo, o que não deu certo. Na avaliação da consultora da DBM, Carmelina
Nickel, se responsabilizar por uma amizade pode ser prejudicial aos demais
funcionários.
"A amizade poderá prejudicar o time, se forem formadas as 'panelas' e os
guetos, no compromisso de cooperar com um objetivo maior, que são os resultados
da própria área", afirma Carmelina.
Experiência
Esta não foi a única ocorrência envolvendo Tavares e um "funcionário-amigo".
Ele revela que, em outra situação, por incompatibilidade de horários
profissionais, foi obrigado a demitir um colaborador muito próximo.
"Eu recomendei essa pessoa, pois sempre foi muito leal. Ambos funcionários
viraram meus amigos, nunca houve nenhum tipo de mágoa ou irritação", aponta o
coordenador.
No entanto, Tavares adverte que não vale a pena indicar um amigo que não
tenha compromentimento e seja irresponsável para uma outra empresa. Isso,
segundo ele, pode distorcer a imagem do próprio indicador.
Corporativo
Para a diretora executiva da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Izabel de
Almeida, uma situação como a de ter de demitir um amigo é normal no ambiente
corporativo, pois as relações profissionais podem se estreitar facilmente.
No momento da demissão, no entanto, ela diz que planejar como falar é
extremamente importante. "É bom que o gestor tenha bem nítida a relação entre
ambos, pois ficará muito fácil comunicar o desligamento sem deixar as questões
emocionais transparecerem", afirma a especialista.
No primeiro momento, explica Izabel, ele deve comunicar que está fazendo isso
de forma profissional, seguindo um pedido da empresa. Cabe ao gestor, inclusive,
a decisão de comunicar a fundo o desligamento.
Carmelina, da DBM, segue pelo mesmo caminho. "Primeiramente, o chefe deverá
se preparar para comunicar com clareza o motivo da demissão, procurar ter
empatia pelo momento e entender possíveis reações".
"Além disso, tem de ser objetivo na hora de comunicar, não pode fazer rodeios
e deve ir diretamente ao ponto. Em contrapartida, deve dar a oportunidade da
pessoa se manifestar, pois cada um reage de uma determinada forma. É importante
estar preparado para reações inesperadas, como choro, raiva, indiferença e
apatia, e como reagir a cada uma delas. Colocar-se à disposição e informar os
próximos passos também são importantes", completa Carmelina.
Empurrãozinho
Izabel recomenda ao gestor não tomar nenhuma atitude baseada no sentimento
de culpa. Se o amigo merecer uma outra chance, é válido encaminhá-lo à alguma
outra empresa ou processo de seleção.
Na prática, o chefe deve demitir o amigo como se estivesse demitindo qualquer
outro funcionário: com respeito e dignidade. "O comportamento do gestor deve ser
ético e transparente, para que não cause nenhum mal entendido", conclui Izabel.