No mercado de trabalho, dependendo do cargo que se ocupa, cada decisão tem um
determinado peso. E grande parte delas gera alguma consequência, em maior ou
menor grau, para as empresas ou para a própria carreira do profissional. No meio
do caminho, um erro na escolha pode ajudar ou prejudicar a trajetória
profissional. E isso é natural, tendo em vista que em cada decisão existe um
fator que pode ser um complicador ou um facilitador de todo esse processo: as
emoções.
“As emoções nos acompanham o tempo todo e são importantes pois nos fornecem
pistas de como estamos e quem somos”, afirma a psicóloga Clarice Barbosa. Ela
explica que hoje existe uma linha tênue entre o âmbito profissional e o
emocional. Em muitos casos, essa linha sequer existe – o que contribui para a
existência de profissionais extremamente emotivos, que fazem suas escolhas de
carreira baseadas apenas em questões emocionais.
A extinção da separação vida pessoal e profissional tem uma explicação bem
racional. O mercado está mais competitivo, as informações chegam a todo momento
e de maneira desenfreada e a qualificação para se dar bem na carreira tem de ser
constante. Tudo isso, contando com o aumento do volume de trabalho, é o que
explica a demanda por profissionais “multitarefa”. O problema é que o dia
continuou tendo 24 horas. “É muita informação em pouco tempo e não conseguimos
ter tempo para pensar e aprofundar nada. Nossa mente tem um tempo interno. E não
estamos respeitando esse tempo”, explica a psicóloga.
Não é à toa a velha afirmação de que só é possível ter qualidade de vida
quando se separa, ao menos, a vida profissional da pessoal. Para muitos
profissionais, no entanto, essas duas esferas se tornaram uma só. As emoções, a
partir daí, afloram mais. E vai ficando cada vez mais difícil saber quando a
decisão a ser adotada foi baseada mais em critérios racionais que emocionais.
O racional x o emocional
“Profissionais mais emotivos aprenderam desde cedo a lidar com situações
externas utilizando as emoções”, explica Clarice. “Com isso, eles acreditam que
conseguirão tudo o que querem”, afirma a psicóloga que conta conhecer casos de
pessoas que choravam a cada crítica que recebiam do líder ou de colegas. Elas
agem assim, explica Clarice, porque, de maneira geral, os emotivos estendem para
o âmbito profissional emoções típicas da vida pessoal.
Casos, por exemplo, de profissionais que recusam novas oportunidades por não
quererem romper o vínculo que criaram com os atuais colegas de trabalho são
comuns. “Nesse caso, a decisão se relaciona com a carência afetiva desse
profissional”, explica a psicóloga. Profissionais mais racionais não perderiam
novos desafios por amizades dentro da empresa. “Eles estão pensando no progresso
profissional”.
“Com certeza, toda ação e decisão feita e adotada por impulso é complicada”,
afirma a headhunter da De Bernt Entschev Human Capital Cristina Reininger. A
especialista explica que profissionais que adotam critérios apenas emotivos para
a tomada de decisão podem se prejudicar no mercado. “Eles podem ser vistos como
imaturos”, considera.
Um profissional que tem um comportamento mais emotivo, na avaliação de
Cristina, é mais inseguro. Ela enfatiza, porém, que esse comportamento pode ser
mais ou menos constante em determinadas profissões. A cultura e a política da
empresa onde esse profissional atua também são determinantes na acentuação dessa
característica. “Sempre tem uma influência do momento pelo qual esse
profissional passa”, avalia Cristina.
Consequências
Uma das consequências de se agir baseado nas emoções é justamente a
estagnação da carreira, ou porque o profissional não percebe que isso está
acontecendo ou pelo fato de ele cometer erros constantes. “Profissionais
racionais pensam muito e agem menos. Os emotivos agem mais e, por isso, também
erram mais”, explica Clarice.
Outra consequência é o estresse. Um profissional mais racional nega o que
sente e o emotivo é mais aberto a isso. “Com isso, o estresse pode ser maior no
emotivo e pode até mascarar uma depressão”, avalia a psicóloga. Tudo isso não
significa dizer que ser racional é melhor quando se trata de desenvolvimento da
carreira. Um líder que é muito racional, por exemplo, pode deixar de lado o
bem-estar dos seus colaboradores, e pode acabar não tendo sucesso devido a isso.
Se não podemos contra elas...
Não importa se você está no trabalho ou em casa, brigando com seu líder ou
com seu namorado, as emoções estarão presentes, em menor ou maior grau,
dependendo da situação e do local. A grande questão, para as especialistas
consultadas, não é o fato de as emoções estarem presentes nas escolhas de
carreira. Mas sim o fato de elas atuarem em excesso.
E já que é impossível se desvencilhar das emoções, então, para minimizar
erros, o ideal seria tentar equilibrá-las. “O profissional tem de saber
administrar e organizar suas emoções”, afirma Cristina. “Para isso, é preciso
ampliar o autoconhecimento e a autoconfiança. Um profissional confiante não vai
se deixar abalar por determinadas situações”, explica a headhunter.
Para ela, um planejamento de carreira, nessas horas, é fundamental. Ainda que
o profissional não siga essa linha à risca, ao menos ela indicará um caminho
possível, com largada e chegada. Com isso, apesar de todas as situações que ele
venha a enfrentar, ele conseguirá estabelecer critérios mais racionais em prol
dessa meta de carreira.
“Esse profissional precisa ter um contraponto. Não pode ser só emoção ou só
racional. Ele precisa voltar para si mesmo e perceber se essas decisões o
ajudarão no futuro”, considera Clarice. “Isso é inteligência emocional: utilizar
as emoções a seu favor”, considera. Ela lembra que a tomada de decisões envolve
a emoção, a razão e a intuição. E que o equilíbrio desses fatores é importante.
“As emoções são positivas. As atitudes que nós temos em decorrência de uma
emoção é que podem nos prejudicar”.