Diante das dinâmicas aceleradas do mercado de trabalho, muitos profissionais
correm em busca de aprimoramento a fim de conquistar os melhores postos nas
melhores empresas. Preocupados com isso, contudo, muitos esquecem de desenvolver
habilidades e competências mais intangíveis e que são cada vez mais valorizadas
pelo mercado. A criatividade é uma delas e pode ajudar a determinar quem
sobreviverá nesse cenário competitivo.
Um profissional criativo enxerga soluções onde os demais veem apenas
problemas, cruza referências para alcançar o novo e inova práticas utilizadas no
passado. “É importante diferenciar a criatividade pura da criatividade aplicada,
que é utilizada no mercado de trabalho”, explica o gerente de Projetos em
Desenvolvimento de Pessoas do Idort-SP, Danilo Afonso. “O artista utiliza dessa
criatividade mais pura, da criação. A criatividade aplicada foge um pouco disso,
porque não é tão ousada como a criatividade pura, mas resolve problemas”,
afirma. Para ele, um profissional criativo conhece, entende e aplica as regras e
os processos, mas sabe quando é hora de escapar disso tudo para ter melhores
resultados.
E profissionais que resolvem problemas, sem criar outros, de maneira
inovadora e que ainda geram resultados satisfatórios para as empresas são raros.
Mas não são impossíveis de serem achados, pois você pode ser um deles. Nessa
hora, muitos devem estar se perguntando: “Como isso é possível, se não me
considero nada criativo?”. “É que existem muitas formas de ser criativo”, afirma
a diretora da consultoria especializada em Gestão de Pessoas Projeto RH, Teresa
Gama. “O criativo não é só aquela pessoa que pinta quadros, mas aquela pessoa
que enxerga novas possibilidades, ainda que tenha uma rotina mais engessada”,
afirma.
Para a especialista, todo mundo pode desenvolver a criatividade. Alguns têm
uma maior predisposição que outros, mas é possível chegar lá com algum esforço e
muita disciplina. “Todos nós temos esse potencial”, considera. Aliados a essa
predisposição, alguns fatores podem favorecer o desenvolvimento dessa
habilidade. Por outro lado, outros podem retardar esse processo. “Em
determinadas empresas, pelas próprias características delas, fica mais difícil
ser criativo”, alerta o presidente executivo do Insadi (Instituto Avançado de
Desenvolvimento Intelectual), Dieter Kelber.
Ele atenta que embora seja possível desenvolver a criatividade, os
profissionais devem ficar atentos ao que é possível mudar. “Se na empresa você
não tiver situações diferentes do padrão, ficará mais difícil a criatividade
fluir”, acredita. Independentemente da situação, ainda que ela não seja muito
favorável, tentar ser mais criativo pode ajudar no desenvolvimento da carreira.
E o resultado dessas tentativas pode ser a conquista dos melhores postos nas
melhores empresas.
Conquiste a sua criatividade
A criatividade é alcançável a todos, mas é mais fácil desenvolvê-la quando
se tem facilidade de lidar com o campo das ideias. “O criativo prefere trabalhar
no campo das ideias, pois ele tende a ser mais inovador, ao passo que fica mais
difícil inovar quando se tem mais facilidade de trabalhar com o campo dos
fatos”, explica Afonso. Saber em qual lado se está (ou se está nos dois) não é
fácil, por isso, o especialista aconselha aos profissionais consultarem alguém
de confiança que possa lhes dizer se o caminho rumo à criatividade começou bem.
O caminho fica melhor se a área e a empresa para qual se atua permitirem um
clima para sustentar essa habilidade. “O ambiente de trabalho contribui muito
para isso, pois você tem que ter a possibilidade de ser mais criativo”,
considera Kelber. “Se o profissional ficar amarrado dentro dos processos da
empresa, terá mais dificuldades”, afirma. Nessa hora, é preciso tentar romper as
amarras e tentar criar, ainda que internamente, um cenário propício para a
criatividade se manifestar. E como fazer isso? Confira abaixo os sete passos
listados pelos especialistas consultados para você desenvolver a criatividade:
"Não sou criativo!" Se você pensa assim, começou mal. Para Teresa, da Projeto
RH, ter consciência de que se pode desenvolver essa habilidade é o passo, e
talvez o primeiro, para se tornar um profissional mais criativo. “É preciso
olhar para essa sentença e questioná-la. O profissional precisa valorizar e
reconhecer as alternativas criativas que ele encontra para resolver um problema
do dia a dia”, explica. Isso abrirá caminhos para novas e mais ideias.
Mente aberta... Mas poucas ideias se sustentam com pouco repertório. Por
isso, um dos requisitos mais importantes para a conquista da criatividade é
investir em conhecimento. Não em aprimoramento técnico, mas sim em repertório
humano e social. “Um repertório limitado devido à falta de informação dificulta
esse processo”, afirma Afonso, do Idort. “Com conhecimento, é possível fazer
associações entre as referências, o que ajuda na busca por soluções dos
problemas”, explica.
... E sem preconceitos Ir a algum lugar que você tem certeza de que não vai
gostar, ler um livro que só pela capa você não achou em nada a sua cara só ajuda
a mente a criar novas conexões. “Para ser mais criativo, você precisa se
desafiar a fazer coisas que nunca fez e ir a lugares que nunca foi”, aconselha
Afonso. Quebrar alguns preconceitos inerentes à nossa criação dá chances para
termos novas e diferentes referências.
Mente sã... Além de cuidar da “cabeça”, é preciso também cuidar do corpo.
Para Afonso, estar fisicamente bem também contribui com esse processo. Por isso,
insira as atividades físicas e a alimentação saudável na sua rotina. Sem
preocupações com o corpo, você abre espaço para os pensamentos (e as ideias)
fluírem.
Não deixa-a escapar! Você estava tomando banho quando uma ideia, a princípio
boba e que nada tem a ver com o seu trabalho, surgiu? Saia do banho e a anote.
“Quando você dá atenção àquilo que surge espontaneamente, você abre espaço para
as ideias amadurecerem”, afirma Teresa. E dessa ideia “boba” pode surgir a
solução de algum problema e um projeto inovador.
Não guarde na gaveta! E não adianta nada anotar aquela ideia genial e
esquecê-la jogada em uma gaveta. Colocá-la na roda de discussão dos amigos mais
confiáveis pode render bons frutos. “Discutir ideias é uma forma de tentar ver a
vida diferente”, afirma Teresa. E ela defende que o criativo se resume,
basicamente, a isso. Ele enxerga o diferente. Além disso, o debate pode tornar
aquela ideia ainda mais inovadora e mais possível de ser realizada. E ainda
gerar outras e outras ideias, como em um ciclo virtuoso.
Nada de bagunça E para quem pensa que o criativo é aquele que acorda com
aquela ideia genial errou de novo. Todos os passos anteriores exigem muita
disciplina. Para se tornar criativo, é preciso mais que conhecer profundamente
sua área de atuação, sua empresa e as relações que ela estabelece. É preciso
estar atento ao que ocorre em sua volta e fazer tentativas. “Aquele escritor que
você acha genial não nasceu assim. Ele acordou cedo e escreveu por horas até
acertar”, afirma Afonso. Para quem quer ser criativo, as tentativas devem ser
constantes.