Aquele curso que é referência ou aquela viagem para o exterior que vai
melhorar o seu inglês. Esse tipo de atividade eleva o nível do currículo de
qualquer profissional. E são poucas as empresas que não concedem um tempo para
que seu colaborador possa realizá-las quando existe um planejamento para isso.
Mas e quando essas oportunidades surgem de última hora?
Oportunidades de última hora geram medo e ansiedade nos profissionais.
Principalmente quando, para agarrá-las, é preciso, ainda que por pouco tempo,
ficar longe do emprego. Muitos entram em desespero por pensar que existe apenas
uma opção: ou fica com o trabalho que paga suas contas, que gosta, que se dá bem
ou aceita a oportunidade que não, necessariamente, vai lhe dar outro emprego
igual ou melhor que o que já tem. Nessa hora, porém, é preciso manter a calma e
pesar alguns fatores.
Primeiro é preciso pesar se essa oportunidade de última hora de fato vai fazer
diferença no seu campo de atuação e se ela vai mesmo alavancar o seu currículo.
Caso afirmativo, então, mantenha a calma, porque ficar longe do trabalho não
significa pedir demissão ou ser demitido. Em termos jurídicos, é possível se
afastar da empresa mantendo ainda a ligação com ela por meio de uma licença sem
vencimento. “Isso é muito comum”, afirma o especialista em Direito Trabalhista e
vice-presidente do IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo), Euclydes José
Marchi Mendonça.
Ele explica que, nesses casos, o contrato do profissional é suspenso, bem como a
remuneração, mas nada acontece na carteira de trabalho e ele ainda mantém
vínculo empregatício com a sua instituição. “Muitas empresas costumam até dar
incentivos, como bolsas, e fazem um contrato que garanta o retorno do
profissional e sua permanência durante algum tempo até que esse incentivo seja
quitado, ou que o profissional devolva depois os valores investidos”, afirma o
advogado.
A hora da decisão
Para utilizar esse instrumento jurídico, contudo, é preciso entrar em um
acordo com a empresa. Se a ausência não consumir um tempo significativo, é
possível conseguir essa licença. “De um mês a dois meses de afastamento é
possível a empresa administrar”, afirma a diretora de Consultoria da Ricardo
Xavier Recursos Humanos, Neli Barboza. “Agora, prazos mais extensos, como de um
ano, são mais difíceis, embora também possíveis de serem negociados”, ressalta.
Neli diz que, quanto antes o profissional avisar que pretende se ausentar,
melhor, uma vez que facilita o planejamento da empresa Contudo, oportunidades de
última hora devem ser bem analisadas, principalmente do ponto de vista da
empresa. “A empresa será parceira nesse projeto se ela perceber que vai ganhar
com isso”, diz a diretora.
Para Mendonça, empresas sérias não veem problemas nessas saídas, desde que elas
não tragam nenhum prejuízo. “Normalmente, essa licença está vinculada à área de
atuação do profissional”, diz. E ela, dependendo do caso, só melhora a
performance do colaborador, beneficiando ele e, por consequência, a empresa, que
deterá um profissional mais qualificado.
Para Neli, oportunidades de peso para o currículo devem ser agarradas,
principalmente quando se trata de profissionais em início de carreira. “Para
eles, um curso, uma viagem ao exterior, fará grande diferença tanto para a
esfera profissional como para a pessoal também”, avalia. E mesmo no emprego que
gosta, ele não deve deixar passar novos desafios. “É importante que ele tenha
coragem. Muitas vezes, a gente tem tanto receio que não consegue visualizar
mudanças e isso pode até atrapalhar esse jovem na tomada de decisões
profissionais futuras”, diz Neli.
Entrando em um acordo
Como as empresas querem, cada vez mais, reter seus talentos e, em termos
jurídicos, um acordo para a ausência é possível, o que falta ao profissional que
já optou por agarrar a oportunidade repentina é conversar com o seu líder. Nessa
conversa, os objetivos que o profissional pretende alcançar com essa viagem ou
curso devem estar bem claros. “Ele precisa atentar no proveito que ele e a
empresa terão com essa experiência”, considera Neli.
Uma dica é conversar com o líder com a decisão já tomada. Para Neli, com esse
foco, é mais fácil convencer o líder a conceder a licença. Nessa hora, se de
fato é o seu desejo, diga que ainda quer permanecer na empresa, depois da
experiência que resolveu ter. Consulte a opinião de seu líder, dependendo do
relacionamento que tiver com ele. Muitas vezes, ele pode não conseguir sua
licença, por questões burocráticas, ou mesmo porque não é política da empresa,
mas pode ser um grande incentivador.
Considerar que a licença pode ser concedida ou não é parte da decisão do
profissional. O ideal é sempre considerar o outro lado da moeda para evitar
surpresas. Para Neli, empresas sérias, que valorizam seus profissionais, não
olhariam com maus olhos um profissional que decide se afastar para, de alguma
forma, se aprimorar. Por isso, não se preocupe com sua imagem.
E se, diante da negativa, você desistir dessa oportunidade, também não se
martirize. “Não é porque ele desistiu uma vez, que ele vai desistir sempre”,
afirma Neli. “Medo sempre vai existir, porque qualquer mudança gera medo. O que
não pode é desistir. Erra o profissional que não tenta”, diz.