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Investimentos / Fundos - Saiba quando é hora de fugir das taxas altas de um fundo 

Data: 16/04/2010

 
 
Especialistas dizem quais taxas são aceitáveis e quando o custo dos gestores reduz a rentabilidade a ponto de tornar outros investimentos mais atrativos

Taxas de administração muito altas podem reduzir bastante o rendimento líquido

Da mesma forma que pode valer a pena gastar um bom dinheiro para ir a um restaurante caro de um chef renomado para degustar um prato saboroso, às vezes também é vantajoso contratar um gestor experiente - e caro - para que ele decida onde seu dinheiro será investido. No Brasil, milhares de executivos são responsáveis pela administração do dinheiro aplicado em fundos, mas aqueles que batem ano após ano os retornos médios entregues pelo mercado não chegam a uma centena. Especialistas dizem que vale a pena pagar um pouco mais para entregar seu dinheiro nas mãos desses gestores - que, se fossem chefs, receberiam três estrelas no guia "Michelin". No entanto, ao escolher um fundo sem muita pesquisa, o melhor a fazer é buscar taxas inferiores à média do mercado porque, muitas vezes, o custo do gestor pode reduzir ou até mesmo acabar com a atratividade da aplicação.

No Brasil, os fundos costumam cobrar dois tipos de taxas. A de administração serve para remunerar o gestor pelo seu trabalho de escolher a melhor aplicação para colocar seu dinheiro. Já a taxa de performance é uma espécie de "prêmio" para o gestor que fez o dever de casa, soube antecipar cenários econômicos e entregou lucros acima da média aos quotistas. Em geral, a cobrança dessa segunda taxa só se justifica na gestão de aplicações em renda variável, que exigem uma análise diária da carteira e a realocação constante dos recursos.

Uma terceira taxa existente no mercado brasileiro é para a entrada e saída em um fundo. A intenção, nesses casos, é incentivar que o quotista permaneça com o dinheiro aplicado por um prazo mais longo de forma a permitir que o gestor possa aproveitar oportunidades de investimento em negócios menos maduros que só serão lucrativos após vários anos. A taxa de saída, nesses casos, costuma ser cobrada apenas se o investidor decidir resgatar seus recursos antes do fim de um determinado prazo acertado entre as partes.

Qual o valor justo?

Em geral, fundos que aplicam em ativos de menor risco, como a maior parte dos de renda fixa e DI, requerem menos habilidade do gestor. Por isso, é melhor que tenham taxas de administração inferiores às dos fundos mais arrojados, como os de ações e multimercados. O especialista em finanças pessoais Mauro Calil acredita que nos fundos de renda fixa, o ideal é que a taxa de administração não ultrapasse 1% ao ano. "Nos fundos de renda fixa, uma taxa de 3% ou 4% ao ano sobre o total investido pode ser igual à metade do ganho líquido do investidor", diz.

Para um bom fundo de renda variável, ele acredita que uma taxa de 3% ao ano pode ser justificável desde não seja cobrada também a taxa de performance. Na opinião do coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), William Eid Jr., há uma importante diferenciação entre os fundos de renda variável. Naqueles chamados no mercado de "passivos" - em que o gestor apenas aplica o dinheiro em uma carteira semelhante à de um índice de ações como o Ibovespa - o ideal é que a taxa seja de até 1% ao ano. "Mais que isso já é muito", ensina. Já para os fundos ativos em renda variável (multimercados ou de ações), a praxe é cobrar algo em torno de 2% ao ano pelos custos com administração mais uma taxa de performance equivalente a 20% do que superar o rendimento estipulado como meta. "Só se a rentabilidade for muito alta não tem problema cobrar uma taxa maior do que 3%", explica.

Um estudo realizado pela Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima) entre 2005 e 2010 mostra que as médias das taxas de administração de fundos DI e de renda fixa no Brasil vêm caindo ao longo dos anos. A maior parte do patrimônio líquido desses dois tipos de aplicação já se concentra em fundos com taxas menores que 1% ao ano. Segundo o vice-presidente da associação, Demosthenes Pinho Neto, isso se deve a dois fatores: a migração de recursos de fundos mais caros para os mais baratos e a criação de novos fundos já com taxa de administração mais baixa.

Mas Mauro Calil alerta que alguns fundos de renda fixa antigos ainda mantêm taxas de administração que chegam a 5% ao ano. "Muita gente ainda não se deu conta de que pode migrar os recursos para um fundo com taxa menor. O investidor fica um pouco inibido porque quanto mais tempo ele deixa o dinheiro no fundo, menor será a alíquota do Imposto de Renda. Mas, mesmo assim, na maioria dos casos é interessante migrar. Os fundos novos caros estão cobrando 2% de taxa", diz.

Por outro lado, os fundos que operam renda variável têm assistido a uma elevação nos custos com gestão. O mesmo estudo da Anbima mostra que a média das taxas de fundos de multimercados tende a oscilar, mas fica entre 1,8% e 1,9%. Já a de fundos de ações ultrapassa um pouco os 2% ao ano. Fundos com taxa entre 1% e 2% concentram a maior parte do patrimônio, sendo que houve uma redução significativa de concentração em fundos com taxas superiores a 4% ao ano.

De acordo com o vice-presidente da Anbima, a elevação das taxas de fundos mais "ativos" se justifica pela introdução de novos instrumentos no mercado, como derivativos e crédito privado. Analisar esses produtos exige um trabalho bastante sofisticado do gestor. O grande número de empresas que vêm abrindo seu capital também incentivou o aumento das taxas. "O custo de produtos tão complexos é maior", diz Demosthenes Pinho Neto.

O que o investidor paga

Mas, afinal, o que está embutido na taxa de administração? Ela custeia os serviços prestados pelo administrador ou por terceiros. Ou seja, banca a administração, a gestão, a custódia, a distribuição, atividades de consultoria de investimentos, tesouraria, controle, registro da emissão e resgate de cotas, classificação de risco por agência especializada e contratação obrigatória de auditoria independente.

Outro fator que influencia o valor da taxa é o segmento de mercado para o qual o fundo é voltado. As taxas praticadas no varejo - o segmento dos pequenos investidores, pessoas físicas ou pequenas empresas com saldo médio menor que R$ 105.000 - costumam ser maiores que aquelas cobradas pelos fundos de atacado - investidores corporativos, institucionais e private banking - e pelos fundos exclusivos - de um ou poucos grandes investidores.

Isso porque fundos de varejo requerem, além da gestão, uma ampla gama de serviços para atender a seus inúmeros cotistas e permitir transações constantes. Por exemplo, um grande banco de varejo precisa dispor de uma rede de agências, funcionários, caixas eletrônicos, divulgação e propaganda para informar e atrair novos clientes, além de canais de comunicação com o público. Também tem de arcar com obrigações legais como a confecção de regulamentos e prospectos e com os custos de organização de assembleias gerais de cotistas.

Esses fundos também costumam ter tíquetes de entrada mais baixos que os de demais segmentos, o que significa que o investimento mínimo inicial é menor que R$ 20.000. Com isso, demoram mais para ficar maduros, e o retorno para o administrador vem apenas no médio ou longo prazo. No fim das contas, as taxas são geralmente mais altas quanto menor for o tíquete de entrada.

Taxa de performance só em fundos mais arriscados

Já a taxa de performance é um percentual fixo cobrado por fundos que operam renda variável, como os multimercados e os de ações. Os fundos de renda fixa voltados para investidores qualificados ou classificados como de longo prazo - com prazo médio de carteira maior que um ano e que invistam em ativos mais arriscados, como títulos privados - também podem ter taxa de performance. Os demais fundos de renda fixa, os referenciados DI e os de curto prazo, no entanto, não podem cobrá-la.

O desconto só é feito quando o rendimento do fundo ultrapassa o indicador de desempenho que o baliza, o chamado benchmark. A exceção à essa regra é quando o fundo dá prejuízo. Isso quer dizer que se o Ibovespa cair 40% e um fundo de ações perder 30%, não há cobrança de taxa apesar de o benchmark ter sido superado. No caso dos fundos multimercados, que aplicam em uma série de ativos diferentes, tanto de renda fixa quanto variável, o gestor pode definir seu parâmetro, que pode ser até mesmo o CDI. Segundo William Eid, especialista em finanças pessoais da FGV, os valores costumam ser de 20% quando o parâmetro é o CDI, e de 25% quando é o Ibovespa.

No entanto, ele faz um alerta: "Não existe comprovação de que fundos que cobram taxa de performance sejam mais bem-sucedidos do que aqueles que não cobram. Mas é um incentivo para a busca de melhores resultados." Na opinião de Mauro Calil, o ideal é que não haja taxa de performance, mas, se houver, não deveria ultrapassar os 20%. "O investidor só paga taxa quando supera o benchmark. Então por que o gestor não paga algo ou compensa o cotista quando o fundo vai muito mal? É injusto", diz.

Todos os fundos precisam divulgar claramente em seus prospectos e regulamentos o valor de suas taxas e todas as possibilidades de contratação de outros prestadores de serviço. Qualquer modificação nesses documentos, como o aumento ou a alteração do cálculo das taxas, deve ser aprovada pelos cotistas, reunidos em assembleia geral. No entanto, eventuais reduções nos valores podem ser feitas pelo administrador sem prévia autorização dos investidores.

É importante lembrar que o valor das taxas não deve ser o único fator considerado pelos cotistas ao escolher um fundo. Rentabilidade, risco, histórico de desempenho, perfil do investidor e idoneidade do gestor devem ser analisados com lupa. É aconselhável informar-se sobre todos os detalhes do fundo e evitar aqueles que cobram uma taxa baixa mas possuem uma reputação ruim no mercado. Da mesma forma que o prato de um chef pode proporcionar uma experiência gastronômica inesquecível, manter-se longe da comida de um ambulante na porta de um estádio de futebol também é importante para evitar uma intoxicação alimentar.



 
Referência: Portal Exame
Autor: Julia Wiltgen
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