No Brasil, há mais de 70 empresas que têm capital aberto, mas suas ações não são
negociadas diretamente na bolsa
No balcão existem ofertas de papéis de empresas de menor porteQuando uma
empresa decide abrir o capital e ofertar ações ao mercado, deve, em primeiro
lugar, registrar-se na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e definir qual será
a categoria de negociação de seus papéis. Como abrir o capital inclui despesas
maiores e exigência de maior transparência na divulgação de informações ao
mercado, a maioria opta por ter ações negociadas em bolsa de valores.
Entretanto, outra forma de permitir que investidores comprem e vendam papéis de
forma simples é por meio do chamado mercado de balcão.
De caráter mais informal que a bolsa de valores, as negociações no âmbito do
balcão são intermediadas por entidades como bancos de investimento ou corretoras
autorizadas a operar pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Há quase 40
instituições financeiras aptas a operar nesse mercado, que negociam papéis de 76
empresas. No balcão, negociam-se ações de empresas de pequeno porte e, portanto,
baixa liquidez.
O mercado de balcão organizado pode ser considerado um primeiro passo para
que uma companhia tenha ações em bolsa ,pois a regulamentação dos negócios ainda
é um pouco mais flexível. "A bolsa inclui uma regulamentação mais pesada da
CVM", diz Waldir de Jesus Nobre, superintendente da órgão regulador do mercado
de capitais.
A regulamentação mais flexível do mercado de balcão organizado também pode
ser considerada uma das desvantagens das negociações nesse ambiente. Na bolsa de
valores, por exemplo, existe um mecanismo de ressarcimento de prejuízo que, de
certa maneira, protege o pequeno investidor de possíveis equívocos na hora da
compra ou da venda do papel. "Quando o investidor passa a ordem de compra ou de
venda e a corretora, por algum motivo, demora a enviá-la ao mercado, podem
existir prejuízos na ocasião de uma oscilação nos preços entre o momento em que
se envia a ordem e o momento no qual ela é executada�, explica Nobre, da CVM.
Ou seja, no caso de uma "execução infiel de ordem" na bolsa, o investidor tem
o direito de reclamar e requerer a devolução da diferença de preço. A BM&FBovespa
analisa o pedido e emite um parecer. No caso do mercado de balcão, eventuais
problemas entre as partes envolvidas na negociação não são intermediados pela
bolsa. Os mecanismos legais convencionais são as únicas maneiras de resolver
algum conflito que possa vir a existir.
Contudo, por demandar uma maior transparência e dar mais segurança aos
investidores, o registro para operação na bolsa de valores é mais custoso para a
empresa. Se quiser abrir o capital e não ter de arcar com todos os custos
exigidos para transações em bolsa, operar apenas no balcão organizado pode ser
uma boa opção, segundo Nobre.
Como investir no balcão
Assim como na bolsa de valores convencional, para que se tenha acesso aos
valores mobiliários negociados no balcão, o investidor deve procurar uma
corretora de sua confiança e que opere neste mercado. "O que atrai investidores
ao balcão é que as empresas estão em busca de investimentos. Quando elas
crescerem e passarem a negociar papéis na bolsa de valores diretamente, são boas
as possibilidades de darem um bom retorno aos investidores", explica Clodoir
Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros.
Um dos problemas de negociar no balcão organizado é a falta de liquidez das
empresas, normalmente de menor porte. Segundo Vieira, é possível que o
investidor queira vender uma ação adquirida no balcão e não haja compradores
naquele dia.
Portanto, nada melhor que uma boa estratégia para proteger seus
investimentos. Como qualquer operação na bolsa de valores, investir por meio do
mercado de balcão também requer paciência e pensamento a longo prazo. O melhor
caminho é diversificar, ou seja, mesclar os investimentos entre empresas que
operam no balcão e as que negociam na bolsa de valores. Quanto mais
diversificada for a carteira de ações, maiores as chances de não ter prejuízos
se precisar de liquidez.
Com relação aos custos de se operar no balcão ou na bolsa de valores, hoje em
dia não há diferença. O investidor pode, inclusive, operar no balcão organizado
via home broker. Só é importante lembrar que uma empresa, ao se cadastrar e
abrir seu capital, escolhe em qual mercado quer ofertar seus papéis. Portanto,
uma empresa que se registra no balcão negocia ações apenas nessa modalidade.
Divisão
As operações podem ser feitas em balcão organizado ou não-organizado. As
negociações no balcão organizado contam com a presença de uma entidade
autorreguladora, a Cetip. Trata-se de uma sociedade independente responsável por
administrar e liquidar as operações financeiras desse mercado. É a Cetip que
assegura que as negociações estarão de acordo com a legislação.
Já a negociação em balcão não-organizado é totalmente informal. "O investidor
procura o potencial vendedor, através de uma corretora, que negocia diretamente
com ele. Mas ele não tem como saber o volume das negociações dos valores
mobiliários nem se os preços das transações esta de acordo com o mercado", diz
Keyler Carvalho da Rocha, professor de Finanças da Faculdade de Economia e
Administração da USP (FEA-USP).
Nesse caso, as operações não acontecem em um ambiente específico e não há
nenhum tipo de entidade regulamentadora. Ou seja, os contratos são feitos
diretamente entre as partes envolvidas. "Não há disclosure dos negócios e quem
compra fica a mercê do preço que lhe for oferecido na hora da venda, sem saber
se é justo ou não pois não há transparência", explica Nobre.
Além de correr o risco de pagar um preço irreal no papel, o investidor, ao
optar por vender as ações, terá de procurar uma corretora, que pode oferecer o
preço que achar mais pertinente. Caso a corretora saiba qual a demanda por esses
papéis, pode oferecer ao vendedor um preço acima ou abaixo do preço real e
ganhar com o spread da transação, que é a diferença entre o preço de compra e o
de venda do papel.