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Carreira / Emprego - Para atuar no Médicos Sem Fronteiras, é preciso ter mais que conhecimento técnico 

Data: 05/03/2011

 
 

Um profissional da área de saúde precisa saber lidar com pessoas e entender o que está por trás de cada diagnóstico. Um profissional que atua no MSF (Médicos Sem Fronteiras), por sua vez, precisa saber lidar com pessoas em situações e áreas de risco, com pessoas de culturas e línguas diferentes das suas, com recursos muitas vezes escassos e com uma realidade que ele pode nunca ter visto ou vivido.

O MSF é uma organização internacional médico-humanitária independente que foi criada em 1971 por médicos e jornalistas franceses que atuaram como voluntários na Nigéria dos anos 1960. Em grande parte, a organização é sustentada por doações privadas e, hoje, conta com mais de 28 mil profissionais de diferentes áreas que atuam em mais de 60 países, sendo 65% deles africanos. Os profissionais brasileiros somam apenas 100 desse total. Mas são muitos que a cada ano mostram interesse em trabalhar para a organização.

Para atuar em condições pouco favoráveis, o profissional precisa ter em mente o outro e não a si mesmo. “As pessoas que querem entrar para a organização precisam ser bastante flexíveis, precisam se transformar para suprir uma demanda. Até que ponto você aguenta isso tudo?”, afirma a psicóloga em saúde mental do MSF Ana Cecília Moraes, de 27 anos. “É preciso ter valores humanitários fortes”, diz.

Ana sabe do que está falando. Ela já participou de missões no Quênia, no Congo e no Haiti – países que, como se sabe, têm condições pouco favoráveis para atuação de qualquer profissional de saúde – e diz que o que mais a impactou foi o que viu ao seu redor. “Dentro da minha área de atuação, enfrentamos casos fortes de saúde mental no Brasil. Mas, nesses países, é o contexto que não favorece. E isso foi o mais difícil. Não dá para mudar a realidade de um país”, afirma.

Situações de emergência
A organização Médicos Sem Fronteiras trabalha, basicamente, por projetos, na medida em que surgem situações de emergência em determinado local. “A decisão sobre os locais onde teremos projetos é sempre baseada nas necessidades de saúde da população, e não em opiniões políticas, ideológicas ou religiosas”, disse a organização em nota.

Para abrir um projeto (ou missão), o MSF realiza uma avaliação do local e analisa as condições de saúde da população e as instituições e organizações presentes. Além disso, a instituição leva em conta critérios como a quantidade da população afetada por uma determinada doença ou fenômeno. Dessa forma, são atendidas vítimas de conflitos, catástrofes naturais, epidemias ou são atendidos locais em situações precárias de saúde.

Além disso, a organização também atua em campanhas de prevenção e implementa serviços básicos de saúde, principalmente para crianças e mulheres. Para esses trabalhos, não são recrutados apenas médicos e demais profissionais da área da Saúde, mas também engenheiros, profissionais da área administrativa, contábil e de logística.

Ana começou no MSF na área de Recursos Humanos, na sede da organização no Rio de Janeiro, para ajudar no recrutamento de profissionais para a organização. “É muito trabalho e é um trabalho de extrema pressão e é preciso estar preparado para isso”, afirma Ana. “O profissional precisa estar disponível para trabalhar fora do país por no mínimo um ano. Além de saber lidar com situações de conflito e catástrofe”, ressalta.

Claro que saber lidar com essas situações previamente é difícil. Mas, nessa hora, vale a experiência e o preparo do profissional, pois em determinados países é preciso esperar por qualquer coisa. Segundo a organização, ainda que o profissional vá trabalhar em uma área considerada pacífica, nunca terá um “risco zero” de sofrer algum ataque violento. “O MSF trabalha sempre com regras estritas de segurança que devem ser respeitadas por todos os que trabalham conosco. Mesmo assim, já houve casos de ataques contra nossas equipes”, disse a organização.

Como trabalhar na MSF
Para trabalhar na organização, é preciso atender alguns requisitos importantes, como experiência na área de atuação, disponibilidade para viagens, ótimos conhecimentos em inglês ou francês e, se possível, nas duas línguas. Para além das exigências técnicas, é preciso ficar atento às exigências comportamentais, como motivação, comprometimento, facilidade em trabalhar com equipes e pessoas de língua e cultura bem diferentes, capacidade de trabalhar e viver em condições muitas vezes básicas, além de estar em ótima condição de saúde física e mental e saber lidar com pressões.

Os candidatos que querem atuar na organização também escrevem uma carta motivacional, na qual explicam os motivos pelos quais querem atuar na organização. Além disso, eles também preenchem um formulário de candidatura, que muda de acordo com a área de atuação. Após a análise desses documentos, os candidatos ainda participam de uma reunião informativa, de uma entrevista individual e de exercícios individuais e em grupo sobre o trabalho da organização.

Todo esse processo ocorre na sede do MSF, no Rio de Janeiro, e os custos de transporte e moradia durante esse recrutamento ficam a cargo do candidato. Depois dessa avaliação, o profissional tem de esperar. E estar preparado. “Quando ele passa no processo, ele ainda não sabe para onde vai”, explica Ana. E nem pode escolher para onde vai. “Não sabemos onde pode ser aberto um novo projeto, então, não dá para escolher”, diz.

Até ser chamado para alguma missão, a organização sugere que o profissional organize sua vida. "[É preciso] preparar documentos administrativos, fazer uma consulta médica, tomar vacinas, ler sobre o projeto e sobre o MSF, organizar sua vida pessoal e profissional para poder sair do Brasil", considerou.

Os ganhos
Não é porque a organização é independente que os profissionais não ganham nada atuando nela. O profissional começa a receber um salário assim que assina o contrato para trabalhar em determinada missão. Depois que ele passa no processo, ele pode esperar de semanas a meses para ser convocado para uma missão. Nesse período, ele não é remunerado, pois não está prestando serviços para a organização. Somente a partir do momento em que ele é convocado, ele passa a receber.

Além do salário, que pode variar muito dependendo da missão e da experiência do candidato, o profissional do MSF também recebe uma ajuda de custo diária no país onde ele está, e que varia de acordo com o custo de vida desse país. A organização ressalta, porém, que o salário não deve ser a motivação principal daqueles que querem atuar na organização. Além da remuneração, ele também recebe os seguros (de vida, de saúde, de repatriação, para casos de incapacitação e roubos de bagagem). E, mesmo após o fim da missão, o seguro saúde ainda valerá por mais três meses. E todos os custos da missão são pagos pela organização.

Esses, porém, não são os principais benefícios que os profissionais que atuam na organização ganham. Atuar com situações desfavoráveis gera muitas vezes frustrações, mas é uma experiência como poucas. “É uma experiência que, com certeza, transforma”, avalia Ana.



 
Referência: InfoMoney
Autor: Camila F. de Mendonça
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