Estratégias de aplicação personalizada e troca de conhecimento entre
participantes estão entre as principais vantagens desta modalidade de
investimento
Investimento em equipe: aprendizado e lucro compartilhados entre todosNovatos
aprendem o básico sobre o mercado de ações. Investidores mais experientes afinam
seus conhecimentos financeiros. Balanceando integrantes com diferentes níveis de
conhecimento e permitindo uma maior ingerência sobre o rumo das aplicações, os
clubes de investimento protagonizaram uma verdadeira multiplicação no Brasil:
3.072 deles foram registrados até abril de 2010, reunindo 140.131 participantes
e um patrimônio líquido superior a 14 bilhões de reais. Há uma década, existiam
apenas 379 associações no país, quase um décimo do número atual.
Se a diminuição das taxas de juros se desenha no horizonte de longo prazo, a
expectativa é que a procura pelos clubes continue crescendo, especialmente entre
os que pretendem colocar mais do que um pé no mercado de capitais.
"Tradicionalmente, os clubes são considerados uma porta de entrada para a bolsa,
mas como seus participantes se conhecem, eles são também um veículo didático",
diz Tercia Rocha, professora de educação financeira da BM&FBovespa. "Essas
pessoas trocam informações e aprendem características do mundo financeiro,
sempre evoluindo como investidores."
A facilidade com que os clubes são criados se assenta em uma lógica menos
impessoal e mais amigável. Apostando na renda variável para incrementar os
rendimentos coletivos, os integrantes destes grupos dividem a experiência com
parentes e companheiros. Da pelada no final de semana à divisão da bancada no
trabalho, o vínculo pode derivar de toda e qualquer atividade. Mauro Calil,
consultor financeiro e membro do Instituto Nacional de Investidores (INI),
acredita que os benefícios vão além daqueles registrados com a valorização das
ações. "A existência desses laços aumenta o networking porque dentro de um clube
você fala de dinheiro com conhecidos de um jeito que não falaria na mesa de bar,
indicando desde seguradoras de carro a boas imobiliárias", afirma.
Dinâmica
Com a premissa de juntar pessoas com alguma ligação, os clubes devem ter no
mínimo três integrantes e no máximo 150. O número pode ser revisto para cima no
caso de funcionários de uma mesma entidade ou empresa. Seja qual for a
quantidade de membros, só não é permitido que um único indivíduo tenha
participação acionária superior à 40%.
Para que comece a funcionar, é necessário que os interessados procurem uma das
105 corretoras ou bancos de investimento que realizam o registro dos grupos
junto à Bovespa. Estas instituições são responsáveis pela parte administrativa e
legal do processo e fazem a gestão da aplicação caso os membros do clube assim
determinem. Também é possível eleger um dos participantes para assumir a tarefa,
colocando a escolha dos papeis e definição das estratégias de investimento
inteiramente a cargo do grupo.
De qualquer forma, os integrantes têm voz ativa na definição da quantidade de
dinheiro que será investida e no número de quotas negociadas. Assim como nos
fundos de ações, o conceito de condomínio permeia a aplicação, já que os
quotistas investem em conjunto, rateiam as despesas e dividem os lucros. A
diferença é que com uma participação mais ativa, o investimento proporciona um
meio termo entre a independência associada a quem administra o patrimônio via
home broker e a passividade de quem delega a tarefa ao gestor profissional de um
fundo.
Mais barato?
Os clubes de investimento não são obrigados a fazer auditorias independentes
ou convocação formal para assembleias. Tampouco divulgam o número de quotas
diariamente. Seus integrantes apenas recebem um extrato mensal com o
detalhamento de todas as movimentações realizadas, sendo que as informações
sobre a composição da carteira podem ser enviadas de ano em ano. Por todos esses
motivos, a redução dos custos, apregoada como um dos grandes benefícios dos
clubes em relação aos fundos de ações, de fato alivia os gastos - mas apenas
para as corretoras.
Segundo o consultor financeiro Mauro Calil, o custo fixo anual de um fundo de
ações gira em torno de 90.000 reais. Portanto, se a taxa de administração for de
4%, o patrimônio precisará ser de 2,25 milhões de reais apenas para o gestor
cobrir as despesas operacionais. Como os clubes têm administração mais simples,
parece natural concluir que as taxas seriam mais baixas. Não é o que acontece.
A instituição financeira que administra um clube de investimento não pode
propagandeá-lo com o intuito de arrebanhar mais participantes, já que isso vai
contra a ideia de vínculo entre os membros estabelecida pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM). Por isso, o patrimônio destes investimentos é, em geral,
muito menor. Enquanto algumas corretoras só aceitam aportes maiores que 500.000
reais, outras exigem um investimento inicial bem mais modesto, partindo da casa
dos 5.000 reais.
No fim das contas, com taxas que variam entre 2% e 4%, a média cobrada pelos
clubes se emparelha com a dos fundos de ações. "Em relação aos custos, dá na
mesma entrar em um clube ou em um fundo. O diferencial está no propósito do
investidor: comodidade com os fundos ou aprendizado com os clubes", sentencia
Calil.
Rentabilidade e tributação
A corretora Geração Futuro, uma das pioneiras no mercado, transformou 40
clubes em fundos no ano passado. "Clube de investimento para gente é só de
família ou empresa", resume Amilton Barbelotti, sócio e diretor da empresa. A
decisão vai de encontro às mudanças propostas pela CVM para coibir o número de
clubes que funcionam como verdadeiros fundos de ações. A principal medida é
diminuição do número máximo de integrantes para 50 membros, inibindo a união de
pessoas sem qualquer vínculo.
A proposta ainda está em análise, mas caso seja instituída, não irá mudar o
perfil dos investidores na Geração Futura, que conta com uma média de 10
participantes por clube. Hoje, são 230 grupos sob administração da corretora,
somando um patrimônio de cerca de 700 milhões de reais. A taxa de administração
é de 4% para clubes e fundos, sendo que o lucro das duas modalidades de
investimento também caminha lado a lado. "Em 12 meses, nosso fundo com melhor
performance registrou rendimento de 25%, enquanto nosso melhor clube apresentou
26,5%", afirma Barbelotti.
De maneira geral, clubes e fundos de ações também dividem semelhanças no
quesito tributário. Por lei, os clubes são obrigados a ter acima de 51% da
carteira em ações. Caso esse percentual passe de 67% - faixa que caracteriza a
composição de um fundo de ações - os rendimentos sofrem uma incidência de 15% de
imposto de renda, mas apenas no momento do resgate de quotas. Com mais dinheiro
em caixa, é possível receber mais lucros e dividendos.
Por outro lado, se tiver menos que dois terços da carteira em ações, o clube
será tributado da mesma maneira que os fundos de renda fixa: o Leão abaterá
semestralmente as quotas do patrimônio segundo alíquotas que variam conforme o
tempo do investimento. A tarifa mínima é de 17,5% para resgates realizados
depois de 2 anos, e a máxima é de 22,5%, para o dinheiro solicitado com menos de
seis meses de aplicação.