Veja dez motivos para optar pelos fundos imobiliários ao invés de comprar um
imóvel para depois alugá-lo
Shopping Pátio Higienópolis: fundo com valorização de 917% desde o lançamento
Muitos brasileiros já sabem que, para ficar sócio de uma empresa gigantesca como
a Vale ou a Petrobras, basta comprar suas ações na BM&FBovespa. Ao fazer essa
opção, o investidor torna-se sócio de uma companhia sólida e com enormes
vantagens competitivas, ganha uma fonte de renda ao receber regularmente
dividendos e juros sobre o capital próprio e, se tudo der certo, ainda obtém um
retorno com a valorização das ações. O que muito pouca gente sabe é que, da
mesma forma, também é possível investir em quotas de grandes empreendimentos
imobiliários - como o shopping Higienópolis, em São Paulo - para faturar com as
receitas de aluguel e a futura valorização do imóvel.
Esse tipo de investimento pode ser feito por meio dos fundos imobiliários.
Trata-se, é verdade, de uma aplicação ainda pouco popular no Brasil. Segundo a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), havia no começo de 2010 cerca de 5,6
bilhões de reais investidos em fundos imobiliários - contra mais de 300 bilhões
de dólares nos Estados Unidos. A previsão de especialistas é que, com a queda
das taxas de juros, esse número cresça exponencialmente no Brasil nos próximos
anos. Para quem acha que já é hora de começar a retirar parte do patrimônio da
segurança dos títulos públicos, especialistas dizem que há pelo menos dez
vantagens em comprar quotas de fundos imobiliários ao invés de adquirir um
imóvel para depois alugá-lo. Abaixo o Portal EXAME explica cada um desses
benefícios:
1 - Incentivos tributários: Quando alguém aluga um imóvel,
tem que pagar à Receita Federal até 27,5% do lucro obtido a título de Imposto de
Renda.Já no fundo imobiliário, há isenção de Imposto de Renda para os
rendimentos pagos aos investidores pessoa física que possuam menos de 10% das
quotas. O fundo também precisa ter mais de 50 investidores e suas quotas devem
ser negociadas exclusivamente na Bovespa ou no mercado de balcão organizado.
Como os administradores de fundos imobiliários sabem que aproveitar esse
incentivo tributário ajuda a atrair investidores, todos os produtos oferecidos a
pessoas físicas até hoje no Brasil se enquadravam nessas regras.
2 - Rentabilidade: "O fundo imobiliário tem uma
rentabilidade bem interessante quando comparada à dos investimentos diretos em
imóveis", diz Charles Ferraz, superintendente de investimentos do private bank
do Itaú Unibanco. Alguns dos primeiros fundos brasileiros deram resultados
extraordinários, como o do shopping Higienópolis, administrado pela Rio Bravo.
Esse fundo rendeu 917% entre seu lançamento em 1999 e janeiro de 2010, segundo
Martim Fass, diretor de investimentos imobiliários da Rio Bravo. Cada quota do
fundo valorizou-se de 100 reais para 335 reais. O restante dos ganhos foi obtido
com a cobrança de aluguéis de lojas e outras receitas do shopping distribuídas
aos quotistas. Mas também há casos em que o retorno decepcionou. Quem investiu
no fundo imobiliário Continental Square Faria Lima no lançamento em 2000 teve
suas quotas valorizadas de 1 real para apenas 1,12 real - portanto, muito abaixo
da inflação. Em geral, porém, quem investe não se decepciona. Recentemente a RB
Capital, empresa de investimentos no setor imobiliário formada por ex-executivos
dos bancos Pactual e Garantia, lançou o fundo RB Capital Renda 1 com uma
rentabilidade equivalente à inflação pelo IPCA mais 9,35% ao ano. Títulos
públicos indexados à inflação (as NTN-B) pagavam, na mesma época, IPCA mais
6,5%. "Qualquer fundo imobiliário que pague ao menos 2 pontos percentuais de
spread em relação aos títulos públicos indexados à inflação já começa a
apresentar uma relação de risco e retorno interessante", diz Charles Ferraz, do
Itaú Unibanco. Ele afirma, no entanto, que os fundos imobiliários devem ser
utilizados como opção de diversificação. Dentro de uma carteira de 1 milhão de
reais, por exemplo, seria interessante ter, no máximo, 10% aplicado em um fundo
imobiliário.
3 - Liquidez: Para aproveitar a isenção de IR, todos os
fundos imobiliários oferecidos a pessoas físicas no Brasil possuem quotas
negociados na Bovespa ou no mercado de balcão organizado. O número de negócios
com fundos imobiliários é bem menor do que o de ações de grandes empresas.
Nenhum dos 32 fundos negociados no mercado secundário registra movimentações
todos os dias. Ainda assim, a liquidez costuma ser bem maior do que a de uma
casa ou apartamento. "É raro que alguém interessado em vender um pequeno número
de quotas tenha de esperar mais de uma semana para encontrar um comprador", diz
Sérgio Belleza, consultor para fundos imobiliários. O grande gargalo ao aumento
da liquidez vem da própria estratégia dos investidores. A maioria deles costuma
ficar sem negociar as quotas de fundo por vários anos porque trata a aplicação
como uma espécie de plano de previdência - ou algo que vai lhe garantir uma
fonte de renda após a aposentadoria.
4 - Facilidade para fechar negócio: Comprar um imóvel
costuma ser bastante trabalhoso. É necessário conversar dezenas de vezes com
corretores, gastar sola de sapato visitando imóveis e ter conhecimento do
mercado para saber quando o preço pedido pelo vendedor é atrativo. Já os
investimentos do fundo imobiliário são definidos pelo administrador, que, em
geral, conta com uma equipe de profissionais especializados em encontrar boas
oportunidades no setor. Entre as empresas que possuem um bom histórico na
constituição de fundos imobiliários bastante rentáveis, estão a RB Capital, a
Rio Bravo, a Ourinvest, a Coinvalores e o Credit Suisse Hedging-Griffo. Para
comprar ou vender uma quota de um fundo, basta abrir uma conta em uma corretora
de valores. Além de negociar ações, derivativos ou títulos públicos, boa parte
delas também intermedeia negócios com quotas de fundos imobiliários. Segundo o
consultor Sérgio Belleza, investidores experientes preferem comprar as quotas na
época da constituição de um fundo porque muitas vezes é possível pagar um preço
mais interessante. A distribuição das quotas exige um esforço de captação de
recursos de investidores parecido com aquele feito pelas empresas em um IPO
(oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Os fundos publicam um aviso ao
mercado sobre as condições da distribuição, colocam o prospecto da oferta à
disposição dos investidores e fazem um road show para tirar as dúvidas dos
interessados. Segundo Marcelo Michaluá, diretor-executivo da RB Capital, é
importante sempre ler o prospecto para avaliar se o gestor planeja investir em
imóveis com as características desejadas. Se não houver nenhuma oferta inicial
interessante no momento, o investidor também poderá comprar quotas no mercado
secundário (Bovespa ou mercado de balcão organizado). As ordens de compra e
venda das quotas podem ser registradas via home broker ou pelo telefone de boa
parte das corretoras. A liquidação dos negócios acontece três dias depois de sua
realização - assim como no mercado de ações. Nos casos de clientes de algum
private bank, a transação é ainda mais fácil. Basta se aconselhar sobre o
negócio com o funcionário responsável no banco que ele mesmo poderá auxiliá-lo
posteriormente na aquisição das quotas.
5 - Diversificação: Ao comprar um fundo imobiliário, o
investidor pode comprar vários imóveis. Desde 2009, a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) permite que os fundos comprem também partes de
empreendimentos, letras hipotecárias, letras de crédito imobiliário, CRIs
(certificados de recebíveis imobiliários) e FIDCs (fundos de investimento em
direitos creditórios) imobiliários, entre outros ativos. O mais comum ainda é
que um fundo imobiliário destine todo seu dinheiro para a compra de um único
imóvel já construído. Em geral, trata-se de um shopping center, edifício de
escritórios comerciais, hotel, hospital, galpão ou centro de distribuição. No
entanto, a mudança na legislação permitiu que começassem a surgir no mercado
fundos com o capital diversificado entre vários bens. O risco é muito menor do
que o de colocar todas as economias pessoais em apenas um imóvel para depois
alugá-lo, já que, nesse caso, o proprietário do imóvel ficará sem nenhuma renda
se houver vacância - e ainda terá de arcar com despesas como IPTU e condomínio.
6 - Baixa taxa de administração: A maior parte dos fundos
imobiliários cobra uma taxa de até 0,5% ao ano dos quotistas. O percentual é
baixo mesmo quando comparado ao de investimentos de pouco risco, como os fundos
de renda fixa ou DI. A explicação está na natureza do investimento. A maior
parte dos gestores não costuma mexer no portfólio de ativos existentes num fundo
imobiliário. Ao contrário do que acontece no mercado de ações, dificilmente o
gestor vai se desfazer de um imóvel para investir em outro a todo momento. "Não
é uma gestão ativa", diz Marcelo Michaluá, da RB Capital. Por isso, o gestor
concorda em receber taxas baixas pelo serviço.
7 - Menos burocracia: Todos os fundos imobiliários
brasileiros são regulados pela CVM, que se encarrega de fiscalizar a atuação do
gestor e pode puni-lo em caso de mau cumprimento de suas funções, Já ao comprar
um imóvel, o investidor terá de arcar com o custo da transferência do bem para o
seu nome. Com exceção dos contratos de gaveta, que implicam em um risco para o
investidor, as transações de compra dos imóveis são registradas em cartório. A
escritura que vai comprovar a realização da transação costuma levar alguns dias
para ficar pronta. Além disso, o proprietário terá que pagar um imposto
municipal pela transferência do bem, o ITBI. Quando quiser se desfazer do
imóvel, muito provavelmente vai arcar com uma comissão de 6% de seu valor que
será paga ao corretor que conseguiu vendê-lo. Além dos custos, o comprador de um
imóvel também terá de tomar uma série de cuidados com a documentação e o estado
de conservação. Será necessário fazer consultas para descobrir se o imóvel não
está penhorado e se não tem dívidas de condomínio ou IPTU, por exemplo. Em caso
de casas, sempre é bom contratar um especialista para verificar a existência de
possíveis vazamentos ou rachaduras. Por último, pode ser necessário contratar um
seguro para garantir que o investimento feito não seja perdido em uma tragédia.
A única desvantagem do fundo imobiliário é psicológica. O investidor não terá a
escritura do imóvel guardada em sua casa, mas apenas um comprovante da aquisição
das quotas.
8 - Baixa volatilidade: O investimento em imóveis pressupõe
um risco pequeno de perder de dinheiro. Caso a economia brasileira não apresente
um bom desempenho nos próximos anos, é provável que o preço dos imóveis tenha um
crescimento pífio - ou até mesmo nulo. Mas a chance de que os imóveis registrem
forte desvalorização é muito pequena. Segundo um administrador de fundos
imobiliários que pediu para não ser identificado, as quotas tiveram uma
desvalorização média de 3% durante a crise iniciada em 2008. No mesmo período
considerado, a queda do Ibovespa chegou a 60%.
9 - Investimento inicial baixo: Se alguém tiver 100.000
reais e quiser comprar um imóvel em São Paulo, muito dificilmente poderá
adquirir um bem de primeira linha. No entanto, ao comprar quotas de um fundo
imobiliário, o investidor terá a chance de adquirir um dos melhores imóveis de
uma grande metrópole brasileira. Em geral, o investimento mínimo nos fundos
voltados para pessoas físicas é de 5.000 ou 10.000 reais. No entanto, já houve
fundos imobiliários oferecidos pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do
Brasil que tinham um investimento mínimo de apenas 1.000 reais.
10 - Flexibilidade: Com um fundo imobiliário, é muito mais
fácil de encontrar um imóvel adequado a seu perfil. Uma pessoa que investiu todo
seu patrimônio na compra de uma casa de 500.000 reais, por exemplo, terá de
vendê-la se precisar de 100.000 reais para pagar as despesas médicas do filho
sem tomar um empréstimo. Caso tivesse investido em um fundo imobiliário, no
entanto, essa mesma pessoa poderia vender apenas as quotas suficientes para
arcar com as despesas emergenciais. Outra vantagem está em casos de herança. "É
muito mais fácil simplesmente distribuir as quotas entre os herdeiros para que
cada um possa decidir o que fazer do que ter de definir o futuro de um imóvel em
conjunto com toda a família", diz Eduardo M. Gentil, da Trust Gestão
Patrimonial. Esses fundos também se adéquam bem a diferentes perfis de
investidores do setor imobiliário. Pessoas físicas em geral preferem investir em
shopping centers porque veem com um certo charme a possibilidade de ser donos de
parte desses empreendimentos. Também enxergam neles a chance de ter uma renda
continuadamente maior, já que as vendas dos shoppings costumam crescer mais
rápido do que a do varejo em geral. Shoppings e hotéis, no entanto, não
distribuem rendimentos uniformes. Os shoppings vendem mais no Natal e pagam
aluguéis mais polpudos nessa época. Já os hotéis vão muito bem na alta temporada
turística. Os fundos que investem em escritórios comerciais ou galpões, por sua
vez, costumam ser os mais regulares na distribuição da renda com o aluguel e
atrair os investidores mais conservadores.