O mercado de derivativos assusta, em um primeiro momento, pelo nome
complicado e pela percepção de que envolve operações com risco mais elevado.
Desmistificar o nome é fácil: um ativo ou instrumento financeiro cujo preço
deriva do valor de mercado desse mesmo ativo ou instrumento. Assim, um contrato
de dólar futuro, por exemplo, deriva seu preço do dólar à vista.
Em relação ao risco, este realmente está presente, mas não necessariamente em
todos os tipos de operações. Os derivativos também contam com estratégias que,
pelo contrário, eliminam ou diminuem o risco da carteira, como hedge, ou cujo
objetivo é arbitrar preços, operação esta que, além de fornecer lucro, não
apresenta perigo.
Por isso, é importante entender quais características definem cada perfil de
investidor - hedger, arbitrador, especulador - que atua neste mercado para
escolher a estratégia a seguir. E, em primeiro lugar, é necessário definir os
objetivos.
Hedge: um seguro
As operações de hedge, por exemplo, funcionam como um seguro de preço, em que o
participante protege, parcial ou integralmente, um determinado bem ou ativo
contra variações adversas de taxas, moedas ou preços, e por isso é considerada
uma operação em que o risco está ausente, embora o objetivo, neste caso, não
seja o lucro.
É comum, por exemplo, que empresas exportadoras façam contratos futuros de
dólar para se proteger de oscilações abruptas na cotação da moeda. Esta é também
a modalidade de acesso mais amplo aos investidores pessoa física, acredita Boris
Rocha, responsável pela área de clientes private da ICAP Brasil.
Em sua opinião, não necessariamente esse investidor irá fazer uma operação de
hedge dos papéis da Vale (VALE5) pensando em queda dos preços do aço no mercado
internacional. "Esse investidor tem um posicionamento de longo prazo", explica,
e está mais interessado em utilizar opções com ações para se proteger em
momentos de mercado incerto.
"São operações em que o investidor se posiciona em um determinado ativo,
esperando valorização, mas para se proteger ele faz uma posição em outro ativo
que tenha alguma correlação com o primeiro", define Bruno Freitas Miranda,
gestor de fundos da Mira Capital.
Esse investidor não quer se desfazer do papel, aponta Rocha, mas quer
aproveitar o mercado de opções para se proteger caso aquele papel não tenha o
desempenho esperado no curto prazo. Quem fez isso com a Petrobras (PETR4) neste
ano conseguiu diminuir a relação entre a desvalorização de sua carteira e das
ações no mercado à vista, no qual os papéis preferenciais da estatal registram
baixa de cerca de 24% em 2010.
No entanto, lembra Paolo Manson, diretor de varejo do WinTrade, ao mesmo
tempo em que se diminui o prejuízo, em caso de uma alta acentuada, por exemplo,
limita-se os ganhos.
Arbitragem: só para maiores
Nesse sentido, a arbitragem seria uma operação perfeita. A meta é o lucro, e não
a proteção, mas do mesmo modo não se assume nenhum risco. Como? "A atividade
consiste em buscar distorções de preços entre mercados e tirar proveito dessa
diferença ou da expectativa dessa diferença", define a BM&F Bovespa. Como se
sabe tanto o valor de compra quanto de venda, fica-se imune a riscos.
E, ao comprar no mercado em que o ativo está mais barato para vender no que
está mais caro, lucrando com essa diferença, os investidores funcionam também
como árbitros, porque com essa movimentação, em algum momento, os dois preços
tendem a equilibrar-se, formando um preço intermediário.
Parece fácil, mas Boris Rocha lembra que com a automatização dos sistemas, em
que os robôs enxergam esses desequilíbrios e automaticamente se aproveitam
deles, estas diferenças, ou spreads, entre os preços em diferentes mercados
sejam muito pequenas. A arbitragem de papéis aqui com ADRs (American Depositary
Receipts) fora do País, por exemplo, era uma modalidade comum que diminuiu
bastante, por causa dos custos, mas também porque os spreads estão muito
pequenos.
Nesse caso, como a operação, para que o lucro seja substancial, requer
capital maior, fica mais restrita aos investidores institucionais, como bancos e
fundos, exemplifica Mason, do WinTrade. "Um investidor pessoa física que tem R$
20 milhões e sistema de arbitragem não é encarado como tal", ressalta Mason.
Por isso, explica Rocha, da ICAP Brasil, esse é um tipo de operação
proibitiva à pessoa física, já que os custos, os mecanismos, a burocracia e a
necessidade de se ter uma sistema próprio automatizado para esse tipo de
operação o atrapalham.
Especulador é investidor?
Se a operação de hedge requer um investidor com perfil mais conservador e a
arbitragem perfil institucional, ou de grande porte, pode-se dizer que o
investidor que especula é condizente com perfil mais agressivo? Se a última
parte da afirmação está correta, é o questionamento se o especulador é um
investidor que faz com que a frase anterior seja colocada em xeque.
Para Miranda, gestor da Mira Capital, enquanto o investidor de Vale está
preocupado com o crescimento chinês e a demanda por minério de ferro, o
especulador compra os papéis apostando apenas na variação daquele papel em
função de uma notícia, com posições que não costumam durar um longo período de
tempo.
No entanto, em sua opinião, isso não quer dizer que o especulador não seja
investidor, é apenas a tese de investimentos que é diferente. Esse
questionamento, em suma, vem do fato de que o especulador tem interesse apenas
em ganhar com a diferença entre o preço de compra e de venda, sem nenhum
interesse pelo ativo em questão.
Embora muitas vezes a pessoa física se arrisque nesse tipo de operação,
especular requer um alto grau de conhecimento do mercado e de dedicação, já que
em geral as posições são abertas e fechadas no mesmo dia, os day trades. Por
isso, na maioria dos casos, os investidores mais inexperientes não costumam ser
bem-sucedidos quando decidem optar por essa estratégia. "A pessoa física que
entra para especular, que quer usar a bolsa como fonte de renda, tem vida útil
curta no mercado. O investidor permanece por mais tempo", declara Rocha, fazendo
uma clara distinção entre especulador e investidor.
No entanto, a BM&F Bovespa ressalta o papel que o especulador, ainda que mal
visto, tem para o mercado de derivativos: como esse perfil abre e fecha posições
com muita rapidez, dificilmente permanecendo com um contrato até o seu
vencimento, é ele o responsável por fornecer liquidez às negociações.
Além disso, lembra a instituição, quando um hedger faz uma operação, ele não
está eliminando o risco, e sim transferindo-o para outro participante: no caso,
o especulador. Mesmo que importante, tornar-se um especulador não é aconselhado
ao investidor pessoa física: Mason, do WinTrade, diz que aconselha aos seus
clientes, "se eles querem emoção", que no máximo 20% sejam destinados às
operações mais arriscadas, em que a aposta não se baseia nos fundamentos da
empresa, e sim em avaliações técnicas e impacto pontual do noticiário, conclui.