Adiar a realização de uma tarefa é algo comum na vida das pessoas, para
exemplificar esta questão basta responder a uma pergunta simples: quem nunca
adiou o preenchimento da declaração de imposto de renda?Embora pareça um
traço da nossa cultura, deixar para amanhã não é uma exclusividade dos
brasileiros, mas sim uma característica do ser humano que pode ser
potencializada ou atenuada por fatores culturais e/ou educacionais.
Poucas pessoas podem dizer que nunca deixaram para depois alguma tarefa
particularmente onerosa, seja física ou psíquica, mesmo tendo tempo de sobra
para realizá-la.
Procrastinação é o adiamento de uma ação. É o deixar para outro dia ou para
um tempo futuro. Os motivos desse adiamento podem ser justificados de diversas
formas, como medo do fracasso, mentalidade autodestrutiva, perfeccionismo, etc.
Até certo ponto, procrastinar pode ser considerado normal, mas exige uma atenção
especial quando se torna crônico, pois pode ser sinal de alguma desordem
psicológica ou fisiológica.
Existem dois tipos de procrastinadores, os relaxados e os tensos.
No grupo dos relaxados a questão é vista como uma situação que causaria
desprazer. O indivíduo, diante da necessidade de realizar uma tarefa no momento
em que esta é exigida, busca atividades mais prazerosas. Na pratica, acaba
deixando de lado tarefas importantes para buscar um prazer (muitas vezes fugaz)
para tentar fugir da realidade.
Quanto ao grupo dos tensos a procrastinação surge como uma ferramenta de
relaxamento, porém pouco eficaz. Por regra, frente a uma atividade percebida
como geradora de pressão, releva sua importância e adia sua realização e,
conseqüentemente, seu peso para o dia seguinte.
A compreensão básica (ou desculpa) por trás da dinâmica é que adiando a
realização é possível descansar e no dia seguinte estar mais relaxado e disposto
para enfrentar o desafio. Acontece que no dia seguinte a história se repete
deixando o prazo da conclusão da atividade cada vez mais curto. O circulo
vicioso que se forma aumenta o estresse além dos sentimentos de ansiedade e
frustração.
Estabelecido o ciclo, o que se encontra é uma sucessão de atrasos, perdas de
prazos e fracassos, enquanto desejos, objetivos e até mesmo sonhos pessoais são
deixados de lado, amontoados em uma pilha sob a etiqueta "amanhã eu faço".
Imaginar a quantidade de atividades e atitudes que acabamos deixando para
amanhã durante os anos da nossa existência, dá uma noção do prejuízo que
acumulamos.
Apenas para refletir melhor sobre a dimensão que o procrastinar pode
adquirir, quando deixamos de olhar apenas para as tarefas e nos voltamos às
pessoas, podemos também contabilizar o que deixamos de oferecer.
Por fim é preciso deixar claro que não é sensato confundir procrastinação (o
adiar da realização) com preguiça. Esta pode ser interpretada também como
aversão ao trabalho, negligência, indolência, morosidade, lentidão ou moleza. Um
conceito bem diferente.
Mas nem tudo está perdido. Compreender melhor como reagimos aos desafios e,
principalmente, agir de uma forma diferente quando eles se apresentam pode fazer
a diferença.
Este simples texto começou a ser escrito a cerca de três semanas e concluído
em menos de uma hora, quando percebemos que não havia absolutamente nada de
desagradável em escrevê-lo. Realmente não faz sentido adiar uma tarefa, um
abraço, uma desculpa ou um simples "eu te amo".