Encaminhar, desacomodar, capacitar e reter. Os quatro verbos são utilizados
pelo consultor organizacional Ricardo Piovan para relacionar os profissionais
aos comportamentos que eles têm diante da pressão exercida pelo líder no
ambiente de trabalho.
De acordo com o consultor, existem quatro tipos de comportamentos que podem
ajudar ou atrapalhar o desenvolvimento da carreira. Segundo Piovan, o
comportamento é o principal motivo que gera demissão e não os conhecimentos
técnicos ligados à área de atuação do profissional. “O que está impedindo as
pessoas de se desenvolverem não é a parte técnica, é o comportamento, talvez a
arrogância e a falta de iniciativa”, afirmou.
Tudo isso está ligado a um fator que cada vez mais ganha espaço e se valoriza
dentro das empresas: a resiliência. “A resiliência está ligada ao comportamento.
É a capacidade humana de passar por pressões, por dificuldades, e, mesmo assim,
continuar dando resultados positivos”, explicou Piovan. A resiliência foi o tema
discutido pelo consultor em palestra realizada para o ConviRH – Congresso
Virtual de Recursos Humanos.
Da Física para o RH
Piovan explicou que a palavra resiliência veio da Física e refere-se à
capacidade de um material de acumular energia e, após pressão, voltar ao seu
estado normal, sem deformações. Com os profissionais ocorre o mesmo, porém, os
que conseguem ser resilientes não voltam totalmente ao estado anterior.
A Psicologia apropriou-se do termo da maneira como o RH (recursos humanos)
entende hoje. “O profissional resiliente tem a capacidade humana de absorver a
pressão, superar isso e retornar ao seu estado normal, mas com mais
conhecimento”, ressaltou o consultor.
Parece simples, mas Piovan explicou que não é fácil atingir altos graus de
resiliência no trabalho. Primeiro porque não percebemos totalmente os nossos
comportamentos para corrigir o que está errado. “Nós percebemos apenas 10% de
nossas atitudes e controlamos apenas isso”, disse.
Não controlamos a maior parte, ou 90%, do modo como agimos e realizamos
nossas tarefas, exatamente porque não percebemos. “O problema é que nesses 90%
existe muito comportamento limitante”.
Além disso, a resiliência dependerá do perfil do profissional. “Algumas
pessoas demoram para superar essa pressão, e, com isso, demoram para dar
resultado”, afirmou o consultor. “O resiliente supera rápido a situação e, mesmo
nesse tempo curto, ele continua dando resultados positivos”, completou.
Cada profissional, uma ação
Segundo Piovan, existem basicamente quatro tipos de profissionais nas
empresas. O que não dá resultados e não busca conhecimento; o que dá resultados,
mas não busca aprimoramento; o que dá resultado e se deu conta da importância da
busca por aprimoramento; e o que dá resultados e busca frequentemente
aprimoramento.
No primeiro caso, o consultor emprega o verbo “encaminhar”. “Encaminhar para
fora de empresa. Um profissional com esse perfil não serve para trabalhar em uma
empresa que quer desenvolvimento”, disse.
Para profissionais que dão resultados, mas não buscam mais conhecimentos, o
consultor emprega o verbo “desacomodar”. “Esse profissional se limita a fazer
aquilo que ele conhece. Porém, uma hora, ele para de dar resultados”.
Principalmente quando tem de lidar com líderes e colegas que estão uma geração à
frente da dele. “Ele precisa ser convidado a sair da zona de conforto”.
Se esse tipo de funcionário se der conta da importância de se aprimorar,
então, ele se enquadra em outra categoria, a dos profissionais que dão
resultados e começaram a buscar conhecimentos. “Para ele, o verbo é capacitar.
Ele acordou. Há uma grande tendência desse profissional conseguir novos
resultados”. E migrar para outro patamar, o do profissional que dá resultados e
se aprimora constantemente.
Esse é o tipo de profissional que quer novos conhecimentos para melhorar cada
vez mais. “Ele busca fazer mais barato, mais rápido e com mais qualidade”,
explicou Piovan. Para esse profissional, o verbo é reter. “Eu preciso segurar
esse profissional na empresa, porque ele a faz crescer. Esse é o grande
talento”.
Quando o assunto é resiliência, entender esses perfis é entender a maneira
como o profissional se comportará diante da pressão. Quanto mais perto do verbo
“reter”, mais resiliente é o profissional.
De olho nas emoções
É importante você fazer uma autoanálise se quiser lidar bem com as pressões
no trabalho. Identificar em qual perfil você se enquadra e alcançar o patamar do
profissional que dá resultados e busca constantemente ser melhor requer também
saber lidar com os sentimentos que os problemas no ambiente de trabalho costumam
gerar.
“A pessoa resiliente sabe que o problema não é o problema, é a atitude que
ela tem diante dele”, comentou Piovan. O resiliente tem uma atitude positiva
diante do problema, mas, antes disso, ele lida com sentimentos como alegria,
tristeza, raiva e medo. “Tanto o resiliente como o não resiliente sentem essas
emoções. A diferença é que o não resiliente utiliza os aspectos negativos desses
sentimentos”.
Perceber os dois lados de cada sentimento como esses pode ajudar, porque, de
modo geral, o lado negativo costuma “travar” o profissional, enquanto que o
positivo faz o profissional agir. Piovan explica que o lado negativo do medo é a
paralisia. “O positivo é a precaução, que gera ação”.
Já a tristeza faz com que os profissionais se comportem como vítimas. “Há um
prazer nesse processo de vitimização, mas paralisa”. O lado bom desse sentimento
é a reflexão. Ela pode mostrar em que pontos estamos errando.
“A raiva é um dos sentimentos que mais vemos dentro das corporações”, disse o
consultor. O seu lado negativo é a busca por culpados. “ Enquanto você fica
procurando culpado, você não age”. Já o lado positivo é semelhante ao da
alegria. “A energia que a raiva movimenta faz com que o profissional aja de
maneira assertiva”.
Mudando o comportamento
Para o consultor, é possível mudar o comportamento a fim de ser mais
resiliente. Para isso, primeiro, é preciso perceber o sentimento que faz esse
profissional “travar”. “Busque o lado positivo da situação. Olhe para cada
comportamento errado e pergunte-se: o que eu preciso fazer para resolver isso?”.