O sucesso social e profissional é avarento: muitos tentam a sorte grande,
poucos conseguem. A bem da verdade, é menos arriscado teorizar sobre o sucesso
alheio do que tentar, por conta própria, a sorte grande. E, diga-se de passagem,
não deixa de ser uma atividade rentável já que seminários, filmes e livros de
autoajuda, e empresas líderes são sucesso de público e bilheteria.
Nesses produtos, os autonomeados especialistas na matéria, supostamente,
mostram, com ares de ciência exata, os caminhos percorridos por indivíduos e
organizações rumo ao pedestal da glória, em uma linguagem simples e atraente.
Melhor ainda: tudo a preços módicos, acessíveis aos bolsos daqueles que ainda
não chegaram lá. Quase de graça, se pensarmos nos incalculáveis riscos e
investimentos (materiais e psicológicos) que pessoas e empresas que os
inspiraram arcaram em suas respectivas trajetórias.
Os peritos no êxito alheio se deleitam em nos induzir a acreditar que subir
na vida é uma questão de fórmula e não um processo longo, metódico,
disciplinado, penoso e incerto. E, mesmo que alcançado, ele traz consigo o medo
de perder o que tão arduamente se conquistou. Parafraseando um dito famoso: "o
preço do sucesso é a eterna vigilância".
Não se iluda, caro leitor. O fato da "fórmula" de Bill Gates, Jack Welch,
Ricardo Semler e de outros tantos ter funcionado, não garante que funcionará
novamente. Muitas vezes a teoria foi inventada após a determinação do
protagonista da história e o acaso ter contribuído e surpreendido,
favoravelmente, ao próprio agraciado. Nesse momento, com a ajuda de um
consultor, biógrafo ou jornalista, cria-se um modelo teórico para explicar a
ocorrência.
Agora, seja a teoria pré ou pós fato, a questão é que, uma vez realizada a
façanha, ela entra para a lista das edições esgotadas. Outra chatice nessa
história é que pessoas e organizações bem sucedidas nos obrigam a seguir suas
pegadas, numa corrida em que a dianteira é sempre deles. Nessa trilha, quando
muito, nos transformamos no clone de alguém que tem maior charme e carisma, além
de direitos reservados.
A mesma regra se aplica à vida particular: ninguém será mais feliz, mais
realizado, mais invejado, mais rico, ou o que quer que seja, imitando (não seria
melhor invejando?) o seu vizinho, seu colega de faculdade ou seu rival no
trabalho. É como tentar cantar com a própria voz usando as cordas vocais de
outra pessoa.
Os gurus da felicidade alheia omitem esses aspectos, por isso, suas arengas
parecem contos de fadas que sempre terminam quando o mocinho e a mocinha se
casam. Sobre o dia seguinte paira o manto do silêncio. Afinal, qual é a graça de
pagar para ouvir que se você se esforçar muito, correr riscos incomensuráveis,
gastar o que tem e o que não tem, tornar-se um workaholic, além de
contar com um pouco de sorte, muito suor e lágrimas, talvez você chegue lá? Temo
que nenhuma. Salvo se a taxa de masoquistas tenha aumentado nos últimos anos.
Diga ao estimável público que basta sonhar, ter uma visão grandiosa e apostar
que querer é poder e "abracadabra!". A mensagem pode ser falsa, mas é sedutora e
dispensa grandes reflexões. Não quero ser o desmancha prazeres, mas o sucesso
não consiste em ser igual a fulano ou beltrano. É ser diferente, um ponto de
referência original.
Objetivos e vontade lhe darão clareza sobre o destino, o percurso e a
motivação necessária para iniciar a jornada. Certeza que arribaremos no porto
almejado é algo que só quem sobreviver descobrirá. Portanto, é preciso estar tão
apaixonado pela viagem com suas alegrias, descobertas, decepções e percalços,
quanto pelo destino. Tente enxergar a vida como um velho marinheiro que conclui
que triste é o homem que chega e então direi, apesar das tormentas, "bon
voyage!"