1. INTRODUÇÃO
Feedback é o processo em que uma pessoa transmite a outra sua percepção a
respeito do comportamento desta última. O fornecimento de feedback é importante
na construção de um bom relacionamento interpessoal. Quando uma pessoa pede
feedback a outra, o feedback ajuda a pessoa que o recebe a adquirir uma visão
mais realista de si própria e a ajustar seu comportamento de modo a favorecer
relações mais amistosas.
Não se deve esquecer, porém, de que, ao fornecer feedback, não se pode ferir
a auto-estima do receptor. É preciso, portanto, examinar de que modo o feedback
deve ser fornecido de modo a não agredir o interlocutor.
2. JULGAMENTOS AUTOMÁTICOS – O RESPEITO AO OUTRO
Uma causa importante de dificuldade no relacionamento interpessoal é que
todos nós somos “rápidos no gatilho”, isto é, costumamos julgar as ações dos
outros de forma natural, automática, sem pensar, como se fôssemos juízes do
comportamento alheio. Formulamos rapidamente um julgamento sobre a pessoa tão
logo tomamos conhecimento do que ela fez. Isso ocorre porque a ação do outro nos
provoca emoções, mesmo que o ato não seja dirigido a nós. A rapidez no ato de
criticar faz com que, muitas vezes, a crítica seja equivocada.
É preciso compreender de uma vez por todas que:
- Ninguém é juiz de ninguém – ninguém nasceu com o direito de criticar
quem quer que seja, ninguém tem autoridade natural para isso. A única
exceção são os julgamentos morais, em que avaliamos os atos alheios do ponto
de vista ético;
- É falta de respeito criticar alguém para exibir a própria inteligência,
para se sentir importante ou superior, ou para menosprezar o outro;
- A crítica só é legítima quando o objetivo de quem critica é (a) ajudar a
outra pessoa ou (b) defender a própria auto-estima;
- Quem quer criticar alguém deve fazê-lo sem ofender o outro.
3. A EMOÇÃO ATRAPALHA O FEEDBACK
Uma das razões pelas quais é difícil dar um feedback adequado é que, em
geral, quem dá o feedback está dominado pela emoção. O caso mais típico é aquele
em que sou dominado pelo ódio em virtude de algo dito pelo outro que me ofende
ou humilha. Mesmo quando não sou criticado nem insultado, alguém pode fazer algo
que eu não aprovo. Nesse caso, posso ser tomado por algum tipo de sentimento,
por exemplo, de desprezo ou raiva em relação ao outro, sentimento que me leva a
criticá-lo de um modo que agride sua auto-estima. Se alguém emite uma opinião
que julgo errada, posso dar-lhe feedback dizendo-lhe que está errado
simplesmente para mostrar minha inteligência ou para me sentir importante ou
superior. Em todos esses casos, provavelmente meu feedback será agressivo e
ofensivo.
4. JULGAMENTO x COMPREENSÃO
Não se pode julgar os atos de uma pessoa sem conhecer suas razões. O
comportamento que parece criticável à primeira vista pode se tornar aceitável
quando se descobre os motivos que levaram a pessoa a agir daquele modo. Assim,
sempre que eu tomar conhecimento de um ato aparentemente reprovável, uma atitude
mais prudente seria perguntar: “Por que ele (ela) fez isso?” Ao formular essa
pergunta, eu “esfrio” minhas emoções e me obrigo a suspender o julgamento até
conhecer as razões da outra pessoa. Quando procuro saber os motivos de um
indivíduo, eu tento compreender essa pessoa em vez de julgá-la. Existe,
portanto, uma atividade que sempre deve vir antes da formulação de qualquer
crítica: é a compreensão dos motivos do outro.
A compreensão das razões da outra pessoa envolve uma habilidade chamada
empatia. Empatia é a capacidade de se pôr no lugar dos outros e de compreender
como se sentem. A pessoa empática tenta colocar-se no lugar da outra pessoa para
ver as coisas como ela as vê, tenta entender como a outra pessoa está
raciocinando, como ela está se sentindo, como certas coisas a estão afetando e a
estão levando a agir de determinada maneira.
5. ACEITAÇÃO DO OUTRO
Um fator crítico no relacionamento interpessoal é a capacidade de as pessoas
se aceitarem mutuamente como são. Todos têm que aceitar o fato essencial de que
os seres humanos são diferentes uns dos outros. Ainda que a convivência se dê
entre pessoas que nasceram e vivem no mesmo local, possuem a mesma idade e são
da mesma classe social, entre elas haverá diferenças de personalidade,
percepções, atitudes, valores, habilidades, aptidões, conhecimentos e
experiências anteriores, enfim, diferenças no modo de ser.
A incapacidade de aceitar o outro produz duas conseqüências: primeiro, faz
com que o indivíduo inconformado critique o outro a todo momento, procurando
forçá-lo, de todas as maneiras, a mudar seu modo de ser para adaptar-se ao
primeiro; segundo, faz com que as mais ínfimas diferenças sejam motivo para
grandes conflitos, o que torna impossível a convivência.
Aceitar o outro como ele é significa reconhecer que minha maneira de ser não
é melhor que a dele, que nossas características são simplesmente diferentes, e
que ele, portanto, tem o direito de ser diferente de mim tanto quanto eu tenho o
direito de ser diferente dele. Aceitar outra pessoa como ela é significa aceitar
pacificamente seu comportamento diferente, sem se aborrecer, sem brigar nem
discutir.
Aceitação significa considerar o outro indivíduo como igual, tratando seu
comportamento, suas idéias e sentimentos com sincero respeito. Isso não
significa concordar com ele em tudo mas tão somente aceitá-lo. Significa
reconhecer que ele, tanto quanto eu, tem direito a idéias, valores e atitudes
próprios.
É inútil criticar alguém quando a crítica tem o objetivo de fazer com que o
outro mude sua maneira de ser. Assim, antes de criticar eu devo verificar se o
comportamento que eu desejo mudar de fato pode ser mudado.
6. CRÍTICA DA PERSONALIDADE x CRÍTICA DO COMPORTAMENTO
Uma das formas mais comuns pelas quais as pessoas dão feedback ao outro é
fazendo um comentário genérico sobre a própria pessoa, comentário que expressa
uma opinião negativa sobre o receptor. Esses feedbacks geralmente começam com
uma das seguintes frases: “Você é ...” (Por ex.: “Você é estúpido”), “Você não é
...” (Por ex.: “Você não é simpático”), “Você tem ...” (Por ex.: “Você tem mania
de se intrometer”), “Você não tem ...” (Por ex.: “Você não tem espírito de
equipe”), “Você sempre ...” (Por ex.: “Você sempre atrapalha”), “Você nunca ...”
(Por ex.: “Você nunca presta atenção”).
Embora comuns, esses feedbacks são extremamente agressivos. Trata-se de
comentários que agridem a personalidade da pessoa, que tentam desvalorizá-la
como ser humano e, assim, ferem sua auto-estima. Por outro lado, essas críticas
tendem a provocar ressentimento e comportamento defensivo, sendo em geral
ineficazes para conseguir mudanças de comportamento, pois o receptor
provavelmente concentrará suas energias em rebater as “acusações” e defender seu
ego. Essas formas de feedback são, portanto, inaceitáveis, além de inúteis.
Uma outra forma de feedback consiste em criticar não a pessoa em si, mas seus
atos e os respectivos resultados. Julgar os atos de alguém significa descrever
os fatos, ou seja, relatar com a maior exatidão possível o que a pessoa fez ou
deixou de fazer, eventualmente comparando seus atos com o que se esperava que a
pessoa fizesse. Essa é uma maneira aceitável e eficaz de dar feedback.
Por exemplo, não devemos dizer “Você é grosseiro”, pois esse feedback
constitui uma crítica à personalidade, à maneira de ser do outro, o que agride
sua auto-estima. O correto é descrever o que a pessoa fez concretamente, como
por exemplo: “Várias vezes você cortou nossa palavra e não nos deixou terminar
de falar”.
Descrever o comportamento do outro, além de respeitoso, é mais útil do que
criticar a personalidade alheia. De fato, no exemplo acima, dizer “Você é
grosseiro” não ajuda em nada o receptor, pois trata-se de uma opinião vaga e
subjetiva. Por outro lado, se dissermos “Você cortou nossa palavra”, o receptor
saberá exatamente o que fez de errado e o que fazer para corrigir seu
comportamento: deixar de interromper os outros.
7. FEEDBACKS ARROGANTES
Os feedbacks que fazem o emissor parecer arrogante basicamente são de dois
tipos.
7.1 Superioridade x Igualdade
Se o emissor transmitir a mensagem de que ele, de algum modo, é superior ao
receptor, o emissor parecerá arrogante e fará o receptor adotar um comportamento
defensivo. Esse tipo de feedback traz implícita a idéia de que o receptor é uma
pessoa inferior e que, portanto, não tem utilidade. O receptor, então, entrará
em uma batalha com o emissor para provar o contrário.
Ao contrário, se o emissor, apesar de ter mais capacidade, habilidade, status
ou poder que o receptor, emitir um feedback tratando-o como igual, convidando-o
a participar, o receptor se sentirá menos ameaçado e sua atitude defensiva se
reduzirá. Isto acontece, por exemplo, quando o receptor percebe o feedback como
uma mensagem do emissor pedindo sua ajuda ou opinião. Veja-se os exemplos
abaixo:
Feedback inadequado |
Feedback adequado |
Sou experiente, por isso ouça o que eu digo sobre aquela
idéia |
Você acha que aquela idéia vai funcionar? |
Estas normas estão corretas porque eu as revisei
cuidadosamente |
Quero saber sua opinião sobre estas normas |
7.2 Certeza x Dúvida
Os indivíduos que parecem saber de tudo, que nunca têm dúvidas, que têm
resposta para qualquer pergunta, que sempre têm certeza das coisas, que não
admitem ser contestados, que têm todas as informações e que acham que estão
sempre certos, tendem a colocar os outros na defensiva. Esse tipo de indivíduo,
que costuma ser chamado de “dono da verdade”, demonstra desprezo pelas idéias e
opiniões alheias, razão pela qual é visto como arrogante e antipático. O “dono
da verdade” costuma dar feedbacks usando sentenças afirmativas ou negativas para
exprimir suas certezas ou para condenar as idéias e opiniões dos outros. O “dono
da verdade” transmite a idéia de que todos os outros são “ignorantes” e não têm
nada de útil ou interessante a dizer.
Quando o emissor afirma suas verdades de modo dogmático, que não admite
contestação, ele transmite a mensagem de que vê a si mesmo como professor,
considerando todos os outros como aprendizes. Assim procedendo, ele faz os
ouvintes experimentarem sentimentos de inferioridade, o que produz um
comportamento defensivo.
Em contraste, a postura defensiva do receptor será reduzida se o emissor, em
vez de expressar certeza, exprimir uma dúvida ou transmitir a idéia de que
deseja fazer uma experiência para ver o resultado que será alcançado. Nesse tipo
de feedback, o emissor não rejeita desde logo as idéias do receptor, mas apenas
exprime suas dúvidas em relação a elas, usando, em geral, sentenças
interrogativas. Se o emissor colocar sua afirmação como provisória, sujeita a
contestação, se ele admitir implicitamente que pode estar errado e adotar uma
atitude investigatória de busca da verdade, ele provocará menos defensividade e
atrairá a simpatia do receptor. Seguem dois exemplos.
Feedback inadequado |
Feedback adequado |
Tenho certeza de que o resultado está correto |
Posso ter cometido um erro. Vamos conferir os cálculos ? |
Seu relato do caso está errado |
Eu ouvi um relato do caso diferente do seu |
8. CRÍTICA AO CHEFE
Vamos examinar dois casos: as críticas a ações e decisões tomadas pelo chefe
e a eventual reação a um chefe grosseiro, agressivo e desrespeitoso.
8.1 Crítica a ações e decisões da chefia
Não se deve criticar uma decisão tomada pela chefia, mesmo que consideremos
errada tal decisão. Afinal, o chefe está simplesmente exercendo suas
prerrogativas e é responsável pelas decisões que tomar. A crítica a uma decisão
superior só deve ser formulada se o chefe pedir explicitamente nossa opinião e
tivermos certeza de que ele está disposto a ouvir um julgamento negativo. Mesmo
nesse caso, a crítica deve ser feita com todo o cuidado, descrevendo apenas os
fatos e justificando nossa opinião.
8.2 Reação a um chefe desrespeitoso
Aqui existem duas perguntas a responder: 1ª) O funcionário deve dar feedback
ao chefe sobre sua falta de respeito? 2ª) Em caso afirmativo, como dar o
feedback?
1. O funcionário deve dar feedback ?
A decisão dependerá de como é a empresa em que ele trabalha. A organização se
importa com a ética? A empresa possui canais para que os funcionários apresentem
queixas e reclamações sobre comportamentos antiéticos no ambiente de trabalho,
como por exemplo, agressividade por parte dos gerentes em relação à sua equipe?
Os funcionários podem recorrer a uma instância superior se considerarem injusta
uma decisão de seu gerente? A organização protege os funcionários contra
retaliações por parte dos gerentes? Se a organização levar a sério a questão da
ética, será menor o risco de o funcionário sofrer retaliação por parte do chefe
se der feedback a este.
2. Em caso afirmativo, como dar o feedback?
Se decidir dar o feedback, o funcionário não deverá dizer ao chefe algo como
“Você é grosseiro”, pois isso significaria agredir sua personalidade.
A meu ver, a maneira correta de o funcionário dar feedback ao chefe seria
dizer-lhe mais ou menos o seguinte:
“Você me repreende em público, grita comigo e dá murros na mesa quando fala
comigo. Isso é falta de respeito. Por favor, não faça mais isso.”
Neste caso, o funcionário deverá estar preparado para ir às últimas
conseqüências se a chefia reagir mal ao feedback.
9. CRÍTICA AO SUBORDINADO
O poder hierárquico não dá ao chefe o direito de agredir o subordinado. A
crítica, principalmente em situações de avaliação de desempenho, sempre deve ser
feita com respeito. Respeitar o subordinado significa criticar não sua pessoa,
mas apenas seu desempenho, isto é, a maneira como ele se comporta no trabalho
bem como os resultados que ele obtém.
10. CRÍTICA AOS PARES
Na crítica a pessoas de mesmo nível hierárquico, valem todas as recomendações
gerais feitas nos itens anteriores.
11. CRÍTICA A UM CLIENTE
Em que caso um fornecedor poderia pensar em criticar o cliente? Talvez se
considerar que este tomou uma decisão errada quando decidiu comprar do
concorrente. Neste caso, porém, criticar o cliente parece uma idéia ruim.
Suponhamos que um vendedor faça uma visita a um cliente potencial. Se o
cliente lhe comunicar que adquire rotineiramente mercadorias de seu competidor,
o vendedor poderá ficar tentado a desqualificar o produto do concorrente por
acreditar que, desse modo, conseguirá atrair o cliente para sua empresa. Essa
estratégia, todavia, poderá produzir efeitos opostos aos esperados. Primeiro,
desqualificar o produto do competidor significa criticar, indiretamente, a
própria capacidade de decisão do cliente, e isso poderá ofendê-lo. Segundo, a
desqualificação do competidor poderá ser percebida pelo cliente como uma atitude
mesquinha, como uma manifestação de inveja e de falta de respeito do fornecedor
em relação ao concorrente. O resultado será a deterioração da imagem do vendedor
e de sua empresa perante o cliente.